Weslei 08/06/2021
O tempo psicológico utilizado por Sabino é fabuloso. A intertextualidade mantida com Dom Casmurro, sem no entanto perder a originalidade, é um fator de admiração.
A síntese proposta pelo autor no início do livro é uma importante chave para compreendermos o enredo: a vida de Dimas poderia se resumir aos dois anos em que esteve em um relacionamento com Isabel, e nesse período sempre foi ela na frente e ele atrás. Ao longo do livro percebemos o que Sabino quis dizer com isso. Suas memórias se voltam com grande curiosidade e amargura para essa época, não apenas porque os acontecimentos se tornam uma incógnita em suas lembranças, mas porque sua condição reativa perante a vividez, intensidade e pro-atividade de sua amada o assustou a ponto de tentar transformar-se em algo que nunca foi - Dimas lembra-nos no início de sua história que é aquele cujo qual prefere entregar-se mesmo sem ter culpa, não sendo nunca o subversivo da qual tornara-se como forma de se sentir em igualdade com Isabel.
O ponto alto da trama, e que me fez regozijar-se em ansiedade - muito por um sentimento de compreensão com o que Dimas sentia - foi, sem dúvida, a forma com que relatava a sua condescendência para com as atitudes de Isabel mesmo isso o incomodando, apenas por amor e para não confronta-la. Seu comportamento, ora fazendo-se desapercebido, ora vigilante, o colocava como mero espectador em sua própria vida.
Ambiguidade, ciúmes, crimes banais. Muito jogo psicológico envolvido nas reflexões internas de Dimas, perdido em sua incapacidade de protagonizar o relacionamento que tanto desejava. Foi traído? ele roubou ou não roubou? mero detalhe diante do explosivo questionamento: foi amor ou um mero jogo?
Talvez Garcia estivesse certo: a maneira mais fácil de fugir da guerra é entrando nela.