Omeros

Omeros Derek Walcott




Resenhas - Omeros


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Italo306 03/04/2020

Aonde se encontra a identidade de um país que já foi Francês, britânico e cujo povo foi africano? É esse dilema e essa identidade que Derek Walcott tenta encontrar em sua epopéia, um poema que figura como um clássico latino-americano único!
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Utilizando-se de arquétipos gregos, Walcott se baseia em Homero para fundar seu poema. O lendário poeta grego, pobre, sem origem, condenado a vagar pelo Mediterrâneo sem destino e a contar suas histórias é o modelo ideal para todos os personagens que habitam a obra: pescadores que aparecem como Aquiles e Heitor, uma Helena causadora de discórdia, um Philoctetes amaldiçoado e um sem número de Ulisses vagando sempre em busca do lar.
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A trama foca no dia a dia de pescadores na ilha de St Lúcia (considerada a Helena das Antilhas, graças às diversas disputas entre franceses e britânicos por ela), de outros nativos sempre a mercê dos turistas, em cidadãos britânicos naturalizados, e em toda uma paisagem que deve tudo que é a autoridade perpétua do mar.
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Aparentemente simples, o real objetivo de Omeros é mostrar a ausência de raízes que esses personagens tem, justamente por não ter uma pátria. O velho militar britânico que sente falta de seu império, os negros que vivem em prol da pesca e do turismo e sentem falta de uma África ancestral, e do próprio Derek que não se sente em casa nem entre brancos e negros. E a grande epopeia é a busca de cada um desses personagens por suas raízes, por algo que os identifique, pela busca de um lar.
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Com sua liberdade poética a obra mescla entre o real e mágico, em viagens pelo inferno ( uma vez que a ilha tem suas próprias fontes sulfurosas), pelo reino ancestral dos negros, pelas guerras da Grécia, assim como pela dor de outros imigrantes do mundo.
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Nesse mundo de peregrinos e abandonados, o único a possuir raízes é o Mar, que é sua própria pátria, inexorável telespectador da tragédia de Gregos e Caribenhos!
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Jane 23/12/2017

Omeros
Santa Lúcia é o 8° país que estou ?lendo? e escolhi o autor Derek Walcott por ele ser um ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1992.
Omeros é a história dos moradores da Ilha de Santa Lúcia, país da América Central contada em verso e não em prosa como estou acostumada. Os personagens são inspirados nos personagens criado por Homero, mas com as características do povo caribenho.
Santa Lucia foi inicialmente colonizada pelos espanhóis, seguido por uma disputa entre holandeses, franceses e ingleses. Essa observação histórica é importante, pois o livro é basicamente uma busca por identidade. Os personagens principais são negros, descendentes dos africanos trazidos como escravos, que falam inglês ou um dialeto derivado do francês. Afinal quem eles são?
Os personagens principais são os pescadores Achille e Hector que assim como aconteceu em Tróia, lutam pelo amor da empregada Helena, embora se admirem mutuamente:
? Hector correu chapinhando
No raso em meio ao chuvisco, para onde estava Achille,
No alto o facão??
A fúria que ele sentia contra Hector era vergonha?.esses pescadores duelavam por uma sombra, e seu nome era Helen?

Também temos Plunkett e Maud, um casal britânica que mora na ilha. Ele é um oficial aposentado, representa Ulisses em sua busca por identidade e Maud, Penélope que tece sua própria mortalha. Eles são os patrões de Helen, que rouba um vestido amarelo,no qual desfila e seduz toda a ilha.
Outro personagem é o Sete Mares, pescador cego que representa o próprio Homero, escritor de Ílíada e Odisseia.

Vou colocar alguns trechos que achei interessante e que mostram um pouquinho dos versos desse livro e, por não saber como resenhar uma poesia:

Exploração da terra ainda povoada por indígenas:

? Árvore! Você poderá ser uma canoa! Ou então não!
Os anciãos barbados suportavam a dizimação de sua tribo sem proferirem uma sílaba sequer daquela língua que haviam falado como uma nação.?

Furacão :
? O Ciclone, uivando porque uma das lanças de uma palmeira voadora
Por pouco não vazar seu único olho?
...o Relâmpago, seu mensageiro com pernas-de-pau, risca o céu com seu passo bifurcado?.
Sua mulher- a Mãe Chuva- lança baldes da sacada de sua casa lá em cima?.

Passado x presente
?Esta ilha de St. Lúcia?.caminha para uma tragédia que não tem tamanho?.um cruzeiro de volta à escravidão em navios que parecem hotéis, onde vocês podem permanecer a não ser como garçons, arrumadeiras.? (o país vive muito do turismo).?

?Segui uma andorinha-do-mar para os dois lados deste texto;
Seu hífen costurou a ambos, como as engrenantes bacias de um globo em que uma metade se ajusta à outra num equador?..
Um hemisfério, o Novo Mundo, feito exatamente como o Velho: metades de um mesmo cérebro?.
O bater-de-asas dessa ave leva estas ilhas para a África; ela coseu o rasgo do Atlântico com uma linha de costura, o rasgo na alma.?
Marcos 31/07/2018minha estante
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Letícia 27/12/2018

Tragédia grega no Caribe
Omeros é a obra mais famosa do ganhador do Nobel de literatura de 1992, o santa-lucense Derek Walcott. Este livro, publicado originalmente em inglês, contém um longo poema inspirado na tragédia grega da Ilíada, mas que discorre sobre a realidade dos caribenhos de Santa Lúcia e as cicatrizes deixadas pelo colonialismo, refletindo sobre a identidade de seu povo.
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Luiz Pereira Júnior 14/04/2022

O colossal Homero, o enorme James Joyce, o grande Derek Walcott...
Poesia nunca é uma tarefa fácil. Tanto para quem faz quanto para quem lê.

Não, retiro o que disse. Ou melhor, o que escrevi.

Alguns poemas são realmente fáceis tanto para quem lê quanto para quem os escreveu, chegando ao clichê, ao lugar-comum ou ao meramente simplório. Já outros parecem que foram tirados a fórceps da cabeça do autor e precisariam ser marretados para dentro do cérebro do coitado do leitor, ocasionando-lhe verdadeiros traumas por conta de uma poesia hermética, indecifrável, incompreensível e francamente inútil...

Não acredito que essas descrições sirvam para “Omeros”, mas devo dizer também que bastante do mérito se deve ao prefácio de Paulo Vizioli ao fazer um trabalho exemplar destrinchando para o leitor as passagens mais incompreensíveis aos mortais comuns. Sem ser condescendente, Paulo Vizioli oferece uma aula de como convidar o leitor a enfrentar os meandros do raciocínio de um poeta universal, sim, mas francamente local, com suas idiossincrasias obscuras mas também com a luminosidade de sua ilha natal. Obrigado, Paulo Vizioli.

O resumo do poema se encontra pode ser lido em todas as resenhas. É basicamente a transformação da “Odisseia”, de Homero” para um longo poema (que também busca ser épico no sentido literário do termo) sobre o povo, o território, a miscigenação, o sincretismo, a beleza, os terrores, o colonialismo, o cotidiano, o (des)enraizamento pátrio, representados em seus heróis- protagonistas: os pescadores dessa pequena ilha, que se torna um microcosmo universal.


Sim, qualquer um que leia “Omeros” será informado que James Joyce já transmutou Ulisses em um ser humano comum em um dia comum na sua amada Irlanda e uma das mais belas passagens de “Omeros” é justamente essa gratidão, esse reconhecimento de Derek Walcott por seu antecessor-monstro literário. A bem da verdade, não é sempre que se encontra um grande autor reconhecendo a herança literária que influenciou e desenvolveu seu próprio talento... O colossal Homero, o enorme James Joyce, o grande Derek Walcott...

Resta aguardar quem será o próximo a recontar a história de Ulisses/Odisseu, o herói que existe em todos nós e o ser humano com suas falhas e belezas que é nosso próprio retrato há milênios.

Finalizando, eis a pergunta se sempre: vale a pena ler “Omeros”? Sim, mas sem pressa, sem desespero, como se passeia em uma praia em uma tarde livre de compromissos. Leia com calma e, quando se cansar ou se irritar ou se angustiar com as passagens mais obscuras, busque outra praia e depois volte a “Omeros”. A praia (a leitura) será a mesma, mas seu humor e seus olhos mudaram. E, mudando seus olhos e seu humor, o mundo inteiro também mudará...
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