Bia 06/06/2016Resenha publicada no blog Lua LiteráriaE hoje trago um romance nacional. Sentiram esse cheirinho de pão de queijo? Tudo isso é pelo fato da nossa história ser ambientada no estado de Minas Gerais.
O local onde se passa um enredo de um livro, não é critério para minha avaliação enquanto leitora. Devo dizer que temos uma grande maioria de romancistas nacionais que preferem outros países para ambientar seus enredos. Em alguns casos, eu não consigo compreender o motivo, já que se torna nítido que o autor nada sabe sobre o lugar. Exemplifico: nunca fui ao Paraguai, então resolvo escrever sobre este local sem nem ao menos pesquisar sobre ele. Se tratará de um texto frio, sem credibilidade. Assim sendo, o ambiente onde a história se passa, mesmo não influenciando minha avaliação, é algo a ser considerado, pois ele contribui, e muito, com a conexão do leitor.
Bruna acertou em cheio trazendo toda a cultura e paisagem do estado mineiro. De início, já estava me sentindo em Minas, mesmo tendo visitado somente uma vez. Ela foi fiel até mesmo deixando o típico sotaque nos personagens, em seus diálogos.
Quando estava escolhendo uma obra da autora para comprar, fiquei atraída pela sinopse do livro. Sou uma sonhadora, e em minha cabecinha lunática, já imaginei um enredo a la novela mexicana. Uma mocinha chorona, um pai sem escrúpulos, um mocinho turrão. E também já preparava os dedinhos para escrever: gravidez secreta. Na minha mente, a mocinha iria esconder a gravidez do mocinho, e após cinco anos retornaria submissa, pedindo perdão. E claro que o mocinho jamais a perdoaria, ela seria humilhada.
Gosto de sofrência. E por isso, já fui logo comprando. Pensei: vai cair super bem na tpm.
Mas sabem o que é melhor que sofrência? Surpresa!!
Fui completamente surpreendia com uma história lindamente romântica e tocante.
O livro é dividido em duas partes. Na introdução, conhecemos uma Sara pré-adolescente. De mocinha mexicana, só a beleza. Sara me pareceu ser uma garota mimada e egoísta. Fiquei com dó de seu pai, Almir, que parecia não saber lidar com toda revolta da filha.
As páginas passam, os anos também e podemos entender Sara. Na verdade, ela não é mimada. É revoltada, e tem motivo de sobra para isso. Sua mãe é uma verdadeira interesseira egocêntrica, deixou a menina deslocada com apenas 19 anos. Sem direção, procurou o pai.
Almir é um grande fazendeiro, rico e trabalhador. Sua fazenda, Fivela de Ouro, é um exemplo de ótima administração. Sofreu muito por causa da personalidade da mãe de Sara, e criou uma barreira em sua volta para evitar sofrer também com a filha. Almir, assim como eu acreditei de início, imaginava que a filha tivesse herdado a personalidade fútil da mãe. Acolheu a filha, demonstrando até mesmo um pequeno desprezo. Ele tinha esse preconceito; e eu percebia que sentia medo em conhecer mais a respeito de Sara.
"Todo mundo gosta de julgar os outros pela casca, não é assim que se diz?" - página 38
Ele se casou novamente, com uma mulher completamente diferente de sua ex-esposa. Carminha é uma doçura, aquele tipo de mulher que desejamos ter como mãe, amiga, ou avó. E ela acolheu Sara de uma forma tão delicada, que causou comoção até mesmo em nós, leitores.
Caio é o braço direito de Almir. Responsável, um bom moço. Alguma força o ligava à Sara, e ele resolveu abrir o coração para compreender a personalidade de uma moça que causava tantos conflitos em seu patrão.
"...sabia que nao devia. sabia que nao podia. e mesmo assim ignorou todos os alertas." - página 55
Ao mesmo tempo, Sara não conseguia enxergar o motivo de se abrir tanto com o peão. Sentia medo de se envolver com as pessoas, pois sempre sofrera rejeição. Mas Caio estava chegando em seu coração.
Sentia borboletas no estômago com cada aproximação do casal. A autora não se usou de apelação para conseguir minha atenção e envolvimento. Adoro romances puros, e foi isso que tive. Os personagens são lindos, porém, mesmo se fossem zumbis, eu me apaixonaria por eles.
Neste livro, não são as aparências que importam.
Do mesmo modo que os protagonistas foram tão humanamente criados, também temos os antagonistas; vilões para ser mais clara. Existem pessoas na vida real que se incomodam com o fato de alguém conquistar seu espaço. Caio era simples, e seu trabalho e honestidade irritavam Paulo.
Paulo também era peão da Fazenda, ele e sua mãe foram acolhidos carinhosamente por Almir. Mas sua personalidade era questionada. Bebia horrores, se comportava mal. E não gostava de Caio. Percebeu que Sara era especial para seu rival, e por isso ela também entrou em sua mira.
Madalena, conhecida vulgarmente por Madá, é irmã de Carminha. Vulgar é a palavra certa para descrever essa moça. Muito bonita e utiliza dessa beleza para atrair olhares. Mesquinha, ambiciosa, enfim, a pior mulher que já conheci. Tenho mais medo de mulheres como Madá do que de monstros, fantasmas e palhaços assassinos. Prefiro mil vezes uma visita amiga de Jason que de Madá.
Por capricho, decidiu que queria Caio. E conseguiu destruir a confiança que Sara depositou no moço.
"...a gente não esquece fácil o que não viveu." - página 147
E tudo isso, é só o começo dessa trama cheia de reviravoltas, desencontros, e amor.
Foram duas noites de leitura, e fui transportada para a Fazenda Fivela de Ouro. Consegui viver tudo, com muita intensidade.
"As coisas que deixamos de viver, por algum motivo que não posso explicar, geralmente são aquelas que nunca conseguimos esquecer." - página 153
É uma história carregada de sentimentos, com muitas reviravoltas. Um prato cheio para quem aprecia um bom romance, com reencontros e valiosas lições.
Não é estranho essa mania que a vida tem de nos colocar face a face com as situações mal resolvidas? - página 149
Não sei se consegui transcrever tudo que senti durante a leitura, já reescrevi essa resenha dezenas de vezes e ainda não estou satisfeita. Só posso finalizar recomendando, e frisando o quanto a autora é original e delicada, mesmo com temas considerados clichês ao gênero.
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http://lua-literaria.blogspot.com.br/2016/06/resenha-mais-que-uma-escolha-bruna.html