spoiler visualizarBeatriz Kath 01/02/2024
Nova Era
"? Sei que tem medo, Arien, mas até quando deixará que esse medo a impeça de fazer o que realmente quer? Já não está na hora de você se levantar e tomar conta da própria vida? [...] Eu sei que tem coragem para isso, pare de ofuscar e sabotar a si mesma!"
Quero começar dizendo que amei a escrita da autora; a narrativa é muito envolvente e fluída.
O cenário/universo da história também é algo que gostei bastante porque eu AMO elfos, e toda essa ambientação de vilarejos no meio da floresta, treinamentos com armas e magia são coisas que me lembram bastante de alguns jogos MMORPG que eu jogava na adolescência o que, particularmente, é bem nostálgico para mim.
Porém, a partir do momento que o antagonista do livro se revela, o livro perde grande parte do seu encanto. Isso acontece porque o vilão é um completo idiota, e o fato da protagonista ter dificuldade de lidar com ele faz com que ela pareça mais idiota ainda.
Todo o conflito principal do enredo gira em torno do fato da protagonista estar sendo perseguida, machucada e ameaçada por esse outro personagem que seria o antagonista, e tudo isso poderia ser resolvido de forma EXTREMAMENTE SIMPLES E FÁCIL logo no início.
Tudo que a protagonista teria que fazer seria pedir ajuda para alguém, e ela tinha MUITAS opções: seus pais, que desde o início se mostram um tanto superprotetores, porque eles já perderam uma filha no passado; seu amigo e ex-protetor, que também está sempre por perto e se preocupa muito com ela; ou ainda seu Aías, um outro elfo que seria um parceiro de batalha, cuja ALMA ESTÁ CONECTADA à da protagonista (além de ser alguém que já não vai com a cara do personagem que se revelaria o antagonista desde a primeira vez que o vê).
Entretanto, mesmo com toda essa rede de apoio em potencial, a protagonista decide (por algum motivo que só faz sentido na cabeça dela) que o melhor a se fazer é manter tudo que está acontecendo em segredo. Graças a essa decisão BRILHANTE, o que acontece é que, em vez de ela alertar a família e os amigos sobre seu agressor, ela agora precisa ficar FUGINDO dele enquanto ainda disfarça para TODO MUNDO que está tudo bem. Ou seja, ela simplesmente sofre em silêncio enquanto contribui para manter seu agressor na impunidade, sendo que ela tem TODOS OS MOTIVOS para contar para alguém e conseguir ajuda muito facilmente.
E além de não pedir ajuda, ela também não faz nada para tentar lidar com o antagonista sozinha. Isso é particularmente irritante porque a protagonista fica dizendo que se pedir ajuda, vai estar sendo fraca, mas ela também sequer tenta lidar com o vilão sozinha.
A ÚNICA coisa que ela faz é fugir. O tempo todo.
Isso a torna alguém extremamente passivo e irritante, como se ela não quisesse realmente resolver os problemas, só ficar fugindo deles para sempre.
Achei especialmente irritante a forma com que ela fica inventando mil e uma desculpas sem sentido para convencer a si mesma de que não deve contar o que está acontecendo.
Uma das coisas que ela mais insiste é que, supostamente, ninguém acreditaria que ela está sendo agredida se não tiver marcas para provar, e como ela tem poder de cura, essas marcas sempre desaparecem muito rápido do seu corpo.
Porém, além de ser impossível comprar a ideia de que os pais dela, seu amigo e seu Aías não acreditariam na palavra dela, também é extremamente estúpido achar que a melhor alternativa para solucionar esse problema seria ficar em silêncio.
Isso porque, como mencionei antes, o antagonista do livro é um idiota, e digo isso porque pela maior parte da história, ele sequer é capaz de fazer uma ameaça que soe como algo perigoso de fato. Algo que realmente poderia fazer a protagonista ter um MOTIVO DE VERDADE para precisar guardar segredo. Em vez disso, ele só fala de forma extremamente vaga e nem um pouco ameaçadora.
Ele é, sim, uma ameaça para ela de forma FÍSICA, mas quando se trata de causar algum tipo de terror psicológico, como seria o caso das ameaças para mantê-la calada, ele é absolutamente patético. Uma piada completa.
Além disso, ele também não faz muita questão de esconder seus atos de perseguição/agressão, porque faz tudo isso ou na casa da própria protagonista, ou em áreas abertas do vilarejo em que vivem.
Considerando tudo isso, acho que a protagonista poderia simplesmente contar aos amigos o que está acontecendo, depois criar uma situação na qual eles pudessem ficar escondidos enquanto o antagonista a encontra em uma das suas perseguições e PRONTO. Todo mundo veria ele fazendo as coisas terríveis que faz e não teria como não acreditarem na palavra dela, porque seriam todos testemunhas.
O fato da solução parecer tão simples e, mesmo assim, a protagonista não ter a menor ideia do que fazer além de fugir torna toda a situação extremamente ridícula. E, como eu disse antes, faz a protagonista parecer ainda mais idiota do que o antagonista.
Esses fatores também tornam a história uma enorme enrolação, desde a primeira atitude vilanesca do antagonista até o final do livro, porque esse é o conflito principal de todo o enredo desse primeiro volume.
E no meio da história, quando pela primeira vez o vilão faz uma ameaça decente - no sentido de realmente colocar a protagonista numa situação em que ela teria algo a perder -, ele diz que vai matar uma fada amiga da protagonista caso ela conte sobre ele para alguém, e a ideia GENIAL da protagonista para lidar com isso é, mais uma vez, fugir.
Porém, essa decisão NÃO FAZ O MENOR SENTIDO. E não só isso. Além de não fazer sentido, essa também é a PIOR DECISÃO QUE ELA PODERIA TER TOMADO.
Isso porque, primeiro, o fato dela fugir do vilarejo não garante de forma alguma que o antagonista não vai matar a fada, afinal, o fato da protagonista não estar por perto só tornaria tudo ainda mais fácil para ele, já que graças ao silêncio dela, ninguém no vilarejo sequer desconfia das atitudes e intenções perversas dele.
A protagonista também diz que fugir seria a ÚNICA forma de proteger aqueles que ela ama, ao mesmo tempo que garantiria a própria liberdade. De novo, isso não faz sentido. Que liberdade seria essa na qual ela precisaria viver fugindo de um elfo para sempre, e nunca mais poderia ficar ao lado daqueles que ela ama?
E, segundo, um dos amigos que ela supostamente quer proteger é o Aías dela, mas acontece que, por terem suas almas conectadas, caso um deles morra, o outro morre também. Isso significa que, ao sair do vilarejo para fugir do antagonista, ela está colocando a vida do próprio Aías em risco, porque os arredores do vilarejo estão cheios de elfos inimigos que poderiam matá-la facilmente.
Esse é, inclusive, outro ponto importante que só torna o plano todo dela de fugir ainda mais ridículo.
Ela tem a opção de contar sobre as ameaças e agressões que vem sofrendo para qualquer um dos seus familiares ou amigos e, assim, lidar com o ÚNICO elfo que a persegue; mas em vez disso ela prefere se afastar de todos que ela conhece e que poderiam apoiá-la, tornando-se um alvo fácil não só para o elfo que a perseguia no vilarejo, mas também para diversos outros que ficam rondando pela floresta.
Ou seja, de alguma forma na cabeça dela, enfrentar UM inimigo com a ajuda de TODOS os amigos e familiares não parece uma opção tão boa quanto enfrentar VÁRIOS inimigos SOZINHA.
Simplesmente não consigo entender qual seria o sentido disso.
Como disse no início, eu gostei bastante da escrita da autora, então não achei a leitura massante ou arrastada em nenhum momento, mas o enredo está CHEIO de eventos e decisões que não fazem o menor sentido.
É como se, toda vez que a protagonista precisasse tomar uma decisão, ela decidisse, por livre e espontânea vontade, optar pela PIOR ALTERNATIVA POSSÍVEL. Aquela que vai lhe trazer mais dor, sofrimento e dor de cabeça.
E isso a torna irritante, estúpida e até um tanto irrealista, porque não consigo pensar em nenhuma pessoa que tome decisões desse jeito.