Aione 29/08/2020A Última Camélia estava há anos parado na minha estante e minha curiosidade por mais essa obra de Sarah Jio falava alto, já que amo seus outros romances, especialmente Violetas de Março.
Quando a paisagista Addison vai com o marido para a Mansão Livingston fugindo de seu passado, ela encontra um livro antigo, o qual a leva a crer que há um mistério envolvendo as camélias da propriedade. Quase meio século antes, a americana Flora foi contratada para se infiltrar na Mansão e roubar um espécime raro da flor. A busca de ambas, no passado e no presente, é afetada por perigosas circunstâncias.
Assim como nos demais livros da autora, A Última Camélia alterna os tempos narrativos através das perspectivas em primeira pessoa das protagonistas Flora e Addison, separadas por mais de 60 anos. Com uma escrita fluida e delicada, Sarah Jio nos conduz por paisagens cativantes em meio a uma narrativa permeada pelo suspense — que não é incomum aos seus títulos, visto que isso também acontece em Neve Na Primavera, por exemplo. Ainda, o cenário histórico de Flora agrega positivamente à leitura pelo contexto a ela trazido.
A trama é bem construída, principalmente por essa alternância de momentos. Da mesma maneira que não sabemos o que acontecerá com Flora ao acompanharmos sua jornada, o mistério permanece no presente, uma vez que Addison também busca descobrir o que houve na mansão mais de meio século antes. Ainda, ela guarda os próprios segredos, que são pouco a pouco revelados ao leitor. Me agradou como Sarah Jio reservou os dramas da personagem a seu passado e não os colocou em seu casamento. O marido de Addison é seu apoio e conforto, e gostei muito da relação entre eles.
Embora eu tenha gostado da leitura, esse foi o livro de Sarah Jio que menos me despertou emoções. O Bangalô, por exemplo, me causou desconforto em alguns de seus pontos, mas foi uma leitura bastante intensa e envolvente. Aqui, não consegui me envolver de fato com os acontecimentos e personagens, mesmo que não tenha encontrado algum motivo que me desagradasse. Gostei da construção dos personagens e do enredo como um todo, e achei a história bastante bonita — só foi uma história que acompanhei mais de longe.
Vale dizer que as flores são um aspecto importante de A Última Camélia, de maneira que os comentários sobre botânicas trouxeram um acréscimo a leitura. A flor ao redor da qual o enredo se desenvolve é fictícia, o que torna ainda mais interessante a trama que Sarah Jio criou. Mesmo que tenha sido uma leitura mais morna para mim, fica a recomendação para quem gosta de narrativas misteriosas, mas que não perdem a sensibilidade. O final é digno da autora, recheado de emoções e tornando ainda mais significativo tudo aquilo que foi construído anteriormente.
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