A Casa Soturna

A Casa Soturna Charles Dickens




Resenhas - A Casa Soturna


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Bela 23/04/2022

A Casa Soturna - Charles Dickens
Sobre o Livro
Apresentando uma narrativa em primeira e terceira pessoa, A Casa Soturna apresenta a história das vidas afetadas pelo infame e jamais concluído caso “Jarndyce e Jarndyce”, que há tantos anos reside nas cortes legislativas e jurídicas de Londres e já virou uma piada comum aos relatores. Acumulando ódios, perdas e uma disputa eterna sem nenhuma perspectiva de conclusão, vemos sob os olhos da órfã Ester Summerson o interior da casa soturna, local onde a moça é acolhida por seu tutor junto de dois outros jovens, também envoltos nesse grande redemoinho judicial.

“Esta é a Corte de Justiça que tem casas decadentes e terras estéreis em cada condado; que tem seus malucos alquebrados em cada hospício e seus mortos em cada cemitério; que tem seus demandantes arruinados, de calcanhares cambados e roupas coçadas, correndo a roda dos conhecidos, a fazer empréstimos e a pedir dinheiro; que dá aos poderosos endinheirados os meios abundantes de fatigar o direito; que de tal modo exaure finanças, paciência, coragem e esperança, de tal modo arruína o cérebro e destroça o coração, que entre seus profissionais não existe um homem honrado que não dê – que muitas vezes não dê – o seguinte conselho: “suporte toda e qualquer injustiça que lhe hajam feito, em vez de vir pedir justiça aqui”.

Ao lado de Ester, temos também um narrador que vagueia de ambientes nobres para cenários de total miséria e desolação, apresentando personagens cujas vida foram destruídas pela hipocrisia de suas causas ou pela injustiça e desigualdade social que cercam a sociedade da época. Há alguma justiça possível em um caso que já degradou tantas vidas? Quantos inocentes foram e ainda serão puxados para esse mesmo espiral de amargor, mágoa e incerteza?

E, para além dos impactos individuais, o que a total incompetência da legislação e do judiciário para dar conta de um caso como os do Jarnydce pode revelar sobre a incompetência da própria sociedade em dar conta das suas inúmeras falhas e deficiências sociais que tanto consomem vidas?

Minha Opinião
Possuindo há muito tempo uma paixão especial pela escrita de Dickens, posso afirmar com um pouco de pesar, mas total honestidade, que a “A Casa Soturna” foi o livro mais difícil do autor que já li e que exigiu de mim muita atenção, bem como muitas batalhas para com a narrativa. Elogiado por muitos críticos como sendo sua narrativa mais rica e madura, parte do que sinto que foi meu entrave inicial com a história foi a dificuldade de estabelecer empatia com os personagens, elemento esse tão fácil de se conseguir em outros livros do autor que já li anteriormente. Foi meio aos trancos e barrancos que a leitura de A Casa Soturna foi feita e, no fim, há uma mistura de admiração com decepção ao fim da experiência de passar por essa história.

Uma das coisas que mais admiro em Dickens é sua brilhante habilidade de construir personagens que são ao mesmo tempo o arquétipo de bondade e um poço de sucessivos erros humanos banais que causam consequências desastrosas. É essa humanidade genuína que faz de David Copperfield, Pip, Agnes e tantos outros personagens o que há de mais especial nas histórias do autor, foi por suas tramas me empolguei, com seus medos que me envolvi e com suas atitudes e decisões que admirei e relutei em deixar esses personagens para trás quando alguma leitura havia sido concluída.

Dickens não escreve bem apenas seus personagens principais; em seus livros e contos, mesmo os secundários têm extremo desenvolvimento ficcional e narrativo e possuem tanto ou mais capacidade de conquistar e provocar emoções no leitor do que os próprios narradores e protagonistas da história. Vinda de uma experiência como essa em livros anteriores, foi com uma pequena frustração que me deparei com a dificuldade em me conectar com os personagens de A Casa Soturna para além de Esther. Talvez por Ester ser a narradora que mais se aproxima do leitor, é dela que é mais fácil gostar quando estamos acompanhando a trama e é até proposital esse efeito, considerando que Ester é a personagem mais típica de romances que podemos conhecer: genuinamente boa e aberta a sentir empatia pelo próximo, Esther fornece os olhares mais doces e mais pesarosos do livro e não à toa é em torno dela que ficaram os núcleos mais interessantes.


Em contrapartida, a narração que vagueia de forma mais impessoal entre diferentes núcleos menores de personagens, dividindo assim o livro com a perspectiva de Esther, sofre muitas vezes por não conseguir estabelecer laços o bastante entre o leitor e a trama relatada. É fácil entender que determinados personagens estão ali para complementar a construção da crítica social que está sendo feita por todo o livro e também para sedimentar os caminhos para os mistérios deixados ao redor do enredo. Contudo, comparados a forte presença de Ester na trama, tais passagens acabam soando muitas vezes cansativas. Não deixam, claro, de ser lindamente escritas e de possuir o toque de humor dickensiano que é tão característico. Mas não geram a mesma emoção que outros momentos, sob o ponto de vista de Esther e em torno dos personagens que pairam ao seu redor.

“Sua mãe, Ester, é a sua desgraça e você a desgraça dela. Tempo virá, e não demorará muito, em que você compreenderá isso melhor e também o sentirá como ninguém pode sentir senão uma mulher.”

Com uma história tão longa, há diferentes assuntos abordados na obra para além da questão Jarndyce, o que foi muito interessante. Uma das tramas mais curiosas e que mais gera reflexões giram em torno da família Jellyby; com uma mãe que está muito mais ocupada com os negócios na África do que dentro de casa, vemos na jovem Caddy o sofrimento de uma filha que sozinha vê o estado lamentável em que sua família fica ao ser deixados de lado pela figura materna. Foi essa a primeira trama que modelou um conceito que percebi que permeia a história inteira e talvez seja a real temática da trama: toda a história de A Casa Soturna gira em torno da hipocrisia.

Seja do caso Jarndyce e da incompetência dos judiciários, seja na mãe de Caddy e seu total abandono da família ou mesmo na figura indecisa e instável de Ricardo e no passado misterioso de Ester, com sua tia que a cuidou com tanta rigidez, mas que escondia segredos por trás dos panos que revelam que mesmo as pessoas que se entendem como as mais corretas podem cometer erros que machucam diversas relações ao seu redor.

O humor de Dickens permeia boa parte das narrações mais impessoais, o que é extremamente divertido já que as maiores críticas vêm em passagens bem irônicas que desdenham de alguma atitude ou pensamento de determinados personagens. Sendo um livro robusto e muito extenso, as passagens mais irônicas e sarcásticas ajudam a aliviar o clima e facilitar a leitura. Contudo, mesmo momentos como esse não tiram a lentidão com que a leitura de A Casa Soturna precisa ser feita.

Diferente de outros livros do autor, esse é um romance muito difícil de engatar e que por vezes tira um pouco o ânimo de ser lido. Por essa razão esse é um livro que não me conquistou como os outros e acabou sendo uma leitura um pouco mais tediosa. É, claro, uma leitura que vale a pena pela construção crítica e pela complexidade das tramas apresentadas e é por essa razão que segue sendo uma recomendação gigantesca da produção do Dickens, porém é importante já se precaver para uma experiência de leitura que vai exigir muita atenção e bastante tempo para ser dedicado a conhecer o livro.

site: https://resenhandosonhos.com/a-casa-soturna-charles-dickens/
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Luiz.Goulart 24/03/2022

Uma pérola no fog
Confesso minha ignorância sobre a existência deste livro de Charles Dickens, escritor que é uma verdadeira instituição inglesa. Já havia seus livros mais conhecidos (David Copperfield, Oliver Twist, Um Conto de Duas Cidades, A Pequena Dorrit, Grandes Esperanças e Um Conto de Natal), mas nunca tinha tomado coragem para ler nenhum. E veja que coisa: comecei por ler o autor pelo único que não conhecia.
A Casa Soturna foi um romance publicado em 1853 e é considerado pela crítica como a obra mais perfeita de Dickens. Em suas 800 páginas, o autor discorre sobre aqueles temas sempre presentes nos seus livros, como o sofrimento das crianças pobres nas ruas inglesas. Aqui, Dickens, que já havia trabalhado no sistema judiciário britânico, tece críticas ácidas ao Judiciário por meio do motor da história: um processo que se arrasta por gerações sem jamais chegar perto de uma solução, pondo em xeque o mastodôntico sistema jurídico inglês do século XIX.
Esta história, como todas as demais do autor, já foi adaptada mais de uma vez para as telas em filme e minissérie com seus mais de 40 personagens magistralmente manipulados pelo autor, revelando o perfeito domínio da narrativa, apesar de deixar o leitor algumas vezes confuso com os diferentes enredos que vão se entrecruzando. O bom humor de Dickens é surpreendente por estar em uma trama que aborda pobreza, morte, assassinato e solidão.
A primeira página do livro já dá uma mostra da narrativa especial na descrição da ambientação não lisonjeira de Londres. Imediatamente, lembrei-me da descrição feita da cidade Paris no livro O Perfume, de Patrick Süskind, com a diferença de que na Casa Soturna o conjunto se mostra através do olhar, enquanto no Perfume tudo está ligado ao olfato. Eis Londres e seu “esplendor”:
“Tanta lama nas ruas, como se a superfície da terra houvesse acabado de emergir das águas, e não seria maravilha encontrar-se um megalossauro, de doze metros de comprimento mais ou menos, saracoteando-se como um lagarto elefantino, no alto da colina de Holborn. Poder-se-ia imaginar que a fumaça que descia das chaminés, formando uma garoa leve e escura, com flocos de fuligem, tão grandes como fornidos capulhos de neve, era luto posto pela morte do sol. Cães indistintos no meio do lodaçal. Em não melhor estado os cavalos, enlameados até os antolhos. Pedestres, entrechocando os guarda-chuvas, como que contagiados todos de mau humor, escorregando nas esquinas das ruas, onde dezenas de milhares de outros pedestres vinham deslizando e escorregando desde que o dia raiou (se é que um dia assim pode raiar), acrescentavam novos depósitos às crostas e mais crostas de lama, que aderiam tenazmente naqueles pontos ao calçamento, acumulando-se a juros compostos. Nevoeiro por toda a parte. Nevoeiro rio acima, onde este corre entre verdes ilhotas e campinas; nevoeiro rio abaixo, onde ele rola, sujo, entre os renques de embarcações e a sujeira das praias duma grande cidade (grande e imunda). Nevoeiro nos pantanais de Essex, nevoeiro nas alturas de Kent. Nevoeiro insinuando-se nas cozinhas de brigues carvoeiros; nevoeiro pairando sobre os estaleiros e suspendendo-se do cordame dos grandes navios; nevoeiro caindo sobre as amuradas de barcaças e pequenos botes. Nevoeiro nos olhos e gargantas de antigos reformados de Greenwich, respirando, asmáticos, junto às lareiras de suas enfermarias; nevoeiro na boquilha e no fornilho do cachimbo vespertino do colérico capitão de navio mercante, fechado no seu camarote; nevoeiro beliscando cruelmente os dedos dos pés e das mãos do grumetezinho a tremer ali no tombadilho. Gente ociosa, nas pontes, espreitando por cima dos parapeitos o firmamento baixo de nevoeiro, toda cercada de nevoeiro, como se se encontrasse num balão, a plainar em meio de nuvens de névoa.”
Selecionei outro belíssimo trecho onde o autor descreve a miséria do maravilhoso personagem Jo, um dos meninos inesquecíveis e que são puro deslumbramento descritivo em uma obra “Dikensiana: “...não é um autêntico selvagem estrangeiro: é apenas o artigo comum fabricado em casa. Sujo, feio, desagradável em todos os sentidos. De corpo, uma criatura comum das ruas comuns, pagão apenas na alma. A imundície doméstica o enxovalha, os parasitas domésticos o devoram, as chagas domésticas estão nele, os farrapos domésticos o cobrem: a ignorância nativa, floração do solo e do clima ingleses, afunda-lhe a natureza imortal, pondo-a num nível inferior ao dos brutos que perecem. Adianta-te, Jo, com as tuas maneiras inflexíveis! Da sola dos pés ao alto da cabeça, nada há de interessante em ti!”.
Infelizmente o livro, que estava esgotado há anos, foi relançado com graves problemas na tradução (imperdoável numa edição de luxo com capa dura e belas ilustrações) pela Biblioteca Áurea selo da Editora Record, custando mais de R$ 70,00. É incompreensível a tradução de nomes próprios como Ricardo, Haroldo, João e Príncipe. Uma coisa irritante de ser lida que jamais vi sequer num livro ruim. Os erros de revisão ficam evidentes no descuido pela tradução de termos de uso lusitano no lugar de brasileiros, como “quinta”, para terreno; “miúdo”, para criança; “gira”, para maluco e “algibeira”, para bolso.
Apesar de tudo isso, o prêmio de ler Dickens não tem comparação. Agora não tenho qualquer desculpa para não devorar David Copperfield, Oliver Twist e seus amigos, que há tempos me olham acabrunhados da estante.


site: https://www.blogger.com/blog/post/edit/32639542/8722051839343676601
Rinaldo22 25/03/2022minha estante
Perfeito!




Reginaldo Pereira 30/01/2022

Encantamento! Sublime encantamento!
O livro acabou e, com lágrimas nos olhos, posso dizer - já com imensa tristeza e saudade - que foi uma extraordinária experiência!
Tantos personagens pairando ao redor de um intrincado processo judicial, cada um com suas características, qualidades, caráters e trejeitos, constroem um bela, divertida, triste e emocionante história.
Dickens, mais uma vez, permite ao leitor se deleitar com uma enchurrada de sentimentos, aqueles mesmos que caracterizam a nossa humanidade e nos fazem perceber do que todos somos feitos!
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Riva 04/11/2021

Um dos melhores romances sociais de todos os tempos
Não tenho palavras pra descrever o quão incrível é esse livro, a história abraça o leitor de uma maneira indescritível, cada personagem vira praticamente seu amigo ou inimigo pessoal kkkkk, se você que está lendo essa resenha pretende ler esse livro, por favor, anote cada nome de cada personagem e leia com a maior calma do mundo, pode demorar, afinal a história é enorme e a escrita é bem rebuscada, mas vale super a pena.

Chega de elogios, afinal, a disciplina tem que ser mantida.
Nayany 04/11/2021minha estante
Disciplina tem que mantida! ????
Amei


Nicole 06/11/2021minha estante
?




Nayany 01/11/2021

Por um momento pensei que a leitura desse livro seria tipo o Caso Jarndyce e Jarndyce, INTERMINÁVEL.

Superados o início maçante e os 50 personagens, fui aconselhada anotar cada um e quais eram suas conexões para ñ se perder na história e isso foi essencial para conectar com a narrativa, que história incrível!

Posso dizer que o livro me fez pensar em várias coisas como prioridades, tempo, sonhos, amigos, família,amor-própio, futuro...

Enfim, foi uma ótima leitura!
Riva 01/11/2021minha estante
Perfeitooooo


Nayany 01/11/2021minha estante
Agora vou acompanhar tuas reações com a história, assim vou matando a saudade dos personagens ??




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Day 02/11/2021minha estante
Ótima resenha. Mas meu deus como tem personagem nesse livro que não é bem desenvolvido. Que final horrível. Esse livro tem o melhor começo de livro que eu já vi na vida e o pior final de todos.




angelica.martin 12/08/2021

Dickens é fofo
Não sei vocês, mas pra mim é muito difícil de ler um livro desse escritor e dar uma nota ruim, ele sempre tem uma escrita esperançosa, com uma mensagem de amizade bondade para compartilhar. Confesso que tem algumas partes de pontos de vistas que são dessinteressantes, porém agregam na visão geral desse baita calhamaço, que por ter tantas páginas, acaba podendo ser um pouco cansativo. Uma das coisas positivas desse livro é o protagonismo das mulheres e um bom desenvolvimento da história delas, coisa que eu não tinha visto em outro livros dele até agora. Enfim, uma leitura boa de meio de ano
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Ellen Fontana 26/06/2021

Grandioso
No começo foi difícil me conectar com a história, ainda mais com as longas descrições e com a fala de personagens extremamente prolixos. Mas a história vai crescendo capitulo a capitulo e no final se torna grandioso.
Começa com a apresentação de personagens, dinâmicas familiares e lugares e quando vemos estamos envoltos em uma trama de intrigas e investigações.
Vale muito a leitura.
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Suphie 11/04/2021

Justiça? Tarda e falha.
Eis um livro que quando cheguei no final queria voltar para o começo e ler tudo de novo. Por varias razões, como por ter deixado passar algumas coisas importantes, por ser demasiado denso e digno de total atenção (que tenho a sensação de não ter dado em certos momentos), por ser riquíssimo em detalhes; completamente apreciável... Os detalhes que Dickens tem com suas narrativas é algo que me encanta profundamente, os ambientes e personagens descritos por ele são envolventes. A Casa Soturna é uma leitura agradável de situações desagradáveis. Definitivamente se tornou um dos meus queridinhos, levo cada personagem icônico no meu coração, sem falar no primeiro paragrafo desse livro, simplesmente me vi absorta na descrição de ambiente que me fez mergulhar em Londres sec XIX.
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kamilla.stohr 23/03/2021

Complicado, encantador, massante, porém sublime.

Um clássico com toda a certeza.
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Ralibô 21/02/2021

Acredito que esperava outra coisa.
Achei uma leitura muito entediante, e cheias de excessos desnecessarios para a fluidez da trama. Agora não posso negar, a complecidade das emoções dos personagens e nem tão pouco a critica ao judicial.

É um livro rico, com embassamentos e feito de forma consiente da natureza humana. Chatles Dickens sabia falar sobre emoções.
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Natasha 18/02/2021

O livro compensa o início cansativo
Depois de encerrar a leitura fiquei realmente feliz de ter aguentado e passado do início chato do livro, os primeiros 14% mais ou menos falam apenas sobre um processo que ocorre a anos nos tribunais de justiça, os capítulos descrevem esse processo, chamado "Jarndyce & Jarndyce" de uma maneira confusa, a linguagem e tempo gastos falando sobre esse assunto tornaram os capítulos chatos e cansativos, pelo menos para mim. Porém, assim que esse início é superado, o livro começa a contar a história dos personagens envolvidos no processo e se tornar interessante. O autor faz várias críticas ao sistema legislativo, além de críticas à algumas personalidades específicas, na forma de suas personagens . Todas as personagens são profundas e muito bem descritas, o que facilita a ligação do leitor, me apeguei muito à algumas personagens e também senti muita raiva de outras. A história é muito bem escrita e aos poucos todos os fatos se encaixam e se esclarecem.
Gostei muito da leitura.
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ricardo 02/01/2021

"Fog everywhere. Fog up the river, where it flows among
green aits and meadows; fog down the river, where it rolls deified among the tiers of shipping and the waterside pollutions of a great (and dirty) city. Fog on the Essex marshes,
fog on the Kentish heights. Fog creeping into the cabooses
of collier-brigs; fog lying out on the yards and hovering in
the rigging of great ships; fog drooping on the gunwales of
barges and small boats. Fog in the eyes and throats of ancient Greenwich pensioners, wheezing by the firesides of
their wards; fog in the stem and bowl of the afternoon pipe
of the wrathful skipper, down in his close cabin; fog cruelly
pinching the toes and fingers of his shivering little ‘prentice
boy on deck. Chance people on the bridges peeping over the
parapets into a nether sky of fog, with fog all round them,
as if they were up in a balloon and hanging in the misty
clouds"
naquela manhã em que apanhou o romance de dickens, o idioma restringia a compreensão; porém no dia seguinte à noite, quando naturalmente estava fadado a simplesmente abandoná-lo, enquanto caminhava entre as estantes da biblioteca pública, antes de ler também os inícios de grandes esperanças e tempos difíceis, outra névoa estendeu os limites do universo. as pessoas que transitavam ao redor pareciam todas diferentes do que há um instante; súbito, nada mais existiu além da névoa
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HigorM 02/11/2020

'Estudando com Nabokov': sobre pobres crianças entorpecidas pela dor
Embora seja mais conhecido por livros como "O conto de Natal" e "David Copperfield", sendo este, inclusive, tido como o livro preferido pelo próprio autor, é "A casa soturna" o livro mais completo ou perfeito de Charles Dickens, segundo a crítica tanto da época quanto atual.

Curiosamente, é também o livro menos conhecido de Dickens, tanto que permaneceu ignorado aqui no Brasil e ficou sem uma edição por mais de três décadas. Com seu retorno, há muito aguardado para quem quer ler tudo do autor ou acompanha listas literárias, em que "A casa soturna" é sempre figura marcada, vieram junto alguns problemas, o que não é surpreendente, mas que poderiam muito bem ter ficado lá atrás.

Amarrado em três fios condutores, "A casa soturna" inicia (e é priorizado na sinopse) justamente o enredo mais chato: o tema da Alta Corte de Justiça, em que está há anos tentando dar um fim ao praticamente impossível e sem entendimento Jarndyce versus Jarndyce. Em algum momento, um membro dos Jarndyce escreveu um testamento que vem causando discórdia na família há décadas, sem previsão de terminar. John, o atual Jarndyce vivo acredita que tal processo leva as pessoas à loucura, tanto que sequer pisa no tribunal. Tal crítica de Dickens ao sistema judiciário é acertada, pois embora dita como exagerada pelos jurídicos da época, foi importante para a reforma judicial que aconteceu 30 anos depois, em 1870.

O segundo ponto é o de Esther Summerson, uma criança sofrida (apenas uma das tantas ao longo do livro, aparentemente o tema da vida de Dickens em seus livros) com sua madrinha, que escancara sem rodeios ser a criança a culpada pela desgraça da família e que era melhor se não tivesse nascido. Pois bem, tal madrinha falece, não sem antes pedir a John Jarndyce que se tornasse tutor da mesma.

O último núcleo é o de Lady Dedlock, uma mulher igualmente bela e fria, com expressões (ou falta de) que evidenciam sua importância para a sociedade. Outra parte do caso Jarndyce, embora também sem real interesse no seu desfecho, não consegue disfarçar um susto ao ver determinada assinatura no meio da papelada imensa do caso. O advogado da família, Sr. Tulkinghorn, diante de atípica reação, decide investigar por conta o que pode ter atrás de tal assinatura para fazê-la perder a tão conhecida compostura.

Em meio aos três núcleos, giram por volta de 60 personagens, todos com um porquê de estar ali, não meros coadjuvantes. Como o próprio Nabokov fala em seu "Lições de Literatura", até mesmo um personagem aparentemente insignificante, que joga uma moeda ao alto e depois a recolhe, tem sua importância na história. E os 60 personagens, ao viver nesse malabarismo dickensiano, em que cada núcleo tem seu espaço, com suas problemáticas e desenvolvimento acertado, fazem com que o livro não se torne desinteressante ou enfadonho, mas faça o leitor devorar com vigor as quase 800 páginas.

As crianças sofridas do livro, iniciadas pela própria protagonista, Esther, dando continuidade ao pobre Jo, um mendigo e Charley, uma criança órfã, que com 13 anos tem que deixar os irmãos menores trancados em casa para poder trabalhar. Temos ainda Caddy e todo o clã Jellyby, que se preocupa com causas filantrópicas africanas, quando seus próprios filhos andam sujos, sentem fome e roem as pernas das mesas. São apenas alguns exemplos de vítimas da vida e da própria sociedade, que os encara com negligencia ou indiferença.

Publicado como folhetim entre março de 1852 e setembro 1853, tal maneira de se publicar história diz muito sobre a estrutura do livro, e o porquê dele, apesar de seu tamanho um tanto assustador, não causar enfado: a publicação em série era comum pois, ao sair em revistas, era mais barato comprar semanalmente ao invés de um livro pronto e muito mais caro. Logo, para manter o leitor amarrado na história por mais de um ano, é óbvio que deveria haver muitas reviravoltas, ganchos e elementos para deixar o leitor aguardando ansiosamente a próxima semana.

Se Dickens foi bem-sucedido (muito, diga-se de passagem) em criar uma história com três núcleos principais, fora os personagens secundários e suas mazelas da sociedade da época, gerando assim mais de 60 personagens, sem fazer com que a história se perdesse ou ficasse muito inchada, mas dando uma importância e desfecho a cada um deles, o mesmo não se pode dizer do cuidado da edição brasileira.

Como dito acima, há 32 anos fora das prateleiras, o livro voltou com a farsa justificativa de "contar com a clássica edição de Oscar Mendes". Balela. Trata-se basicamente de um produto com embalagem nova e muito bonita, mas com seu conteúdo envelhecido. A tradução, de 1986, possui problemas grotescos, desde palavras há muito estão em desuso (o principal culpado pelo livro ser engessado e perder a agilidade original) tendo até tradução literal de nomes de personagens. Esther aqui é Ester; Harold é Haroldo. John é João e por aí vai, algo que não é mais feito em traduções. Fora a própria personagem Hortense, uma empregada francesa que, segundo comentários, tem seus diálogos apresentados como quebrados e difíceis de entender por não saber falar inglês, em sua tradução foram totalmente perdidos, e o leitor sequer vai ter essa característica da personagem, esquecendo-se de que se trata de uma francesa.

A prova de tantos problemas em "A casa soturna" é que os trechos do livro em "Lições de Literatura", traduzidos em 2015 por Jorio Dauster, têm um frescor e agilidade muito maior para a história, quando cotejado com a edição da Nova Fronteira, sem deixar, como tinha de ser, o livro com sua devida aparência, linguajar e trejeitos que representassem devidamente o século XIX. O livro deveria – e merecia – ter um tratamento melhor e um retorno triunfal.

Com uma edição problemática depois de tanto tempo esgotado, "A casa soturna" preenche o espaço que precisava ser devidamente ocupada e mostra a eficiência de Dickens, com dezenas de personagens, reviravoltas mirabolantes e histórias que o leitor não quer largar até acabar.

"Lendo Lições de Literatura" é um projeto baseado no livro "Lições de Literatura", de Vladimir Nabokov, em que suas aulas da década de 1940 sobre os Grandes Mestres da Europa foram transcritas e compiladas. Para saber mais sobre a lista e conhecer os demais livros, acesse:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
skuser02844 31/08/2023minha estante
Fenomenal! Realmente é um crime um livro desses não ter uma edição melhor por aqui


HigorM 01/09/2023minha estante
Boatos de que dona Penguin vai nos presentear em breve com uma nova edição desta belezura, o que vai me fazer relê-la.


skuser02844 02/09/2023minha estante
Tomara que os boatos sejam reais, também vou querer reler




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