Regis2020 27/07/2024
Uma obra bem-humorada e muito inteligente
Tieta do Agreste foi lançado em 1977 e ao longo dos anos deu origem a produtos culturais tão importantes quanto o insigne livro de Jorge Amado. Conheci primeiro a música de Caetano Veloso e depois o filme do cineasta Cacá Diegues (que, por sinal, foi estrelado por Sônia Braga, algo que eu havia esquecido. Rsrsr) e antes de ler o livro, ainda maratonei a novela de Agnaldo Silva no Globoplay, e agora, finalmente, estou conhecendo a obra original.
Que livro maravilhoso de se ler, recheado de intrigas e ambições, com personagens cativantes e multidimensionais, e com um clima de cidade do interior tão habilmente replicado que torna difícil para o leitor não relacionar algumas das icônicas figuras, que compõem o cenário da fictícia cidade de Santana do Agreste, com pessoas reais espalhadas por lugarejos de todo o Brasil.
O narrador é quase um personagem; ele interage com o leitor de forma cômica em capítulos intercalados na história, onde esclarece pontos da narrativa e aproveita para falar do processo de escrita e de seu amigo revisor. Esses capítulos, com seus títulos provocativos, são uma diversão à parte.
O livro possui uma narrativa de folhetim dividida em cinco episódios e epílogo. Nele, seguimos a vida de Maria Antonieta que, após vinte e cinco anos longe, retorna para sua cidade natal de onde foi expulsa debaixo de bordoadas do potente cajado de seu mesquinho pai, José Esteves. A história se passa em 1966 e o retorno de Tieta é o ponto de partida para vários acontecimentos que vão transformar Santana do Agreste em um barril de pólvora prestes a explodir.
Tieta é uma personagem poderosa e intrigante que retorna para acertar as contas com seu passado e, no processo, acaba mexendo com o cotidiano de todos os habitantes do Agreste ao trazer a modernidade para a cidadezinha presa no passado.
Não vou falar de todos os personagens, mas preciso citar Carmosina, minha personagem favorita: ela é agente do correio, politizada, filha carinhosa, amiga verdadeira, curiosa por natureza, leitora voraz (fã de ficção científica e de ficção policial) e ativista ambiental. Ela está inserida em todos os núcleos da história e sempre traz um toque de racionalidade ao caos reinante. Eu amei a personagem e me apeguei completamente a ela. Com certeza é minha personagem favorita tanto no livro, quanto no filme e na novela.
Acho que também devo falar um pouco do personagem Ascânio, que foi magistralmente criado pelo autor e que retrata o típico homem da política do interior, que se acha esperto e evoluído, que aparenta ser uma pessoa acima de qualquer suspeita, "caridoso", "bondoso", mas que basta que apareça um único motivo em que possa se apoiar e veremos sua verdadeira face: uma face mesquinha, ambiciosa, machista e intolerante, capaz das traições mais vis e das hipocrisias mais ardilosas. Ele inicia a história como um cidadão e secretário da prefeitura preocupado em trazer o progresso para o Agreste, mas termina o livro como um político corrupto e um amigo ingrato. Como mencionei antes, o personagem foi magistralmente construído, ao contrário da novela que o retrata como o bom moço incorruptível e amoroso; aqui vemos um personagem ambicioso que fará de tudo para alcançar seu objetivo de se casar com a "ricaça herdeira do Comendador". Adorei vê-lo quebrar a cara no final!
Recheado de personagens primorosos, com uma trama intrigante, bem-humorada e imersiva, Tieta do Agreste é um livro que aborda temas complexos e impactantes, contrapondo tradição e modernidade de uma forma empolgante, nos apresentando um microcosmo do Brasil centralizado em Santana do Agreste, onde o autor trabalha magistralmente a ambivalência dos valores hipócritas e conservadores de uma cidadezinha interiorana e a modernidade e o progresso da cidade grande sem tomar partido, mostrando os pontos fracos e fortes de ambos os aspectos.
O autor é mesmo genial, criou uma obra bem-humorada, inteligente e extremamente viciante para o leitor. Com capítulos curtos e títulos imensos e divertidos, Jorge Amado fez com que fosse dificílimo fechar o livro e pausar a leitura. Era uma tortura esperar as atividades do dia-a-dia acabarem para poder pegar novamente o livro e seguir com a história.
Agradeço ao Léo por ter lido comigo os dois primeiros episódios e ao Leandro por ter me acompanhado do início ao fim nessa LC. E nem posso mensurar como foi divertido conversar com o Leandro, o Ney e o Rodrigo sobre a diferenças entre o livro, a novela e o filme.
Eu recomendo essa obra magistral desse grande autor brasileiro para todos.
E aqui está a música Luz de Tieta, de Caetano Veloso que retrata um pouco da atmosfera da obra.
Todo o dia é o mesmo dia a vida é tão tacanha
Nada novo sob o sol
Tem que se esconder no escuro
Quem na luz se banha
Por debaixo do lençol
Nessa terra a dor é grande a ambição pequena
Carnaval e futebol
Quem não finge quem não mente
Quem mais goza e pena
É que serve de farol
Existe alguém em nós
Em muito dentre nós esse alguém
Que brilha mais do que milhões de sóis
E que a escuridão conhece também
Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você de mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim
Toda a noite é a mesma noite a vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber com quem você se deita
Nada pode prosperar
É domingo, é fevereiro
É sete de setembro
Futebol e carnaval
Nada muda, é tudo escuro
E até onde eu me lembro
Uma dor que é sempre igual
Existe alguém em nós
Em muito dentre nós esse alguém
Que brilha mais do que milhões de sóis
E que a escuridão conhece também
Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você de mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Todo o dia é o mesmo dia a vida é tão tacanha
Nada novo sob o sol
Tem que se esconder no escuro
Quem na luz se banha
Por debaixo do lençol
Nessa terra a dor é grande a ambição pequena
Carnaval e futebol
Quem não finge quem não mente
Quem mais goza e pena
É que serve de farol
Existe alguém em nós
Em muito dentre nós esse alguém
Que brilha mais do que milhões de sóis
E que a escuridão conhece também
Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você de mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim
Toda a noite é a mesma noite a vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber com quem você se deita
Nada pode prosperar
É domingo, é fevereiro
É sete de setembro
Futebol e carnaval
Nada muda, é tudo escuro
E até onde eu me lembro
Uma dor que é sempre igual
Existe alguém em nós
Em muito dentre nós esse alguém
Que brilha mais do que milhões de sóis
E que a escuridão conhece também
Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você de mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta
Eta, eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta, eta, eta, eta