Pietra Galutty 28/11/2023
Acho que te vi matando alguém: 4.50 from Paddington
Agatha Christie (1890-1976) publica o seu incrível A Testemunha Ocular do Crime (4.50 from Paddington) em novembro de 1957. O décimo de seus romances a estrelar a nossa querida detetive amadora, ou apenas velhinha incrivelmente curiosa, Jane Marple ou Miss Marple. Uma obra sagaz e de deliciosa leitura, reviravoltas surpreendentes, assassinatos, e tudo o mais que se espera do repertório de Christie.
Em 'A Testemunha Ocular' um crime é visto, ao acaso, por uma senhora que está voltando para casa em uma viagem de trem. No momento em que dois trens de cruzam nos trilhos, um em sentido oposto ao outro, as cortinas do trem oposto se levantam e a passageira do trem paralelo vê um homem estrangulando uma moça. Apavorada, porém sem nada poder fazer, a mulher observa o último brilho de vida deixar os olhos da moça, em uma fração de segundos e em uma cruzada incomum do destino. A testemunha ocular do crime é Elspeth McGillicuddy, que vem a ser uma amiga de longa data da velhinha Jane Marple.
"A providência decidira que ela, Elspeth McGillicuddy, seria testemunha ocular de um crime" (p. 11)
Desorientada e nervosa, após não ser acreditada pelas autoridade, Elspeth procura sua amiga Jane Marple para compartilhar a curiosa e improvável história. Miss Marple acredita que há algo muito importante ali. Após confabular entre suas agulhas de crochê, Miss Marple resolve chamar a astuta Lucy Eyelesbarrow para auxiliá-la a encontrar o suposto corpo, que pelos seus cálculos deveria estar nos arredores de Rutherford Hall, aonde mora uma família chefiada por um arrogante velho e avarento -- a família Crackenthorpe. Miss Marple utiliza de toda a sua sagacidade para iniciar as confabulações em torno daquele suposto crime, mesmo que de longe.
"Ele a descreveu como a melhor detetive que Deus já criou. Um gênio natural cultivado em solo apropriado" (pg. 158)
Lucy alcança o objetivo: um corpo é encontrada no sarcófago da casa da família Crackenthorpe, em Rutherford Hall. Não se sabe quem é a mulher morta, mas as suspeitas recaem sobre a família. Os irmãos Emma, Alfred, Cedric e Harold são muito diferentes entre si, mas todos possuem um interesse em comum: a herança que viria com a morte do pai, o velho Mr. Crackenthorpe.
"O problema é que -- disse Miss Marple -- as pessoas são gananciosas. Algumas são. Muitas vezes é assim que começa. Não pelo assassinato, com uma vontade de matar ou mesmo um pensamento nesse sentido. Não. Começa pela ganância, por querer mais do que terá" (pg. 232-233)
"A verdade é que as pessoas são um misto extraordinário de heroísmo e covardia". (pg. 167)
A história se desenrola com o auxílio do inspetor Dermot Craddock, também conhecido antigo de Miss Marple, que é enviado para investigar o crime e os outros crimes derivados do primeiro. Afinal de contas, como a autora sempre faz questão de frisar, um assassinato não deve nunca ser deixado a sós.
"O que eu sei sobre assassinatos é que eles nunca podem ser deixados a sós" (pg. 237)