Fernanda631 31/07/2023
A Testemunha Ocular do Crime
A Testemunha Ocular do Crime foi escrito por Agatha Christie e publicado em 4 de novembro de 1957.
Trata-se de uma história protagonizada pela detetive amadora Miss Jane Marple.
No início do livro somos apresentados a Sra. Elspeth McGillicuddy que após as compras natalinas entra em um trem para visitar sua amiga Miss Marple e quando o trem em que a Sra. McGillicuddy viajava diminui a velocidade e outro trem acelera, de sua janela ela acaba presenciando algo inimaginável.
Muito cansada do dia agitado, ela está olhando o entardecer do dia da janela do seu assento no trem das 16:54. Quando já é quase noite, o seu comboio cruza com outro trem que vem no sentido oposto. Enquanto observa as janelas que vão passando, ela fica reparando nos seus ocupantes até que, de repente, vê algo que a assombra instantaneamente: um homem estrangulando uma mulher. Apavorada e sem poder fazer nada, ela vê a vida fugir dos olhos da moça, mesmo que tudo tenha acontecido em uma fração de segundos.
Como uma boa cidadã, a Sra. McGillicuddy informa a polícia acerca do que viu, contudo ninguém acredita, pois nenhum corpo foi encontrado. Não obstante, Miss Marple, obstinada, acredita piamente na amiga Elspeth e decide procurar o corpo com a ajuda de Lucy Eyelesharrow.
Após confabular e sondar um pouco, ela decide enviar uma pessoa infiltrada para Rutherford Hall, onde mora uma família chefiada por um velho sovina e arrogante. Lucy Eyelesbarrow, encarregada de espionar a rotina de todos, começa a descobrir pedaços de segredos intrigantes que a fazem pensar que a mulher do trem tenha alguma ligação com eles. Tudo fica ainda mais estranho quando o corpo não identificado de uma moça aparece em um dos sarcófago da propriedade.
De fato, Lucy consegue encontrar o corpo de uma mulher em um sarcófago na casa da família Crackenthorpe, em Rutherford Hall. A família Crackenthorpe é uma família rica e como todos os ricos têm suas excentricidades. O Sr. Crackenthorpe, um velho ranzinza e avarento, e seus filhos: Emma, Alfred, Cedric e Harold, apresentam personalidades muito peculiares. De início o inspetor Bacon não desconfia que a família tenha algo haver com a morte da mulher desconhecida, mas por se tratar possivelmente de uma estrangeira a Scotland Yard entra em cena com o inspetor Dermot Craddock que, por sinal, é amigo de Miss Marple.
Pistas reais e falsas, omissões em depoimentos, fatos estranhos, investigações abrangendo várias hipóteses são lançadas no livro e o leitor é guiado por um intrincado e misterioso labirinto de pistas. O que de início pareceu uma morte desvinculada da família Crackenthorpe, toma contornos familiares, principalmente quando percebemos a ganancia e o desejo dos filhos de que o velho Sr. Crackenthorpe morresse para que pudessem se apropriar da herança. E como a própria Miss Marple afirma que uma morte sempre tende a gerar outras, outras mortes surgem dentro da própria família o que torna o quebra-cabeça, para descobrir o assassino, mais intrincado e emocionante.
Novamente Agatha Christie desenvolve personagens complexos, e trilha diversos caminhos para a investigação, não perde o foco e faz com que o leitor, instigado, dê um de detetive e tente, desesperadamente, descobrir o assassino. A linguagem e a esperteza de Christie conseguem envolver o leitor do começo ao fim do livro.
Um dos fatores que me fizeram gostar muito da história foi o fator da incerteza. A narrativa já começa com alguém testemunhando um SUPOSTO assassinato, essa pessoa NÃO TEM CERTEZA do que viu, e NÃO PODE PROVAR o que viu. Logo, existem muitas variáveis contra o que foi visto. Mesmo após um corpo ser encontrado em um local muito conveniente e que corrobora para a linha de raciocínio de Miss Marple, não se pode afirmar que se trata da mesma moça do trem. Logo, se tratam de dois crimes ou do mesmo acontecimento?
Outro fator é a suposta falta de conclusão. Parece que quanto mais fundo se entra nos segredos da família, mais parece que o crime do trem não foi real e que o corpo encontrado é apenas um incidente alheio a família. Cada prova encontrada tem uma contraprova que desmonta a teoria.
Ninguém sabe matar tão bem seus personagens como Agatha Christie e ninguém sabe encontrar um sentido para a morte de forma tão plausível como ela. O livro é envolvente e encantador, acredito que nem todos os leitores conseguem descobrir o assassino, mas em momento algum Miss Marple deixa a desejar, principalmente para aqueles leitores que são fãs de Poirot, não há frustração, apesar de que com Poirot a investigação se torna mais emocionante, pois ele vai atrás das provas, já Miss Marple segue outra linha investigativa.