missi-dominique 01/02/2024
Um estudo em vermelho é um romance policial publicado originalmente em 1887 e escrito por Arthur Conan Doyle. Nesta obra, Dr. Watson apresenta Sherlock Holmes ao grande público.
Dr. Watson é um médico-cirurgião que depois de sofrer uma lesão durante a Segunda Guerra Anglo-Afegã é afastado do serviço militar. Após certo tempo de prodigalidade em Londres, ele se vê pressionado a conter despesas. Decide, então, dividir o aluguel de um apartamento com alguém. É quando Stamford, um velho amigo, o apresenta a Sherlock Holmes, que aceita a proposta e torna-se seu colega.
Sherlock Holmes é um "detetive consultor" que ambiciona transformar a detecção de crimes em uma ciência exata. Seu trabalho envolve testes e descobrimentos científicos, bem como o raciocínio lógico dedutivo. A excentricidade de sua personalidade e a habilidade de descobrir rapidamente coisas sobre as pessoas ao redor intriga a todos que lidam com ele: "Essa é a peculiaridade que ele tem (...) um bom número de pessoas gostaria de saber como ele descobre as coisas".
A trama principal inicia quando um crime aparentemente insolucionável ocorre em Brixton e Sherlock é convidado pelos agentes da Scotland Yard (corporação policial) para colaborar no caso. Motivado pelo desejo de desvendar o mistério da genialidade de seu colega de apartamento, Dr. Watson embarca nessa jornada como um observador, narrando a história.
É a partir daqui, meus honrados, que a narrativa declina. Na tentativa de cunhar uma "genialidade-mais-que-extraordinária" em Sherlock, a narrativa acaba ganhando um contorno abobado, quase infantilizado, razão pela qual não consegui gostar do livro. O detetive-gênio tem a autoestima de um adolescente petulante e os demais personagens parecem ter sido propositalmente diminuídos para agigantá-lo
? coisa que, a meu ver, empobreceu demais a trama. O próprio Dr. Watson, por exemplo, apesar de ser doutor em medicina tem participação quase nula na solução do caso, reduzido a mero expectador/admirador de Sherlock. Semelhante condição se aplica também aos agentes da Scotland Yard, que são retratados como limitados e quadrados, beirando à tolice em suas proposições.
Contudo, a partir do oitavo capítulo a narrativa ganhou um tom levemente mais maduro e crítico ao apresentar o enredo por trás do crime. Diferente do que ocorre nos capítulos anteriores ? onde a arrogância de Sherlock e as parvoíces dos agentes da S.Y são de revirar os olhos ?, nesta parte conseguimos com algum esforço ver críticas muito sutis à distorção midiática na cobertura de crimes; ao engessamento das práticas da S.Y; e à guerra de egos dentro da corporação, onde os agentes mais ambicionam mérito e lisonjas do que a aplicação da lei e da justiça. Outros assuntos, como o fanatismo religioso e a preocupação do Reino Unido com imigrantes, também são trazidos. Porém estes últimos, por sua vez, corroboram a ideia de que imigrantes possuem um passado histórico sujo e temível, associação que considero perigosa nos nossos dias.
Por fim, não é um livro que eu indicaria nem releria. Não é ruim no todo, só não me ganhou. Considero que a experiência de leitura pode ser melhor para adolescentes ou pessoas que já conheçam e gostem do detetive, que se valeriam de algum sentimento de nostalgia, ou whatever.