Carous 28/10/2020Este livro parece o Brasil sob o governo Bolsonaro: não há um minuto de pazPromessa é dívida, eu havia prometido (para mim mesma. Na calada da noite. Sequer falei da promessa em voz alta, mas vale mesmo assim) dar 5 estrelas e favoritar este livro por causa da cena do capítulo IV da parte IX independente do que viesse pela frente. Eis a nota, eis o coração vermelho pulsando aí.
Não me leve a mal, eu amei este livro tanto quanto os outros dois. E conclui-lo arrancou um pedaço do meu coração que nem sabia que ainda estava lá (não sabia que sobro alguma coisa após a morte de tantos personagens. Obviamente não me refiro ao Maxim nem a Emira. Esses eu estava torcendo pra morrer mesmo). Mas dos três é o único que eu teria coisas negativas a dizer. E se alguém me disser que não gostou tanto do livro assim, eu saberia apontar exatamente o que desagradou essa pessoa.
Primeiro, eu sou grata por V.E Schwab nos lembrar que um olho de Kell (e dos Antari) é todo preto e o outro normal. Eu sei que este é o terceiro livro de uma trilogia e essa característica dos Antari foi dita e relembrada antes. Mas é exatamente o tipo de detalhe que eu costumo esquecer na leitura de séries. No entanto, Victoria do céu, você não precisava me lembrar disso toda vez que falava sobre os olhos de Kell, Lila e Holland. Minha memória é falha, mas não inexistente. Uma vez era suficiente.
E ela gosta de palavras. Percebi pelos calhamaços que escreve.
Neste livro notei um vício gritante dela que só não me incomodou porque eu amo muito esta série: as ideias repetidas nos parágrafos. Parece que ela não chegava numa conclusão de qual delas usar e repetia a ideia com palavras diferentes. E lá se foi mais frases como: "Não sou vazio, não sou oco, não sou o nada" pela frente sem um editor para segurar a mão da autora e falar: "Chega!"
Ou quando ela escrevia:
"O rei está vindo", disse o irmão.
"O rei está vindo", disse a amada.
"O rei está vindo", disse o amigo.
Parecia que ela queria ganhar música no Fantástico...
Eu a entendo. Tenho o mesmo problema quando estou escrevendo uma resenha. Qual a melhor palavra? Mas, miga, se teu livro tivesse 200 páginas você poderia se dar ao luxo de se deliciar nesse vício. Não é o caso.
Por mais que tenha adorado todos os capítulos e os pontos de vista, fiquei decepcionada ao perceber que os capítulos do Ned e do Rei George IV não tiveram propósito algum. A participação de Ned podia ter se resumido quando Lila e Kell o visitam no bar e o rei nem precisava dar as caras.
Sabe outra coisa que não serviu de nada? As mortes de Maxim e Emira, embora eu tenha gostado porque os monarcas só lembravam que Kell era filho deles quando lhes era conveniente. Isso não é exercer a paternidade nem a maternidade. É ser sonso!
Tanto drama e suspense com o feitiço de Maxim e... não durou meio segundo. Falhou feio e rude e eu pensei: "Putz, morreu pra isso?" Estava nítido que ele era um personagem que precisava ser eliminado a todo custo. Igual sua esposa.
Tudo para impulsionar o enredo de Rhys. E francamente? Nosso cristalzinho não precisava de luto nenhum para amadurecer. Isso acontece desde o segundo livro.
Não que eu tenha derramado uma lágrima, mas a traição e as mortes de Col e Cora foram a mesma coisa. Era um plot que nem precisava nessa trama complicada de uma sombra dominar um país e se apossar da mentes das pessoas que não teve finalidade alguma. A autora precisava enxugar o número de personagens e meteu a tesoura em todo mundo que via pela frente.
Reparei que desde "Um tom mais escuro de magia" a autora vem socando personagem na história só para chegar aqui e matar todo mundo. Devia ter desconfiado disso...
Quase soa como se ela não soubesse o que fazer com eles e achou mais fácil tirá-los do caminho. Será que ela não poderia simplesmente... deixá-los vivos?
Que coincidência apenas os 4 personagens principais sobreviverem! Quem podia imaginar!
Eu sei que estamos em guerra, podem morrer aliados e inimigos, mas precisa morrer TODOS os aliados? Pelo amor de Deus, não sobra um!
Eu não sei se o livro é lento, eu não sei se é arrastado, só sei que devorei as páginas loucamente.
A única coisa que posso afirmar que me irritou neste livro é como a autora abordou a relação entre Kell, o rei e a rainha. Se ele era o filho adotivo deles, ele era >filho< deles e ponto final. Podia, inclusive, ser cogitado para assumir o trono. É assim que adoção funciona.
Não o tratamento mambembe que Maxim e Emira dão a Kell; uma adoção mais ou menos, gato de Schröndinger - é e não é -. Eles o tratam como parte da família quando conveniente (e bem manipulador da parte deles) e subordinado no resto do tempo. Era melhor que a autora tivesse distanciado a relação entre eles. Que fizesse o rei e a rainha serem padrinhos forçados do pequeno Antari órfão que apareceu na Londres deles. Ou que ele tivesse privilégios da realeza por ser uma criatura rara.
Enfim, obrigada pelos mimos, V.E Schwab. Me deliciei com as cenas românticas entre meus casais, nada de migalhas como nos livros anteriores. Nossos personagens principais estavam sensacionais, perfeitos, fados sensatos. Eu sempre soube que Holland não era um vilão e sim um cristal que precisava de amor e carinho.
Agora eu terminei a leitura e me sinto vazia. Mal posso esperar para reler este volume em português quando a Record parar nos enrolar e publicar logo o livro.
Sentirei falta dos meus bebês.
Anoshe