Rubaiyat

Rubaiyat Omar Khayyam
Jamil Almansur Haddad




Resenhas - Rubaiyat


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Vitor Dilly 08/12/2021

Obrigado pelo vinho seco, ó Allah! ?
Ó Allah, obrigado pelo vinho.
Allah, como eu adoro vinho.
Me traga mais vinho, por favor?
Sem vinho meu dia não é bom.

Eu gosto de beber é vinho seco!
Se Allah disser: beba vinho.
Eu vou lá e bebo até tremer...
Vinho seco.

Fim.
LetAcia1104 08/12/2021minha estante
O que você acha das traduções da editora Martin Claret? Não conheço e fico um pouco receosa de pegar um livro com edição antiga...


Vitor Dilly 08/12/2021minha estante
Poderia ser melhor. Mas não tenho muitos parâmetros para comparar traduções de poesia persa.


LetAcia1104 08/12/2021minha estante
Entendo, muito obrigada Vitor!




Numismatica 13/08/2010

Uma jóia da literatura universal
Certas coisas como a boa música e poesia são eternas e sempre farão parte de nossas vidas. Talvez o homem não tenha mais tempo para apreciá-las, pois como o próprio Omar previu, a mediocridade se espalhou por toda a parte e o sentido do belo e a estética deram lugar à vulgaridade das imagens e aos espetáculos bizarros que tanto agrada às multidões.

Assim como meu pai foi, sou um "apaixonado" incondicional de Omar. Desde adolescente fiquei fascinado pela melodia poética dos versos do Rubáiyát. Tanto que meu pai deixou para mim a única versão traduzida de Toussaint que encontrou, em 1955, na livraria José Olympio.

A versão está escrita em português, sendo uma primorosa tradução de Otávio Tarquino de Souza, com prefácio de Tristão de Athayde, do original francês.

Para nosso deleite, Otávio que se encontrava em período de convalescença em Juan-les-Pins - como ele mesmo diz - ao invés de decifrar palavras cruzadas, passou todas as quadras de Omar para o português. Acredito que a atmosfera do lugar e a alma poética de Otávio, nos possibilitem chegar bem perto do original em persa.

Como ele próprio faz questão de afirmar, "-não passa do eco de um eco", pois afinal para entender a verdadeira beleza dos versos deste grande poeta, acredito que só mesmo lendo o original em persa antigo.

Mesmo assim, de todas as versões que li, foi a que mais me fez sentir o verdadeiro perfume da rosa vermelha colhida no mais melancólico dos jardins da Pérsia.

Poesia não é matemática! Não existe uma fórmula ou uma lógica ou um modelo para entendê-la ou para apreciá-la. Assim como a música e as artes, deve tocar nosso coração e a nossa alma. Analisar a poesia ou uma obra de arte com uma "régua", é matar a nossa individualidade (aquilo que nos faz tão iguais e tão diferentes, ao mesmo tempo).

Como esperar que um Rembrandt, um Utrillo ou um Botticelli sejam vistos com os mesmos olhos, com a mesma alma e com a mesma pureza de sentimentos por indivíduos e almas tão distintas umas das outras?
A beleza da poesia, da música, das obras de arte, reside justamente no fato de não serem produções em série. Não são passíveis de análises metódicas, baseadas em padrões acadêmicos pré-estabelecidos. Certo! São estudadas, analisadas, dissecadas nas escolas e universidades, e envoltas por teorias, as mais variadas, mas que, certamente, não traduzem e nunca serão o suficiente para explicar porque aquela que não agrada a um, faz o outro suspirar de emoção.
Por favor, não coloquemos a poesia, a música e as belas artes no lugar comum, tentando explicar o inexplicável.

Devemos abrir nossos corações e sentir...só isso. A pureza de sentimentos, a sensibilidade, a emoção que elas nos transmitem estão além daquilo que escrevem alguns, tentando desesperadamente dar um sentido lógico e matemático aos nossos mais profundos sentimentos.
Nunca iremos conseguir entrar no coração de um grande poeta ou de um grande artista, pois a essência que os criou, também os fez únicos. No entanto, podemos deixar que um pouco das suas almas penetre os nossos corações. E isso independe de críticas, análises e dissecações.
Para mim, particularmente, que bella a interpretação de Octavio Tarquino de Sousa, a que mais me tocou o coração e a alma, assim como fez também a meu pai.

Somos únicos em nossa individualidade. Pequenos universos de emoção, dor, sentimentos, prazer , amor e felicidade. Que bom que existam homens que conseguem atingir esses corações despertando as mais diversas emoções.

Um bom vinho , por exemplo! Experimente prová-lo em um "copo de geléia", num dia de calor intenso, em má companhia, num botequim de subúrbio. Seguramente não terá o mesmo sabor ao degustá-lo numa colina Toscana, num fim de tarde primaveril ou diante do por do sol em Firenze, numa taça de cristal del settecento em bellissima e agradável companhia. 
Passion Eyes 30/01/2017minha estante
Que comentário maravilhoso e sensível...Espero brevemente ler esse livro,por mais que a tradução não seja tão fascinante quanto ler em persa...Aprecio muito literatura oriental,já li alguns trechos,e espero que ler em pdf não seja um impedimento hehehe


Djine 15/03/2017minha estante
Agradeço de coração o seu comentário, até fiquei em aflição por sair agora mesmo em busca da versão de Octávio Tarquinio de Souza, sede de ler esses versos, amo a estética do período, tenho fome de poesia, e como Contadora de História, vontade de compartilhar sobre a emoção. Feliz em encontrá-lo por aqui. Abraço




Bia França 14/01/2023

Como esse livro chegou em minhas mãos
Eu estava lendo Samarcanda, e é a história da busca por um livro cheio de sabedoria escrito por Omar Khayyan. Eu nem sequer tinha cogitado que ele existiu e quiçá que esse livro também tenha existido. E eu estava quase no final da leitura de Samarcanda quando fui a um sebo de livros, e por coincidência em cima do balcão apareceu o tal livro do Khayyam.
Curiosa e surpresa, abri o livro para entender o porque tanto alvoroço em torno dele desde a antiguidade. Abri uma tradução ruim, e falei ah, era isso, nem vale a pena. Dei uma risadinha de deboche e fui saindo da loja. Antes de pisar na rua, o senhorzinho dono do loja me cutucou no ombro e disse: essa aqui é a tradução completa, nem todas as traduções são boas. Não quero que vc saia dessa loja sem conhecer a importância desse homem.
E me deu o livro de graça.
Em casa abri o livro em uma página aleatória, e foi como se tivesse um recado para mim pois estava para tomar uma decisão difícil.
" Calúnias, ameaças,
inquisições, fogueiras,
doenças, aflições,
e outros males,
nada disso
deveras temer.

Por quê?
é muito simples:
tudo passa.

Em prazeres e alegrias
aproveita, amigo,
tua curta vida.
(...)"

Paulo1945 14/01/2023minha estante
Que legal! Vou adquirir, estou focado em poemas ultimamente.


Bia França 14/01/2023minha estante
Ler poesia é muito gostoso! Ano passado eu li alguns livros de poesia de uma goiana, gostei muito. E inclusive Drummond chegou a elogiar a obra dela. A autora se chama Darcy França Denófrio, o meu livro favorito foi Amaro Mar (só achei na estante virtual).


Paulo1945 14/01/2023minha estante
Ah, vou comprar esse que indicou também! Vi aqui no google que ela fez a seleção dos poemas de Cora Coralina, mas não sabia que escrevia também. Na época, gostei muito da coleção de poesia de Cora Coralina. Obrigado por essa indicação!




Caroline132 03/01/2023

Cadê meu vinho?
Depois de ler Samarcanda fiquei curiosa sobre os versos de Omar, que (uma de suas versões) afundou junto com o Titanic.

Omar fala sobre aproveitar a vida, o agora, já que ninguém sabe sobre o além vida, se ele realmente existe. Fiquei bêbada após a leitura, muito vinho!
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Edna 05/03/2021

Enigmático
"Clássico não é um livro que necessariamente possui este ou aquele mérito, é um livro que as gerações humanas, atendendo a diversas razões, leem com prévio fervor e com uma misteriosa lealdade." Jorge Luis Borges

Omar Khayyám, Astrônomo, Matemático e Poeta cujos versos escritos no século XI, sentimos uma alma inquieta e desesperadamente  questionadora sobre mistério humano, os manuscritos de 1460 com 158  Rubáis ( Um poema ou um verso de um poema), e a primeira edição com uma tiragem de 250 exemplares publicada anonimamente em 1872; e Eu tive o privilégio e sou grata por ser apresentada  à essa obra incrível  149 anos após, pelo amigo @gu_henrymarc .
?
A obra mais traduzida em um determinado momento, depois da #Bíblia e de #Shakespeare.

Os temas desde o  metafísico; o enigma da existência e a impossibilidade humana de o decifrar; natureza, o eterno retorno da lua e as estações do ano, a Primavera com seu símbolo máximo a Rosa; o Vinho fonte da alegria que rompe a linha tênue entre a razão e o moralismo; O Rouxinol símbolo da Música; a Poesia; a Amizade todos engastados na nossa vida breve enlaçados pela concepção negativa da existência cita Khayyám e  #Schopenhauer dialogam com Shakespeare "_A vida é um enredo contado por um idiota  - plena de barulho e fúria - significando nada." #Macbeth


"A vida é um mendingo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra."
Trecho de "Rubáiyat, um poema desconhecido de #FernandoPessoa

"Contém o fruto inteiro tantos gomos
Quantos são os que nele. Mudos pomos
A fé em mãos que nada tem com ela.
Viver é nos tornar o que já somos."

#Bagagemliteraria
#Poemas
#Poesia
#Rubáiyát
#omarkhayyám
#bookstagram
#sejaleveleia
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José 19/08/2010

Haja vinho
Omar Khayyam, astrônomo e poeta persa nascido em fins do século onze, exprime em Rubaiyat a sua visão pessimista do mundo e da vida. Segundo ele não há nada depois da morte, o destino de todos os seres é converterem-se em pó, em barro do qual serão fabricadas as ânforas e as talhas que guardarão o 'vinho imaculável'. Todo o poema é um cântico de fatalismo, um lamento pela inutilidade da existência face à certeza da extinção. Por isso deve o homem aproveitar cada momento, saborear os prazeres da vida enquanto é possível. E esses são, em primeiro lugar, prazeres dos sentidos: o vinho que embriaga, "companheiro das noites de volúpia"; e o amor físico que proporciona "horas incomparáveis de prazer".
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Haylane.Rodrigues 24/07/2012

Lindo, melancólico e sutil.




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JonasMur 09/01/2013

Poemas sensacionais! Merecem ser lidos do começo ao fim!
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OceaneMontanea 24/06/2015

Esta (como quase todas do Skoob) não é uma resenha
Rubaiyat é o nome que se dá a esse formato de poema, portanto existem Rubaiyats de vários autores.
Como em outros grandes autores e filósofos da Antiguidade, a maioria do que lemos em "Rubaiyat" permanece uma dúvida. Apesar disso, acredito que ao menos à sua ideia central, os poemas tenham se mantido fieis.
Adorei a simplicidade, a falta de rebuscado, o vocabulário simples. É aquele tipo de poema que até alguém que não seja leitor e não tenha escolaridade conseguiria entender. E isso é muito bom. Eu gosto de poetas intimistas, sombrios, pensadores, mas ás vezes um "facinho" é bom para nos lembrar que para ser bem escrito e ter valor literário não é preciso ser indecifrável.
Temas como embriaguez e vinho, sendo tidos como remédios para as dores, alegria para a alma são tratados juntamente com a ideia de eternidade, o pós-morte, o improvável céu e o inferno e alfinetadas explícitas a qualquer moral religiosa.
O que Khayyam diz se resume ao seguinte. Não interessa se tem alguém ou algo invisível nos olhando (o que ele duvida muito), ou se após a morte iremos penar no inferno ou gozar no céu, e mesmo que haja tudo isso, o que é mais importante: o momento presente, onde temos a possibilidade de ser felizes e amar ou um futuro incerto após a morte, futuro esse que ninguém nunca provou que exista? Portanto, bebamos, dancemos e nos alegremos pois o presente é rápido e é só o que conhecemos. É esse ceticismo e esse convite ao vinho e as alegrias da carne que temos em "Rubaiyat".
Eu recomendo, até por ser um livro bem curtinho, podendo ser lido em um dia.
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jmrainho 23/07/2015

Rubaiyat
Edição da Ediouro traduzido por Manuel Bandeira a partir da tradução francesa de Franz Toussaiunt.

Rubaiyat de Omar Khayyam foi o título dado pelo inglês Edward Fitzgerald para na tradução de uma seleção de poemas, originalmente escritos em persa e atribuídos a Omar Khayyam (1050 - 1123), um poeta, matemático e astrônomo da Pérsia. Wikipédia

Existe outra edição, comentada por Paramahansa Yogananda que diz ser o autor um dos grandes místicos de nossos tempos, e explica o mistério por trás do famoso poema de Omar.

Omar contesta as religiões e a fé cega. Prega a liberdade, a alegria e a felicidade curtindo o hoje... com vinho e mulheres...Mas também questiona o destino, o conhecimento a a pequeneza da vida dedicada apenas às coisas supérfluas...já que... todos morreremos.

TRECHOS:

(1)
Sabem todos que nunca
Murmurei uma prece.
Sabem todos que nunca
Escondi meus pecados.

Ignoro se realmente Existe uma Justiça
E uma Misericórdia.
Nada temo no entanto.

Nada temo. Antes nelas,
Se é que existem, confia
Minh'alma, porque sempre
Fui um homem sincero.

(4)
Procede sempre de maneira
Que de tua sabedoria
Nunca sofra o teu semelhante.
Domina-te Jamais te entregues

À ira. Se queres chegar
Um dia à paz definitiva,
Sorri dos golpes do Destino,
E nunca batas em ninguém.

(8)
Satisfaze-te neste mundo
Com poucos amigos. Não busques
Tornar durável a amizade
Que possas sentir por alguém.

Antes de apartares na tua
A mão que te estendem, pergunta
A ti mesmo s ela algum dia
Não se erguerá para feri-te.

(12)
Nenhum poder sobre o destino
Te foi dado, sabes. Portanto
Que adianta a ansiedade em que ficas
Pela incerteza do amanhã?

Então, se és um sábio, procura
Tirar do momento presente
O maior proveio possível.
O futuro o que tu te trará?

(13)
Chegada é a estação inefável,
A estação da esperança, quando,
Impacientes por expandir-se,
Buscam as almas a aromada

Solidão. Cada flor que cheira
Será a branca mão de Moisés?
Será cada brisa que sobra
O doce hálito de Jesus?
(15)
Além da Terra e do Infinito
Eu procurava o Céu e o Inferno.
Mas uma voz solene disse-me:
- "Procura-os dentro de ti mesmo."

(20)
Mais rápido que a água do rio,
Que o vento do deserto, escoam-se
Os dias. Dois não me interessam:
São o de ontem e o de amanhã.

(24)
Nos conventos, nas sinagogas
E nas mesquitas é costume
Irem refugiar-se os fracos
Que a ideia do Inferno apavora.

O homem que conhece a grandeza
De Deus não acolhe em sua alma
As sementes más do terror
E da imploração lamentosa.

(27)
Admitamos que tenhas
Resolvido o difícil
Enigma da Criação.
Qual será o teu destino?

Admitamos que tenhas
Conseguido afinal
Desvendar a Verdade.
Qual será o teu destino?

Admitamos que tenhas
Sido feliz cem anos,
E outros cem ainda o desejas.
Qual será o teu destino?
(28)
Convence-te disto:
Um dia tua alma
Deixará o corpo
E serás lançado

Para trás do véu
Que há flutuando sempre
Entre este Universo
E o desconhecido.

Enquanto esse dia
Não chega, procura Ser feliz.Esquece
Todo outro cuidado.

Pois não sabes de onde
Vens, tampouco sabes
Para onde irás
Depois de tua morte.

(29)
Os doutores e os sábios mais ilustres
Caminharam nas trevas da ignorância.
O que não impediu que em vida fossem
Tidos por luminares do seu tempo.

Que fizeram? Pronunciaram
algumas frases confusas
E depois adormeceram
Para toda a eternidade.

(30)
Pediu-me o coração: "Quero saber,
Quero instruir-me! Ensina-me Khayyam,
Tu que durante a tua vida inteira
Tanto tens estudado e trabalhado"

Disse a primeira letra do alfabeto,
E logo, pressuroso, o coração
Secundou: "Sei agora, um é o primeiro
Algarismo de um número sem fim".

(31)
Ninguém pode compreender
O que é mistério,ninguém
Pode ver o que se esconde
Debaixo das aparências.

Nossas casas, salvo a última
- A terra, são provisórias.
Amigo, bebe o teu vinho!
Trégua às palavras supérfluas!


(33)
Nesta feira que tu atravessas
Nunca tentes fazer amigo,
Nem busques abrigo seguro.
Acolhe a dor sem procurares

Remédio: não o encontrarias.
Sorri em face do infortúnio.
Não esperes que te sorriam,
Pois seria tempo perdido.

(34)
A Roda gira, descuidosa
Dos árduos cálculos dos sábios.
Renuncia aos teus esforços
De seguir o curso dos astros.

Mais sábio é meditares sobre
Esta certeza: morrerás
E não sonharás mais, e os vermes
Ou os cães, comerão teu cadáver.


(38)
Sono sobre a terra
Sono sob a terra.
Sobre e sob a terra
Corpos estendidos.

Nada em toda a parte.
Deserto do nada.
Homem vêm chegando.
Outros vão partindo.

(41)
Ontem devias ser recompensado e não o foste.
Mas não deplores nada, nem esperes coisa alguma.
O que te deve acontecer está escrito no Livro
Que ao acaso vai folheando o vento da Eternidade.

(45)
Em voz baixa dizia a argila
Ao oleiro que a modelava:
"Já fui como tu, não te esqueças...
Portanto não me brutalizes!"

(52)
Disputam o bem e o mal
A primazia da Terra.
O Céu não é o responsável
Pelas voltas do destino.

Não agradeças portanto
Ao Céu, nem tampouco o acuses...
O Céu é indiferente
A tuas dores e alegrias.

(52)
Se em teu coração
Enxertaste a rosa
Do amor, tua vida
Não passou inútil.

Quer a voz de Deus
Ouvir procurasses,
Ou a taça brandisses
Sorrindo ao prazer.

(63)
Ah, não procures a felicidade!
A vida dura o tempo de um suspiro.
Dhemchid e Kai-Kobad hoje são poeira.
A vida é um sonho; o mundo, uma miragem.

(67)
Não temo a morte. Prefiro,
Irmãos, esse inelutável
Ao outro imposto ao nascermos.
O que é a vida afinal?

Um bem que me foi confiado
Sem o meu consentimento
E que eu com indiferença
Restituirei um dia.

(72)
Um pedaço de pão, um pouco de água
Fresca, a sombra de uma árvore e os teus olhos!
Nenhum sultão é mais feliz do que eu.
Nem mendigo nenhum mais melancólico.

(76)
Falam de um Criador...Terá fomrado
Então os seres só para destruí-los?
Por que são feios? Quem é o responsável?
Por que são belos? Não compreendo nada.

(90)
Que possuo de verdade?
Que restará de mim
Depois de morto? É a vida
Breve como um incêndio.

Chamas que o transeunte
Não tardará a esquecer,
Cinzas que o vento espalha,
Varre: um homem viveu.

(91)
Convicção e dúvida,
Verdade e erro são
Palavras vazias
Como a bolha de ar.

Irisada ou baça,
Essa bolha oca
É a imagem mesma
Da existência humana.

(111)
Aprendes o que amanhã
Pode acontecer-te? Confia,
Senão não deixará a sorte
De justificar teus receios

Nada merece o teu esforço,
Não te prendas a nada, não
Questiones livros nem pessoas,
Pois nosso destino é insondável!.

(116)
"Eu sou a maravilha
Do mundo", a rosa disse.
"Que perfumista ousara
Expor-me ao sofrimento?"

Um rouxinol cantou:
"Um dia de ventura
Pode ser que prepare
Todo um ano de lágrimas."

(119)
O amor que n'ao devasta
Não é amor. A brasa
Pode espalhar acaso
Um calor de fogueira

Noite e Dia, durante
Toda a sua vida, o amante
Verdadeiro consome-se
De dor e de alegria.

(146)
Servidores, não tragam lampadas:
Meus convivas, extenuados,
Adormeceram. Vejo bem
Como estão imóveis e pálidos.

E hirtos e frios como estão,
Jazerão na noite do túmulo.
Não tragam lâmpadas, não há
Aurora na mansão dos mortos.

(147)
Ao cambaleares sob o peso
Da dor, ao secarem-tem as lágrimas,
Pensa nas folhinhas da relva
Que cintilam depois da chuva.

Quanto te exaspera o esplendor
Do dia e desejas que a noite
Baixe definitiva, pensa
No despertar de uma criança.

(149)
Mil armadilhas colocaste,
Senhor, na estrada que trilhamos,
E depois disseste: "Ai daqueles
Que não souberam evitá-las!^

Tudo vês e sabes. Sem tua
Permissão nada ocorre. Somos
Responsáveis por nossos erros?
Podes censurar-me a revolta?

(150)
Aprendi muito, esqueci muito
Também, e por vontade própria.
Em minha mente cada coisa
Estava sempre em seu lugar.

Não cheguei à paz senão quando
Tudo rejeitei com desprezo.
Compreendera enfim que é impossível
Tanto afirmar como negar.

(151)
Estudei muito quando moço.
Tive muito mestre eminente.
Orgulhei-me, regozijei-me
De meus progressos e triunfos.

Quando evoco o sábio que eu era,
Comparo-o à água, que se amolda
À forma do vaso, e à fumaça,
Que é dissipada pelo vento.

(152)
A tristeza e a alegria, o bem e o mal
São parecidos aos olhos do sábio.
Para o sábio tudo o que principiou
Deve acabar. E se assim, pergunta

A ti mesmo, se tens, irmão, motivo
De porventura te regozijares
De uma felicidade que te chega,
Te afliges com o mal que não esperavas?

(157)
Olha em torno de ti. Verás somente
Angústias, aflições e desesperos.
Teus melhores amigos já morreram,
Tens por só companhia, hoje, a tristeza.

Mas levanta a cabeça! Abre os dois punhos!
Agarra firmemente, caso o avistes
À mão, o que desejas. O passado
É um cadáver que deves enterrar.

(162)
Não vês mais que as aparências
Das coisas e das criaturas.
Percebes tua ignorância,
Mas não abdicas do amor.

Aprende que Deus nos deu
O amor com a mesma intenção
Com que fez na natureza
Certas plantas venenosas.


(164)
Pobre homem, nunca saberás
Nada; jamais explicarás
Um só dos mistérios do mundo.
E já que as religiões prometem

Depois da morte o Paraíso,
Busca tua mesmo criar um
Para teu gozo aqui na Terra,
Pois o outro talvez não exista.

(165)
Lâmpadas que se apagam, esperanças
Que se acendem: aurora.
Lâmpadas que se acedem, esperanças
Que se apagam: noite.

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aninha 06/01/2023

esse homem realmente disse "eu não ligo pra nada nessa vida só quero beber vinho e morrer em paz" huh

achei os quartetos engracadinhos e só de ser um texto do século 11 já valeu meu tempo de leitura, acho que nunca tinha entrado em contato com um material tão antigo

meu favorito foi o n° 93
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Bianca 18/02/2022

Samarcanda
Recomendo para todos o livro Samarcanda (Amin Maalouf), ficção histórica que me apresentou esse incrível personagem Omar Khayyan e me trouxe à leitura de suas quadras! Após se encantar com o poeta, suas palavras se mostraram mais poderosas.
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Sintaxe 21/01/2024

Os Sábios
"Assim Portinari vê o carnaval./ E vejo Portinari nesta cena./ As formas se interligam, e da aliança/ brota o gozo de viver em plenitude/ o plástico milagre da existência", Carlos Drummond de Andrade em "Poesia Errante".

"Ah, não procures a felicidade!/ A vida dura o tempo de um suspiro./ Djemchid e Kai-Kobad hoje são poeira./ A vida é um sonho; o mundo, uma miragem", Omar Khayyam em "Rubaiyat" (tradução de Manuel Bandeira).

A sabedoria dos poetas é uma sabedoria mentirosa. É a sabedoria do disfarce, da festa, do fantasma, do simulacro. A sabedoria que redime o insaciável Dioniso, empapelado pelos laivos de sua miséria aviltante. Sabedoria do encanto e do belo; sabedoria plástica de Apolo. Os poetas criam e com isto mentem. Como Deus um dia mentiu ao criar. A vida é uma imagem, bebe o vinho de tua copa e fá-la sempre mais bela. Sempre, sempre! Depois que há? Vais para o abismo do Nada. Tanto melhor! Quando a Verdade alcança o homem, este já está a sete palmos abaixo da terra, sem nada aulscutar, sem nada presenciar. A sabedoria da poesia é saber mentir até o retorno desta nossa uterina companheira: a Morte.
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