Camila Lobo 26/08/2016Resenha: Destinos de Papel (Por Livros Incríveis)Rebeca é uma jovem de 19 anos que é meio desmiolada, cheia de próprias regras que segue a risca, ainda mais por conta de algumas situações que passou na vida. Sem esperanças para o futuro e cursando psicologia só porque conseguiu uma bolsa, ela é surpreendida ao conseguir um estágio num colégio, passando a atuar como conselheira dos alunos. E é assim que conhece a adolescente Júlia Nakagawa, uma garota estranha que usa maquiagem pesada, sempre se mete em problemas e consegue ver o passado e prever o futuro ao tocar em uma pessoa.
O que Rebeca achava se tratar apenas de um simples estágio, se transformará em algo maior quando conhece um possível amor (algo impossível em suas regras) e Júlia vê algo que se recusa a falar para alguém, mas que pode mudar a vida de todos eles.
É tão difícil resenhar um livro que se gosta tanto, porque faltam palavras para descrever uma história que tanto cativou e tanto te fez sentir. Portanto, peço desculpas antecipadas caso eu não consiga mostrar o quão adorei Destinos de Papel.
Ao contrário de Tenshi, seu livro anterior, Destinos de Papel já possui um ambiente familiar (ao menos para mim) porque se passa no Rio de Janeiro. Logo, muitas cenas foram particularmente ainda mais gostosas de ler, porque a autora consegue passar a familiaridade do dia a dia carioca na história. Vale lembrar que a protagonista tem uma fala que passa muito sobre como o carioca costuma falar. Mas a leitura não se torna cansativa e Rebeca não se torna forçada e chata. Pelo contrário, achei que por não ter uma linguagem extremamente formal e ao mesmo tempo, sem muitas palavras de baixo calão, o livro é muito bem escrito, já que é narrado pela jovem como se ela estivesse contando a história da vida dela ao leitor. Por isso, trata-se de uma leitura rápida, onde se assimila facilmente os acontecimentos.
Como Rebeca passa a ser estagiária de psicologia (apesar de ela mal saber o que está fazendo, gente!), temos a depressão como o tema principal. Assim como em outras resenhas, volto a bater na tecla: esse assunto é de EXTREMA importância. E é ótimo que cada vez mais livros sejam lançados tratando da doença de diferentes perspectivos. Em Destinos de Papel, a doença é abordada de forma dolorida, pois lida com adolescentes. Os motivos que levaram a doença são tristes e são reais. Entretanto, Rangel consegue abordar o assunto de forma muito sublime, enfatizando a importância de falar sobre e lutar contra, sem deixar a essência dos personagens acabar. Ou seja, por mais que o livro seja emocionante e faça as lágrimas rolarem – lencinhos são aconselhados – ainda há inúmeras partes que conduzem o livro recheadas de leveza, que provocam boas gargalhadas e profundos suspiros.
“Queria saber te explicar que os dias ruins vão sempre existir e que as pessoas cruéis cruzam nosso caminho o tempo todo, mas que existe o outro lado. Existem os dias bons, as pessoas boas... existe gente por quem vale a pena se apegar.”
Eu me identifiquei com a Rebeca. Não porque sou parecida com ela, mas porque queria ser como ela em muitos aspectos. Como mencionado no início da resenha, ela é desmiolada. Ou como ela menciona ao leitor logo no início do livro, ela é um espírito livre. O fato é que a protagonista é um tanto avoada, não pensa, é impulsiva e faz muita coisa errada. Mas o fato de ela ser tão espontânea, autêntica e coração aberto – por mais que ela evite o apego. É totalmente contra o apego – fazem Rebeca ter um conjunto de características muito especial, tornando a personagem alguém que eu gostaria muito de ter amizade com. Ela é muito original e é uma protagonista com presença realmente forte durante toda a história, dando tom e cor ao livro.
“Sim, meu peito doía a insuportável dor do apego. A dor sem cura, causada por alguém que você gosta além do que deveria e sabe que não suportaria ver essa pessoa ir embora. Só que as pessoas sempre vão embora, sem se importar com a dor que deixam.”
Como não poderia faltar, Júlia Nakagawa, principal paciente da estagiária de psicologia, é descendente de japonês. Perdeu o pai ainda criança e por isso, mudou radicalmente a atitude, sendo uma garota mal educada, se afastando propositalmente de todos. Para completar, ela tem o estranho dom de visualizar o passado e o futuro das pessoas, e por isso, Rebeca a chama de garota satoru-kun, lenda japonesa parecida com Júlia. A relação dela com o irmão, Lucas (o interesse romântico da protagonista) é muito triste. Ele não sabe como ajudá-la, ela não sabe como pedir ajuda. Foram momentos extremamente tristes na história, onde o sofrimento de Nakagawa era palpável. São personagens muito queridos, assim como tia Rosa, e Laura, personagens que também me foram muito queridas, mas que não posso me estender muito sobre (olha o tamanho da resenha, gente!)
O mistério ao redor do destino dos personagens não é bem um mistério, e dou isso como proposital. Afinal, logo no início já sabemos o que vai acontecer, e a partir de então a protagonista narrará os acontecimentos que desencadearam aquela situação. Foi algo que gostei na história, e por isso, a considero QUASE livre de spoilers. O principal o leitor já descobre logo no início e a curiosidade fica por como os personagens chegaram naquele ponto. Particularmente, foi um dos pontos que mais gostei, porque é justamente por isso que gosto de spoilers. Pra mim, a graça está em como aconteceu.
Entretanto, o que mais gostei mesmo foi sobre como Luciane Rangel aborda a questão do apego. A protagonista bate incessantemente na tecla sobre nunca se apegar a ninguém. Obviamente, ela vai se apegar. Mas a sensação que fica no leitor é que ele também não vai se apegar e quando menos se espera, já está sofrendo com as pessoas que parecem tão reais na história. O apego vai chegando sem que nos demos conta. E quando percebemos que já amamos Rebeca, Júlia, Lucas, Laura e tia Rosa o sentimento é ainda mais gostoso.
Depois da história fofa que foi Tenshi, Luciane Rangel traz outro romance cativante, com assuntos mais sérios e tratados de forma exemplar, sem deixar de lado seus traços marcantes, com personagens de olhinhos puxados, muitas cenas fofinhas e comicidade. Destinos de Papel é uma leitura recomendada a todos que gostem de qualquer um desses traços.
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