Carous 12/03/2020Não sou capaz de opinar[GATILHO: tortura, abuso, estupro, estupro gráfico, suicídio]
(aff, eu ODEIO livros que não alertam o leitor de possíveis gatilhos!)
Não sei muito bem como classificar este livro? Eu gostei, e adorei como Mindy McGinnis discute sobre a definição de insanidade. Obviamente, no século XIX, do jeito que o povo era paranoico e ignorante tudo era maluquice e a solução era trancafiar as pessoas num asilo e esquecê-las lá. O tal insano podia ter a infelicidade de ir morar num asilo como o que Grace viveu em Boston, com equipe médica e de enfermagem não muito profissionais; ou a sorte de ir para um asilo como de Ohio em que o tratamento era mais humanizado com profissionais com mente mais progressista e aberta.
Este livro é tudo o que a série de Kerri Maniscalco queria ser, mas falhou, inclusive a respeito de personagens bem construídos que ganharam minha simpatia. E é uma espécie de Jackaby, sem os elementos sobrenaturais e o humor. Falta muito humor aqui. No lugar, temos descrições de como os pacientes eram submetidos a tratamentos cruéis.
A vida nesses lugares não era fácil.
Impressiona o sofrimento dos residentes e as razões que os colocaram ali, como esposas eram traídas pelos próprios maridos por ganância, filhos e filhas jogados pelos prórpios pais num hospício para encobrir segredos de família - que é o caso de Grace -, o puritanismo que impedia as pessoas de entenderem que mulheres também têm desejo sexual e a lista é infinita.
O que Mindy McGinnis mostrou no livro é que poucos foram internados por serem mentalmente incapacitados.
Não tenho muito a comentar sobre os personagens. Grace é ótima, foi bem construída, as amigas dela também e serviram para dar uma leveza na história. Gostei como a autora incluiu profissionais como a enfermeira Croomes e profissionais como a enfermeira Janey. Taí uma coisa que não mudou nos dias de hoje.
Falsteed, Reid, Ned, Nell, Elizabeth, sra. Clay, Adelaide, todos têm lugar no meu coraçãozinho. Apesar de serem apenas personagens fictícios, desejo tudo de melhor para eles.
E eu gostei do dr. Thornhollow, mas achei que em um dado momento ele ficou um tanto quanto apático, sendo manipulado por Grace que buscava vingança.
Acontece que a história se desenrola de um modo que bateu de frente com a minha ética. Não sei se havia uma saída melhor, mas a solução dos assassinatos em série somando à acusação de falso estupro me deixaram um pouco desconfortável. Foram dois momentos em que eu compreendi as boas intenções de Grace, mas senti que ela se aproximou muito da falta de escrúpulo do pai. Mais do que eu gostaria e nenhum personagem mostrou isso a ela.
Mas também não ficarei aqui defendendo um canalha estuprador, correto?
Último comentário sobre esse assunto: concordo com a opinião da Emily May (Goodreads) sobre a sentença do pai de Grace. Ele não é doido, maluco, insano. É apenas um homem horrível, prepotente e abusador que merecia ser definido pelos adjetivos adequados ao invés do genérico "louco".
Quanto à edição, tenho que conferir o original, mas achei que a tradução vacilou bastante. Algumas palavras eram bem obsoletas, perfeitas para uma história que se passa em 1890; outras eram coloquiais demais para a época. E havia também algumas frases que foram simplesmente traduzidas ao pé da letra ao invés de serem bem interpretadas e adaptadas direito.
O texto é rápido de ler lido, apesar de ser uma leitura pesada. Só os primeiros capítulos me deixaram bastante angustiada. Que bom que depois a autora pesou menos a mão.