Diego Rodrigues 16/02/2023
"Abomino a rotina enfadonha da existência. Anseio por exaltação mental"
Figurinha carimbada dentro da cultura pop, Sherlock Holmes dispensa apresentações. Desde que suas histórias começaram a ser publicadas, em 1887, o detetive de Baker Street já figurou no cinema, no rádio e no teatro, já virou série de TV e é tido como uma das personalidades mais reconhecidas do mundo ocidental. No rastro de Dupin (o detetive criado por Poe), ajudou a definir a literatura policial e, ainda hoje, é comum nos depararmos com adaptações e releituras de suas obras, bem como sentir as reverberações de sua influência.
Publicado originalmente em 1890, "O Signo dos Quatro" é o segundo romance estrelado por Holmes e marca a estreia do antológico personagem nos EUA. O romance foi encomendado por um editor da Filadélfia justamente com o intuito de apresentar o detetive ao público americano. A estratégia vingou e logo o livro se tornou um best-seller. Na trama, que abre com a polêmica cena de Holmes fazendo o uso de cocaína, vamos acompanhar os desdobramentos acerca de um caso envolvendo uma donzela em perigo, um enigmático desaparecimento e um tesouro perdido. Tudo temperado, é claro, de muita ação, mistério e aquele humor típico inglês que já conhecemos.
"Minha mente rebela-se contra a estagnação. Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o mais abstruso criptograma ou a mais intricada análise, e estou em casa. Posso prescindir então de estimulantes artificiais. Mas abomino a rotina enfadonha da existência. Anseio por exaltação mental". Essa frase, logo no início do livro, já dá o tom. Temos aqui um Holmes completamente amargo e à beira de uma crise existencial sempre que não está com a mente ocupada. Alternando entre momentos de sagacidade e depressão, o detetive nos permite entrever um pouco de seu lado mais sombrio e, em alguns momentos, nos presenteia com algumas de suas famosas pílulas filosóficas. Interessante que eu não tenha percebido isso nas histórias de Holmes que li quando mais novo, bem como alguns elementos racistas. Enfim, percepções que a maturidade nos traz...
Contudo, voltemos ao foco que é o lado policial do romance. Doyle, mais uma vez, é impecável. Você lê a primeira página e já está envolvido na trama, impossível largar! Alternando entre cenas de ação e suspense, a narrativa imprime um ritmo frenético. Holmes e Watson percorrem as ruas de Londres enfrentando o perigo em busca de pistas e o que parecia um simples caso acaba de revelando uma complexa rede intrigas impulsionada pela cobiça humana, com direito a envenenamentos e perseguições a bordo do Tâmisa. Uma trama pra ninguém botar defeito e que só o nosso detetive poderia desvendar. É o romance ideal para noites insones ou para curar aquela ressaca literária, você abre o livro e é transportado para longe de todos os problemas. Veio em boa hora, estava precisando de uma leitura assim!
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