Fernanda 15/10/2016Merecia ser um romanceMinha relação com esse livro foi bastante ambígua. Por um lado é um Harry Potter, né? Não tem como ser ruim rever os queridíssimos personagens da saga e voltar ao universo maravilhoso criado por J. K. Rowling. Por outro lado, não se trata exatamente de um livro, mas de uma peça de teatro. E é aí que estão os problemas.
Imagino que "Harry Potter e a criança amaldiçoada" deva funcionar muito bem no palco (por favor Charles Möeller e Cláudio Botelho produzam essa peça!). O problema é que peça tem uma estrutura narrativa que não combina com Rowling e nem com seus personagens.
Boa parte da graça dos livros de Harry Potter está na narrativa de sua autora. Rowling é maravilhosa com as palavras. Suas descrições nos transportam a um universo mágico em que não apenas adentramos em outro mundo, mas conhecemos o íntimo dos personagens. E isso não existe em uma peça, onde as cenas são descritas em poucas frases no início dos atos para orientar a produção do espetáculo. Isso faz com que "A criança amaldiçoada" seja um Harry Potter muito, muito, muito limitado.
Peças teatrais podem combinar muitíssimo bem com Shakespeare (que eu adoro!), Ésquilo ou Sófocles, mas não combinam com J.K. Rowling! Daqueles autores só conhecemos as peças e poemas (se deixaram contos ou romances desconheço o fato). J.K. Rowling não. Conhecemos seus livros, sabemos de sua capacidade e é por isso que sabemos que "A criança amaldiçoada" está muito aquém dela.
Então o livro não é bom? Claro que não, a história é ótima! Amei a trama! Que delícia reencontrar Harry, Rony e Hermione adultos, com novas responsabilidades e preocupações. Embora o personagem principal seja Alvo Severo, filho de Harry, o personagem que ganhou meu coração foi Escórpio, filho de Draco.
Na verdade, o que me deixou chateada com esse livro é que ele é tão legal que merece ser mais do que uma peça. Por favor J.K. Rowling, transforme "Harry Potter e a criança amaldiçoada" em romance! Please!