Marcelo Dias 24/09/2016
Os fabulosos contos que não saem de moda!
Desde os primórdios da humanidade, antes mesmo da escrita, as pessoas já contavam e se utilizavam de histórias fantásticas para os mais diversos fins, fossem eles: educar, transmitir conhecimentos e valores ou meramente entreter longas noites ao redor do fogo depois de um dia de trabalho. Com o passar do tempo, tais histórias começaram a ser transpostas do relato oral para a forma escrita por uma multidão de escritores anônimos e esquecidos na história. Assim, o gênero "conto de fadas" foi adquirindo as características, o tom e o estilo que hoje conhecemos, mas não podemos precisar exatamente quando surgiu. Nesse ínterim, alguns nomes de escritores, tradutores, coletores e adaptadores de histórias de fadas fizeram-se notáveis, dentre eles: Giovani Straparola, Giambattista Basile, Charles-Joseph de Mayer, Charles Perrault, Madame d’Aulnoy, Modemoiselle Leprince de Beaumont, Mademoiselle de la Force, Jacob e Wilhelm Grimm, Madame de Villeneuve e, em especial, Andrew Lang.
Antropólogo, folclorista e entusiasta dos contos de fadas, Lang selecionou algumas histórias e reuniu uma equipe para adaptá-las especialmente às crianças e compilá-las em um livro. O chamado "O Fabuloso Livro Azul" viria ser o primeiro de uma série de doze volumes. Lang não tinha intenção de criar uma série de livros, mas a imensa popularidade de cada um dos livros coloridos forçava-o a reunir mais e mais histórias. Além dos 37 contos de O Fabuloso Livro Azul, Lang reuniu, nos 21 anos em que publicou a série dos Fabulosos Livros Coloridos, mais quatrocentas histórias nos onze volumes subsequentes e estabeleceu em língua inglesa o "cânone" dos contos de fadas que influenciou diversos escritores e gerações de leitores.
"Era uma vez..."
Ah! Que misto de encanto e atração três simples palavras nos despertam!
Adquiri esse livro através de uma campanha de financiamento coletivo da Editora Concreta e digo, sem rodeios, que foi minha melhor aquisição esse ano. O título não poderia descrevê-lo melhor: fabuloso! O livro em si é muito bonito e atraente, seja na diagramação, na encadernação, na fonte etc., tudo isso, mérito da editora, claro. Ademais, apresenta um conteúdo que transborda cultura. São 37 contos, sem distinção entre contos de fadas e histórias folclóricas, a maioria em suas versões originais (ou as mais originais que Lang encontrou). Vale salientar que Andrew Lang não é o autor das histórias, e, sim, o compilador dessas.
Todos os contos são sensacionais e apresentam lições igualmente formidáveis. Tais narrativas fantásticas nos conferem um senso de estrutura e regras que permitem a fixação do conteúdo moral, além disso, o deslumbre que nos causam expande nossa capacidade humana de imaginar e sentir. Outrossim, nos ensinam que a felicidade é condicional, como diria Chersterton: "uma incompreensível felicidade se apoia numa incompreensível condição" ¹. Esse é o grande legado dos contos de fadas.
Recheado de elementos fantásticos como gigantes, anões, ogros, trolls, animais falantes, feiticeiras e claro, fadas, o livro se torna um prato cheio para pais que desejam despertar em seus filhos o gosto pela leitura ao mesmo tempo em que os aproximam das obras clássicas através dos atemporais contos de fadas. Não obstante, recomendadíssimo para qualquer pessoa que, apesar da idade, ainda tenha a capacidade de se maravilhar com um "Era uma vez..."! Que venha o Fabuloso Livro Vermelho!
¹ Chesterton acerca dos contos de fadas: https://goo.gl/S5AqQp