Deise.Amorim 19/05/2022
Poema inspirado no livro.
Se as paredes de meu banheiro pudessem romper o silêncio...
Se meu chuveiro resolvesse narrar minha saga.
Diriam que já me flagraram morrer infinitas vezes.
Me viram escorregar e beijar o piso, sem coragem de erguer os olhos embassados, doloridos.
Lembrariam de minha alma escorrendo pelos poros, arrepiados, como se fora insultado por um fantasma.
Diriam que muitas vezes viram meu coração sangrar, como se nenhuma compaixão fosse alcançar-me.
O ralo, talvez comovido,
contaria de meu medo da calvície precoce.
O suporte da perfumaria, empoeirado, não sei se esnobaria minha ausência de beleza ou se irritaria com minha falta de cuidado e vaidade.
O teto contaria, às vezes que em desespero renunciei as esperanças...
O sanitário teria pena dessa pobre alma, das tantas vezes pronunciei a palavra insignificância.
E o espelho, cansado de toda essa lamúria, contaria sobre as inúmeras crises existenciais.
Mas também com seu ego intacto, mostraria os sorrisos repletos de coragem que nasceram em dias de atenuadas dores...
Diria que nunca viu uma pessoa morrer e reviver tantas vezes em uma só vida.
Diria que aprendeu um novo sentido para a beleza quando aprendeu o significado da resiliência humana.
Se meu banheiro pudesse falar...
Diria que é sem dúvida quem mais conhece as miudezas de minha alma.
Meus medos, pesos, sonhos, segredos, minhas canções favoritas, meus fracassos e superações.
Deise Amorim ?