Erick.Kogikoski 20/04/2018
Principais partes do livro. Pequeno resumo que pode conter algum spoiler.
Embora na capa do livro sejam apresentados personagens de forma satírica, a descrição dos fatos no livro é realizada de forma séria e nos apresenta a gravidade do maior conflito da América do Sul, responsável por indicar os rumos futuros das nações até os dias de hoje, no Brasil não é muito comentada, mas está bem viva na memória do povo Paraguai, que a chama de guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai).
A guerra não foi a luta pela conquista de um trono, por riquezas ou territórios, mas sim por conta de uma controvérsia gerada em torno da livre navegação na bacia da Prata, que envolvem os rios Uruguai e Paraná e já ocorria há muito tempo na região.
O início do livro nos traz a origem do Paraguai e seus governantes, em uma época onde o interior da América do Sul ainda estava sendo desbravado e algumas regiões sendo estabelecidas e delimitadas. Somos informados a respeito da independência do Paraguai e formação do seu governo, até a ascensão de Carlos López. Seu filho, Solano, viaja para a Europa e mantém boas relações com Napoleão III, além de conhecer sua futura amante Elisa Lynch.
De volta ao Paraguai, Solano López foi indicado pelo seu pai na tentativa de evitar uma guerra entre as províncias de Buenos Aires e Entre Rios, sendo distinguido por elevadas honrarias e o título de Pacificador.
Por volta do ano de 1864, Venâncio Flores começou a chamada “Cruzada Libertadora de Flores”, sendo auxiliado pelo barão de Tamandaré e sua frota que impuseram um bloqueio à Montevidéu, com o intuito de tomar o poder. Quando López soube, emitiu uma nota ao governo brasileiro definindo a manobra como um ato de guerra, na verdade Solano López estava com receio de perder o seu livre acesso à navegação na bacia do Prata, e, além disso, ele havia “confiscado” o navio Marquês de Olinda, do Brasil, que estava em passagem por Assunção rumo ao Mato Grosso, segundo relatos, continha uma carga preciosa, a tripulação, inclusive o chamado presidente do Mato Grosso, foram feitos prisioneiros e nunca mais retornaram para o Brasil.
Pouco tempo depois a Armada Brasileira e o exército de Venâncio Flores rumaram em direção a Paissandu, onde ocorreria a batalha mais encarniçada do período, em um ponto estratégico da bacia do Prata.
No mesmo período, Solano avançava um pequeno contingente de seu exército em território brasileiro, no Mato Grosso e um outro em direção ao Rio Grande do Sul, emitindo uma solicitação de passagem ao governo argentino, que foi negado. Já, para o almirante Tamandaré, a permissão para navegação no rio Paraguai havia sido autorizada. Neste momento, López também declara guerra em relação a Argentina, algo que ficou em sigilo pelo presidente para evitar revoltas em territórios próximos ao Paraguai, que poderiam aderir a López e não Mitre.
A ideia de Caxias era enviar um grupo de Voluntários da Pátria, de 9 a 10 mil homens para o Mato Grosso e recuperar o território avançando em direção ao Paraguai, no front sul, a esquadra comandada por Barroso avançou até Riachuelo, afundando algumas embarcações paraguaias e fazendo-a recuar até Humaitá.
Outro pequeno contingente de soldados, liderados por Estigarribia, chegaram em Uruguaiana e lá ficaram, principalmente devido às condições em que estavam, debilitados e sem recursos materiais, como roupas, alimentos, etc. Neste momento, se reunião nos entornos da cidade, Pedro II, Bartolomeu Mitre e Venâncio Flores, sendo conhecido como o encontro da Tríplice Aliança, na tríplice fronteira, conseguindo retomar a cidade.
A partir de então, o Mariscal ordenou a retirada de suas tropas, recuando e liberando a província de Corrientes, aparentemente, a guerra estava próxima do fim, pois, naqueles poucos meses de guerra, o Paraguai já havia contava com 21 mil mortos e 5 mil enfermos.
No começo de 1866, López começou os julgamentos de seus antigos subordinados, sendo condenados à morte, e alguns até mesmo sendo torturados.
A Aliança então adentra o território paraguaio e ocorre a maior batalha da América do Sul, a batalha à beira do lago Tuiuti, deixou mais de 4000 mortos para a Aliança e outros 4000 para o Paraguai.
Posteriormente, houve um encontro entre o presidente argentino, Mitre, o uruguaio, Flores e o Mariscal paraguaio, o representante brasileiro resolveu não participar da reunião, pois tinha recebido ordens de Pedro II para não manter relações com López. Nesse momento, temos uma conversa para chegar ao tratado de paz, com rendição e deposição de López, que era o único alvo e não o povo paraguaio. Solano tentou realizar um tratado apenas com Argentina e Uruguai, mas sem sucesso. Embora não tenha alcançado a paz, o tempo utilizado para esse encontro e negociações foi suficiente para que o Paraguai conseguisse recompor suas linhas em Curupaiti, o próximo e doloroso passo para a Aliança.
Com as perdas e a desorganização geradas nessa batalha, Pedro II conversou com o então marquês de Caxias, que desaprovava completamente o modo como estava sendo conduzida, especialmente em relação a Tamandaré.
No front brasileiro em Mato Grosso, foi enviado um contingente, que, embora tenha tido muitas perdas devido às doenças e dificuldades do trajeto, conseguiram chegar a Coxim, e posteriormente a Corumbá, onde capturaram e degolaram os 400 paraguaios sobreviventes.
López, que havia recuado bastante em território paraguaio, realiza um ataque surpresa em Tuiuti, na tentativa de prejudicar e atrasar as tropas aliadas, pois ele não queria que chegassem ao forte de Humaitá, seu principal ponto de defesa, sem sucesso, pois posteriormente a esquadra brasileira consegue avançar na perseguição ao Mariscal.
Os julgamentos e execuções por parte do líder paraguaio continuavam, sendo que ele chegou a prender sua mãe e irmãos, executando Benigno, o mais jovem, que tentou através de estratagemas tirar Solano do poder. A crueldade continuava, com o apoio do padre Fidel Maíz, que não poupava condenações.
Com a chegada de Caxias, ao longo de seus 63 anos, no front, a guerra toma um novo rumo, com a chamada manobra de Piquissiri, considerada uma das mais ousadas e estratégicas da guerra, é realizada uma tentativa de cerco às tropas paraguaias e dá início a Dezembrada, que em 27 de dezembro, consegue um avanço frontal e pelos flancos leste e oeste, derrotando completamente as forças paraguaias.
Após o sucesso dos ataques, Caxias retorna ao Brasil, não se preocupando em capturar o líder paraguaio, onde boatos diziam que ele fugira para a Bolívia, recebendo asilo, sendo que na verdade ele havia tomado o rumo de Cerro León, no departamento da Cordilheira. Em 1º de janeiro de 1869, as tropas aliadas marchavam sobre a capital paraguaia, realizando saques, arrobando portas de casa, arremessando documentos na rua. Neste momento não houve nenhuma consideração a disciplina militar, códigos de ética de guerra ou princípios da humanidade.
É designado então, por Pedro II, o Conde D’Eu, marido de princesa Isabel, para comandar a guerra e trazer Solano López, vivo ou morto, de preferência vivo, de modo diplomático, conforme a solicitação do imperador brasileiro. A princípio temeroso em relação a sua ida para a guerra, o Conde posteriormente foi reconhecido como um ilustre general por Deodoro da Fonseca.
No início de 1º de março, sob a liderança do general Câmara, soldados brasileiros empreenderam o ataque contra López, na beira do rio Aquidabã, ele foi perseguido pelo Cabo Francisco Lacerda, conhecido como Chico Diabo, que, de seu cavalo, arremessou sua lança e acertou Solano no baixo ventre, caindo de costas no rio. Os brasileiros bradaram para ele render-se, mas ele morreria pela pátria, com um tiro no peito, nisto, saquearam sua faca de prata com detalhes e cortaram sua orelha esquerda, que seria levada como “troféu”, outros tentaram saquear o corpo, apesar dos gritos de protesto do general Câmara.
O Brasil enviou 139 mil combatentes, onde 50 mil faleceram, a Argentina de 30 mil, 18 mil faleceram e o Uruguai de 5.000, mais de 3000 morreram. Já no lado paraguaia, as mortes chegaram a 80 mil (entre civis e militares), sendo que quase metade vítimas da fome e doenças, seria entre 15% e 20% da população do país.
Por fim, após tantas mortes e sofrimento, a livre navegação pela bacia da Prata foi alcançada, nenhum país teria mais prerrogativas especiais para circular em seus rios.