Marcella.Martha 13/06/2018
Quebrando a cara
É muito triste quando um livro do qual você esperava muito acaba sendo uma decepção, né? Meu fim de ano parece populado por esse tipo de leitura. Eu estava desesperada atrás de alguma coisa leve, bonitinha e gostosinha de ler para me recompor da montanha russa da depressão que foi Uma Vida Pequena e tinha certeza de que A Gentleman's Guide do Vice and Virtue seria a minha cura. A sinopse e a inundação de 5 estrelas e reviews no Goodreads me fizeram ter CERTEZA de que esse livro é meu número.
Quebrei a cara.
Antes de mais nada, eu sei que o mundo e sua mãe amaram A Gentleman's Guide to Vice and Virtue, então vou deixar claro que isso é um rant (para o caso de você não querer nem saber) e que a opinião aqui registrada é totalmente minha, pessoal. Não tô julgando ninguém que tenha gostado e se divertido com essa história, aliás, ótimo se você curtiu. Essa é só a minha opinião. Ok? Ok.
A primeira coisa que me fez desgostar do livro da primeira à última página (e que, ironicamente, parece ser a coisa preferida de todo mundo que amou) é o protagonista. O Monty é simplesmente detestável. Eu deveria achar ele engraçado, aparentemente (o goodreads at large considera esse livro HILÁRIO), mas a graça passou por mim e não deixou recado.
Henry Montague, nosso queridíssimo narrador e personagem principal, é um playboy do século XVIII que precisa urgentemente de um chá de semancol, mas por quem nós, leitores, devemos ter muita simpatia. Apesar de viver no luxo e ter tudo do bom e do melhor, ele tem uma péssima relação com o pai, o típico hipócrita babaca que bate no filho por ele ter uma certa inclinação por rapazes (e não ser nada discreto sobre isso, no século XVIII, quando a homossexualidade era, sabe, crime passível de execução e tal). É perfeitamente possível entender o drama pessoal do Monty porque, afinal de contas, o pai dele é um babaca agressivo e é revoltante que LGBTs sejam tratados como criminosos. Mas o pai dele some de cena em cinco minutos. Depois disso só o que resta é o Monty provando que ele meio que é um bosta mesmo, e não tem nada a ver com orientação sexual. Aliás, ele detesta o pai e tem pavor de pensar em se tornar o administrador da fortuna da família, mas não perde a oportunidade de dar uma carteirada de filho da nobreza.
O Monty é folgado, egocêntrico, extremamente egoísta e não tem um pingo de empatia naquele corpinho dele. O cara passa a vida INTEIRA convivendo com o Percy, seu melhor amigo por quem ele jura ter acordado apaixonado um belo dia (assim mesmo), e nunca se deu conta de que o Percy corta um dobrado por ser um negro em meio à alta sociedade britânica em 1700 e bolinha.
A história inteira do livro é, basicamente, o Monty tomando decisões estúpidas que prejudicam todo mundo porque ele simplesmente se recusa a ouvir a opinião dos outros. Ele comete um criminho de pura vingancinha boba ali pelo começo da história que coloca a vida de todo mundo em risco POR NADA. Literalmente. A irmã dele (que me pareceu a única personagem realmente carismática na história) e o melhor-amigo-crush-picolé-de-chuchu são arrastados pra cima e pra baixo, mesmo sendo decididamente contra tudo o que ele quer fazer, só porque ele vai lá e faz mesmo assim e acaba se ferrando.
Se o Monty fosse um pouquinho menos self-centered e realmente se importasse com alguém, o livro teria 150 páginas e olhe lá. Eu não consegui ver a graça desse narrador, que é só horrível e irritante, e o plot meio sem sentido que é levado basicamente pelas imbecilidades dele não me comprou. Eu ficava só revirando os olhos e pensando porque diabos os outros dois não falavam "Ah, mermão. Se vira aí, manda um recado quando terminar, vlw flw" pra ele. Era o que eu queria ter feito com o livro, btw, mas ele custou caro, então eu me forcei a seguir em frente.
O outro ponto central da história, que é o romance, também não me fisgou. O Monty é tão horrível, em especial com o Percy, que eu shippei zero esse casal. Não desejo um Monty para ninguém. E ainda tem o fato de que esse livro tem, possivelmente, o pior slow burn que eu já vi. Nas primeiras cinco páginas fica óbvio para qualquer idiota que os dois se gostam, mas de alguma forma eles transformam isso no pior mal entendido da história e enrolam até o final? Eu não sei como. O Monty, supostamente, tem o melhor gaydar de fábrica do mundo e consegue entrar numa sala e dizer imediatamente quem é que tá afim de dar uns pegas nele - exceto se essa pessoa for o Percy, aparentemente. Depois de tudo o que acontece no desenrolar da história, o Percy ainda estar a fim do Monty é totalmente não crível.
Ao contrário do pessoal, eu vi zero crescimento de personagem. Ele termina o livro exatamente como começou, não aprende nada com os MILHÕES de erros cometidos, é uma sucessão de besteira atrás da outra. Ele faz tudo de novo até zerar a conta e se ferrar totalmente. Aí ele para e pensa "É, talvez...". Ata.
Como se protagonista, plot e romance ruins não fossem o suficiente para arrancar estrelas, eu não consegui superar alguns vícios de escrita da autora. Ela coloca um LIKE a cada duas linhas da história, sempre comparando uma coisa a outra. Sério, abra o livro em qualquer página e veja se você não encontra pelo menos uma comparação com LIKE, e às vezes umas muito bobas tipo "I was breathless like I'd been running". Esse é o tipo de coisa que eu acho que o editor deveria pegar, mas a galera anda tão sedenta por sair publicando qualquer coisa hoje em dia (o que tem seus muitos lados positivos) que parece que nem se esforça na hora de dar um tapa de qualidade nos manuscritos (que é o lado negativo). Then again, esse livro tem mais de 4 estrelas de média, so what do I know?
A falta de graça do Monty (para mim) também fez com que o estilo de linguagem me incomodasse bastante. Era um narrador do século XXI, com uma visão século XXI sobre uma história que se passa no século XVIII. E isso até funciona em alguns casos, tenho certeza de que já li livros assim e gostei. Mas não aqui. Não pra mim.