bardo 12/05/2024
Reler Carrie agora no original 17 anos depois pode ser descrito como uma montanha russa de emoções. A leitura forçosamente mais lenta, pouco mais de 2 meses, provoca um nível de imersão que o conforto de ler na própria língua por vezes encobre. Quando separei essa leitura também ignorava que estamos comemorando 50 anos desse primeiro King, que chega já com o pé na porta e ainda hoje é relevante.
Aliás, ainda que receio os fanáticos não permitiriam, esse livro deveria ser leitura obrigatória para adolescentes, muito antes de virar modinha King estava lá falando de bullying sem ser palestrinha, não! O autor leva o leitor numa jornada empática perturbadora onde não existem mocinhos e bandidos (ok pode-se odiar Mrs White? Mas numa perspectiva mais ampla ela também era uma vítima). King não diz como o bullying é horrível, não, ele te leva numa jornada de dor e horror. A escolha do narrador em 3ª pessoa, dos textos jornalísticos, recortes, entre outros envolve a narrativa numa impessoalidade amarga. O narrador não julga, ele só nos diz, Veja!!!!
Ao ler Carrie somos tomados de uma certa familiaridade, difícil não pensar em Jean Grey desconfio que King também pensou nela na construção de sua personagem, ainda que vá muito mais longe: a despeito de seu poder, em Carrie o horror está longe de estar nos poderes da jovem.
Os incautos que esperam uma história de telecinese, até vão encontrá-la, mas a ação demora para acontecer, certo que quando acontece não decepciona. King minuciosamente encadeia os fatos e quando a bomba explode o impacto é gigantesco.Porém os aspectos mais interessantes em Carrie estão longe de ser seus poderes, muito antes desses termos serem conhecidos King está nos falando de uma mãe narcisista e de mania religiosa.
Cabe dizer que ao contrário do que os patetas entendem King está muito longe de fazer apologia ao ateísmo, satanismo então passa longe. Já nesse primeiro livro King põe o dedo na ferida, não existe mal nenhum além do que o que nós mesmos podemos infringir uns aos outros. Mrs White tão obcecada pelo demônio torna-se a personificação dele.
Enfim Carrie é uma leitura que mesmo 50 anos de sua publicação conserva sua atualidade perturbadora e dialoga com temas que hoje nos deparamos nas escolas, redes sociais e meios de socialização em geral. Nosso horror ao ver nossa própria miséria refletida no outro continua nos impelindo as maiores maldades e atrocidades.