Alexandre Silveira 04/03/2017
Um romance policial à distância.
Já há algum tempo estou me debruçando sobre a literatura policial, não da forma como eu gostaria, mas pode-se dizer que venho lendo romances policiais com mais frequência do que antigamente. É curioso como às vezes deixamos de apreciar coisas que gostamos sem nenhum motivo aparente, pois eu sempre adorei estórias de cunho investigativo, mas só estou lendo-as com mais frequência nesses últimos meses. Pesquisando sobre autores policiais, acabei conhecendo Georges Simenon, autor belga do início do século XX e que escreveu MUITOS romances, sendo os mais famosos os que ele traz como protagonista seu detetive, o Comissário Jules Maigret.
Em Maigret se diverte, o detetive está de férias por ordens do seu médico, mas um crime intrigante ocorre em Paris (que envolve uma mulher rica encontrada morta e nua, cujo corpo está dobrado e foi colocado dentro de um guarda-roupa) e o investigador, que planejava fazer uma viagem com sua esposa, decide ficar na cidade para acompanhar o caso à distância, ou seja, tomando conhecimento dos acontecimentos apenas pelo que a mídia noticia. Esse é o ponto mais interessante do romance: Simenon tenta transformar seu detetive em um mero espectador. Maigret, por diversas vezes ao longo do livro, tenta se controlar para não tomar parte do caso e resolvê-lo ele mesmo, uma vez que o próprio comissário diz que tentará solucionar o caso como um detetive amador, acompanhando as notícias com o grande público e interferindo anonimamente na condução investigativa do caso.
Apesar de reconhecer a inventividade de Simenon na construção desse livro, sendo um livro que tem um proposta diferente de outras várias ficções policiais, senti falta de saber com mais detalhes as reações dos suspeitos conforme são interrogados, seus gestos e etc. O próprio Maigret têm dificuldades para se localizar no caso justamente por não ter conhecimento das expressões dos suspeitos e alguns dos detalhes estarem obscuros para ele, gerando uma experiência ainda mais divertida à leitura.
Além de tudo isso, a escrita sintética de Simenon contribui para a construção de um ritmo, característico de romances policiais. Há também alguns momentos em que tomamos conhecimento de questões mais filosóficas, tais como o desespero da mídia em cobrir tragédias para gerar audiência, o problema de confiar inteiramente em jornais como sendo a única fonte da verdade acerca dos fatos e a excitação quase sádica que casos de homicídio causam na população, principalmente de pessoas pertencentes à classe mais abastada.
Ainda quero pegar algum Maigret mais empolgante que esse, mas Simenon não deixa a desejar. Vale lembrar que esse é um livro sobre um detetive de férias, e acompanhamos não apenas o caso, mas também a sua rotina. A originalidade do autor está, justamente, nesse aspecto.
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