R...... 20/11/2018
A ficha catalográfica informa sobre uma ficção, mas em termos práticos não deixa de ser também uma biografia mais humanizada de Santos Dumont, com liberdades românticas e aventureiras. Não há formalismo histórico e a narrativa valoriza a personalidade visionária, audaciosa e persistente na conquista dos ideias inspiradores.
Esses aspectos são ilustrados em vários destaques no livro. A questão da historicidade não é a ênfase e o texto é bonito e envolvente, instigando algo positivo na leitura. O fato das descrições não serem muito abordadas, ou imaginadas, torna-as curiosas e atrativas. Seja na infância do Dumont (que destaca seu entusiasmo com Julio Verne e proposição de uma conquista), em encontros inusitados (gostei do referente à Princesa Isabel) e até mesmo na questão amorosa (com direito a momento inimaginável... sob o luar, sobre Paris). Evidentemente, muitas liberdades, mas inspiradas em fundamento verdadeiro. Dumont foi visionário e lutador por seus projetos.
No que refere-se às conquistas aéreas, muitos fatos são reais e acredito que existam outros, transcendendo o que o livro apresentou. Dumont tornou-se uma figura pública mundial. Vemos conquistas no balonismo, prêmios como aeronauta pioneiro (antes das datas que os americanos Wright alegam em seus primeiros voos com o Flyer), a superação dos desafios propostos na França, aventuras em voos noturnos e trajetória com quedas que poderiam ter sido fatais em vários momentos. Gostei muito dessas passagens.
O que não curti foi o final. Dumont parece perder protagonismo, ocorrendo uma supervalorização à descrições sobre os irmãos Wright, culminando numa saída de cena sem reconhecimento que o livro e a história pedem para o brasileiro. O autor poderia dissertar sobre porquês do pioneirismo.
Há uma injustiça mundial, pois Santos Dumont foi o aeronauta que aceitou os desafios propostos e os cumpriu diante do público, como nunca havia sido testemunhado oficialmente, enquanto os americanos voaram em público depois dele, alegando histórias anteriores em voos secretos, com a empáfia de terem desprezado convites para apresentação e ainda com uma história mesquinha de terem tentado vender sua ideia para os exércitos americano e francês. O que afinal era mais importante para eles?
Dumont foi muito diferente, pois suas realizações e conquistas expressavam uma conquista da humanidade, despretensiosa de interesses egoístas. Além disso, teve o pioneirismo de ser o primeiro a usar de maneira eficiente motores a gasolina em suas idealizações, algo que não tinha dado certo com outros ou era temido.
Enfim, achei que faltou desfecho com pareceres nessa linha.