Anica 26/04/2010
Juliet, Naked
Depois de terminar Juliet, Naked de Nick Hornby a sensação que tive foi de ter levado dois livros pelo preço de um. Explico: a história começa com Annie e seu namorado Duncan passeando pelos Estados Unidos, fazendo uma tour por lugares onde o roqueiro Tucker Crowe passou antes de abandonar a carreira. Duncan considera-se um “crowlogo”, e Annie até gosta das músicas do cara, mas está meio cansada da vida que tem levado com o namorado, que obviamente ama mais o roqueiro sumido do que a garota.
Se o livro ficasse por aí, seria um daqueles para colocar ao lado de Alta Fidelidade, com toda certeza. Os elementos estão lá novamente: a paixão pela música, a dor e incerteza da separação, o fato de perceber que os anos passaram e você não é tudo aquilo que planejou ser quando jovem. Tudo temperado com o humor típico de Hornby, é claro. Com momentos como quando Duncan fica irritado pela nova namorada não perceber o quão desorientado ele ficou com o fim de um relacionamento de quinze anos, e aí ele se dá conta que “ele tinha dito para ela que era só um arranhão e ficou chateado quando ela não ofereceu morfina”. São pequenos detalhes que estão ali nas disgressões das personagens, aquele tipo de coisa que torna Annie, Duncan e cia. “pessoas de verdade”, gente que tem uma história parecida com a sua e com quem você sentaria para conversar por algum tempo.
Mas aí chega um álbum de Tucker Crowe, “Juliet, Naked”. É uma gravação anterior ao grande sucesso do músico, “Juliet”, e lógico que após anos sem qualquer material novo os fãs se agitam com o novo material – sobretudo Duncan. A partir desse momento começa a se desenhar uma segunda história, envolvendo Crowe e elementos típicos de comédia romântica, daqueles que te fazem prever o que virá mas mesmo assim você continua lendo porque no final das contas já se apegou às personagens e quer ver no que vai dar.
E acredite, as personagens são MUITO cativantes. Como o próprio Tucker, que nos é apresentado aos poucos, primeiro sob o olhar dos fãs (e aí Hornby usa artigos de Wikipedia para montar a biografia do cantor) e depois do ponto de vista das pessoas que convivem com Tucker. Annie, que em teoria é personagem principal, algumas vezes some para dar um espaço para o desenvolvimento de figuras como o próprio Duncan, que tinha tudo para ser só um chato, mas é legal porque você de uma forma até meio cheia de culpa se reconhece nele. Afinal, todos que gostam de música, cinema e literatura invariavelmente caem na armadilha de misturar a vida pessoal do artista com sua obra.
Um exemplo disso é que Tucker é um fã de Dickens, e no momento que li isso lembrei de Frenesi Polissilábico e de como Hornby tinha mostrado-se encantado pela obra do escritor. Todo fã em algum momento já ficou pirando sobre alguma frase ou verso, pensando em exatamente qual mensagem estava escondida ali. E é por isso que digo que se Juliet, Nua e Crua fosse só sobre isso, seria um dos melhores livros do Hornby. Mas a partir do momento que começa a comédia romântica, você fica pensando em como daria um filme divertido sobre pessoas buscando a felicidade, mas hum, aí já não é mais tuuuuudo isso, não.
Mas não ser tudo isso não significa que seja ruim. Só ficou aquém do que poderia ter sido. Mas até pelas novas personagens que Hornby criou fica difícil não lembrar do livro com carinho, entre aqueles que não só te divertiram, mas que em alguns momentos fizeram você se identificar e pensar em sua vida. Vale a pena conferir. A tradução chegou no Brasil pela Rocco agora em abril, com preço chegando na casa dos R$35. Se você lê em inglês, dê uma sondada pelas edições da Penguin, que chegam na casa dos R$15.