Resenhas - Numa Hora Assim Escura

Isadora1232 15/04/2022

Um livro lindo, lindo, lindo...
... mas o que mais poderia se esperar das cartas de Caio Fernando Abreu a Hilda Hilst?

"você é a única pessoa a quem eu recorreria numa hora assim escura, e é o que estou fazendo" (P. 75).

O livro traz uma coleção de cartas que Hilda, após uma briga feia com o amigo, decidiu destruir. Por sorte, ao invés da fogueira, as cartas acabaram sendo entregues a um amigo (talvez numa representação de apego inconsciente de Hilda, que permaneceu presente na vida de Caio até seus últimos dias).

Aparentemente, tudo na relação dos dois era assim, muito intenso e apaixonado. Pra Caio, nada era simplesmente bom ou ruim - era sempre maravilhosíssimo ou terribilíssimo - e, isso, pra mim, é o que há de mais bonito.

As cartas são muito bem contextualizadas pela autora do livro. Com isso, conseguimos nos transportar facilmente no tempo e no espaço. Nos pegamos sofrendo e torcendo por fatos já consolidados há décadas. É como se sentir na sombra da famosa figueira centenária da Casa do Sol.

Recomendo demais aos fãs de Hilda, Caio, e também aos fãs de uma boa amizade literária. Muito bom!

Jessiane.Kelly 28/05/2021

"você é a única pessoa a quem eu recorreria numa hora assim escura, e é o que estou fazendo."
Eu adoro as cartas do Caio (e fiquei passada que ele já tinha a intenção de publicá-las), mas queria muito ver as cartas da Hilda também. Entendo que a autora só teve acesso ao material do Caio por um feito quase "do destino", mas ao ler as cartas dele dá uma impressão de uma amizade não correspondida e, mesmo com as palavras da autora tentando remendar isso, o material transpareceu o quanto Hilda foi ausente.

Também fiquei muito triste pela trajetória dele enquanto escritor no Brasil e com a falta de reconhecimento durante sua vida. Estou mais próxima de firmar a certeza de que ser escritor neste país é uma tarefa hercúlea...ou de quase morte. As partes em que ele viaja para a Europa são de muita angústia para aqueles que sempre fantasiaram com um ponto de virada em outros lugares que não aqui. Suas descrições e desilusões quanto ao Brasil poderiam muito bem ser o que vivemos nos dias de hoje. Foi nesse ponto, inclusive, em que encontrei muito amparo em suas palavras, mesmo que estas tenham sido escritas nos anos 70. Isso só me deixou com mais vontade de ler suas cartas e de ser sua amiga. Sorte da Paula Dip.

Candido Neto 17/05/2022

Hora escura e transparente.
Paula Dib foi amiga de Caio F. Abreu, não conheceu Hilda Hilst, mas foi e é sua leitora. Paula descorre uma biografia bem roteirizada onde as cartas do poeta a sua musa literária é o fio condutor.
Vejo o jovem de dezenove anos tímido e sem voz se desenvolver escrevendo, se afirmando, viajando, acendendo incenso, fumando potes, lavando pratos, escrevendo, escrevendo, escrevendo, escrevendo...
Ele sempre pede resposta as muitas cartas que escreve e diz precisar das palavras da amiga a todo momento, ainda mais "numa hora escura assim".
O escritor talvez seja essa transparência reveladora, mas escuro como em horas assim como as de Caio. Por isso tanta exposição, mostrar porque é transparente e escuro.

@eu_rafaprado 21/06/2022

A paixão literária de Caio Fernando Abreu e Hilda Hilst.
Numa hora assim escura.
A paixão literária de Caio Fernando Abreu e Hilda Hilst.
Escrito por Paula Dip.

Primeiro quero confessar meu desconforto em ler essas cartas, me senti invadindo a privacidade entre dois amigos e me coloquei no lugar do Caio, fiquei imaginando se alguém pegasse meu celular depois de morto e jogasse ao vento todas as minhas conversas com os amigos (Deus me livre), fato é que o Caio não escrevia simples ?bate papo? e sim produzia crônicas e textos incríveis e por isso, me perdoe Caio, realmente a Paula estava certa quando decidiu publicar este livro.
Paula Dip conta sobre a amizade de Caio e ?Hildinha?, como ele a chamava, e publica as cartas escritas pelo Caio nesses anos de amizade.
A Amizade que começou lá na casa do Sol em Campinas, quando caio tocou a figueira centenária no jardim de Hilda e fez 3 pedidos: Perder a timidez, vencer um prêmio importante de literatura e ir para Londres, de maneira mística, todos foram atendidos naquele ano.
Caio defendia a escrita de Hilda, divulgava sua amiga pra todos que conhecia, era o crítico e comentarista de Hilda - ?Pois é minha amiga, até escrevendo pornô você é chique?, já Hilda não era de responder muito as cartas de Caio, mas quando Caio sofria internado no qual seria seu último ano de vida, Hilda ligava diariamente para o amigo e fez uma publicação em sua homenagem.
Na noite em que Caio se foi, conforme prometido, foi despedir da amiga na Casa do Sol, vestido de vermelho como havia combinado, apareceu deu um abraço na amiga e se foi para a eternidade, essa aparição diria Hilda, era para provar que a vida no além era real e que ele estava bem.
Esse é um livro para quem ama literatura, para quem ama romance epistolar, para quem quer conferir fotografias lindas da amizade de Hilda e Caio.

#caiofernandoabreu #hildahilst #hh #pauladip #numahoraassimescura #lendomulheres #lendomulheresnacionais

Adriana Scarpin 01/03/2018

Passada a minha decepção ao me deparar com as pouquíssimas palavras de Hilda ao Caio oriunda de uma correspondência quase unilateral de Caio para Hilda, posso felizmente congratular o esmero do livro que muito se deve às inserções textuais de Paula Dip em meio às cartas, que nos situa temporalmente e esmiúça o tipo de relação que Caio manteve com Hilda, sobretudo quando as cartas cessaram e passaram a se falar pelo telefone diariamente logo após a descoberta de que Caio era HIV positivo.
Um livro que revela pouco de Hilda, mas muito de Caio, o que não é exatamente o que eu gostaria de ler, mas de cujas linhas não sai nada perdido.

Gloria.Lidia 08/06/2023

Só recorreria a você, numa hora assim escura
Não sou mais o mesmo: a dor foi tanta que agora tudo me alegra. Venci o grande poço de mim mesmo - os próximos serão menos escuros, eu tenho certeza.
Mando a coluna para você quando sair.

Um beijo do seu amigo de sempre,

Caio Fernando de abreu

gablues 30/05/2024

Sou completamente obcecada por cartas de escritores. Não sei explicar de onde vem essa minha vontade de invadir a privacidade alheia, o fato é: não posso ver um livro de cartas sem querer devorá-lo. Logo, esse livro aqui foi uma junção de uma obsessão antiga com uma mais recente - Caio e Hilda. 
Tive meu primeiro contato com esses dois escritores esse ano e saí transmutada a cada novo conto. Ambos têm uma sinceridade dilacerante em sua escrita literária, e é lindo ver como essa escrita se comporta em sua versão mais íntima - em suas cartas.
Infelizmente, não temos aqui as cartas de Hilda para Caio, me lembro de ter lido apenas uma escrita por ela. De resto, todas as cartas aqui presentes são de Caio para Hilda. Apesar dessa lacuna, o livro continua pura ternura, o jeito que Caio passa em suas palavras o carinho que tem por Hilda, a forma com que ele relata a ela seu estado emocional, sua rotina, suas piadinhas, enfim, é tudo muito sincero e muito íntimo. 
Saí desse livro sentindo que eu e Caio seríamos ótimos amigos. Ele parecia ser, acima de tudo, uma pessoa muito engraçada e genuína, do tipo que se entrega aos outros por inteiro e sem medo algum. Ter acesso a esse lado de Caio foi de uma preciosidade sem tamanho.

Anderson 20/10/2022

Poxa, só tem UMA carta de Hilda para Caio no livro. Sacanagem venderem como A PAIXÃO LITERÁRIA entre os dois, sendo que Hilda não respondia (ou pelo menos é o que parece, já que ele vivia implorando para ela escrever). Certo que a autora afirma que ao fim da vida eles se falavam cotidianamente pelo telefone, mas as cartas são 80% do tempo lamentos do Caio e silêncio de Hilda. Fiquei um pouco decepcionado.

beckkkj 14/08/2024

Do seu, Caio F.
Desde que li Caio pela primeira vez, fiquei encantada com os anexos de suas trocas de cartas. Isso me fez criar grandes expectativas para esse livro, que acabaram por serem frustradas, em certa medida.

O livro sugere que haverá uma troca de cartas entre Caio e Hilda e, na verdade, encontramos praticamente um monólogo. A falta de retorno de Hilda frustra Caio e frustra a mim, como leitora. A sensação de querer mais é imensa.

De qualquer forma, é lindo ler Caio. Sempre será. Ele que quis que suas cartas se tornassem públicas, me faz sentir um pouco mais perto do escritor que foi, encantado e frustrado com a vida e seu dom. A leitura é gostosa e fluida e a edição é belíssima.