Vanda 21/07/2017
sobre a seca e sobre a vida miserável e injusta dos habitantes dessas regiões não é coisa simples nem fácil, pois qualquer narração sobre os habitantes do árido sertão nordestino é inevitavelmente repleta de muita fome, perdas, dor, falta de expectativas e desesperanças.
Em "Brilho do Sol" a autora não conseguiu fugir desse contexto, entretanto, ela inseriu ao cenário João e sua família que dão beleza e emoção ao enredo. O livro é narrado na terceira pessoa do singular e segue uma linearidade temporal, o que facilita o entendimento da trama. A história tem início com o nascimento de João e, a partir desse acontecimento, o narrador começa a apresentar aos leitores os personagens e os fatos ocorridos após seu nascimento.
A principio, Teovaldo e Ana são a família de João. Com o decorrer do tempo nascemGabriela, Isabela e Maria Clara, irmãs de João. A família de Ana e Teovaldo apesar de viverem na mesma situação de miséria e fome das demais famílias locais, era rica em amor e fé. Todos percebiam que aquela família era diferente, pois não viviam se lamentando nem se maldizendo, pelo contrário, demonstravam felicidade e muita fé num amanhã melhor.
Ana já era uma pessoa iluminada, pois sentia prazer em tudo que fazia. Ajudava seu marido confeccionando artesanato rústico, dando beleza a sua casa e todos aqueles que adquiriam seus produtos sentiam os efeitos da felicidade que seus trabalhos emanavam. Teovaldo também era um homem pacato, trabalhador e religioso. Teovaldo e Ana amavam-se verdadeiramente e confiavam suas vidas a Deus.
“A vida dos três era baseada na felicidade. Tinham vida difícil como todos. Sofriam a dor da fome que corroia não só o corpo, mas também a alma, porém sabiam que tudo era passageiro, pois tinham fé, tinham esperança. Um dia, tudo seria diferente.”
As dificuldades enfrentadas pela família de João não eram diferentes das enfrentadas pelas demais famílias do vilarejo de Brilho do Sol que enfrentavam muita necessidade e uma constante luta contra a fome. Os homens sem vislumbre por dias melhores e sem energia e disposição para o trabalho, geralmente se entregavam à bebida. Já as mulheres, esquálidas e desnutridas, lutavam por suas vidas e pelas vidas de seus filhos e geralmente os perdiam para a fome.
Foi neste cenário de extrema necessidade que a faminta, desnutrida e esperançosa Ana pariu o desidratado, mas com um brilho especial no olhar, João. Por não terem como lutar pela vida de seu menino, Ana e Teovaldo entregaram a Nossa Senhora, madrinha de Teovaldo, o destino e a vida de João.
“João precisava vingar. Sua sorte era a sorte do sertanejo que precisava nele acreditar. Era preciso ter fé. Cada sertanejo em pé buscava em João a força que precisava para sonhar e sobreviver.”
Bem, queridos leitores, o que constatamos na história é que João e sua família transformaram a vida das pessoas daquela região. Como já sabemos, tristezas, alegrias, o bem e o mal existem em todo o lugar. Em brilho do Sol não foi diferente. Pudemos testemunhar que a inveja, que fazia morada em alguns corações, teve sua participação na história, injuriando e tentando prejudicar àquela família que, apesar de passar por tantas dificuldades e penúrias, não tinha carência de amor, fé, esperança e felicidade. No decorrer da leitura o leitor vai tendo contato com os dramas e vidas dos demais personagens, bons e ruins, que dão movimentação a trama e aguçam a curiosidade do leitor pelo desfecho.
“Brilho do Sol” é um livro pequeno que retrata a vida dos habitantes do fictício vilarejo nordestino, Brilho do Sol. Narra as mudanças trazidas para o local com a chegada da família de João, um menino que conviveu fisicamente com os habitantes até os oito anos de idade, quando, então, voltou a se encontrar com seus amigos anjos.
Trata-se de uma ficção na qual a autora, Roseli Magro, descreve de maneira simples e quase poética a sofrida vida das pessoas que nascem, se (sub)desenvolvem e morrem no sertão nordestino do Brasil, uma região marcada pela própria natureza pela constante escassez de chuva e pelo descaso das autoridades, produzindo, assim, fome, miséria, analfabetismo, baixa expectativa de vida e a pouca ou quase nenhuma capacidade desses brasileiros de sonharem com dias melhores.
A principal mensagem da autora é a de atenuar a dor não só dessa gente, mas a de todos os que passam por situações de extrema dificuldade, mostrando que apesar de todas as dores do corpo e da alma, é necessário ter fé, esperança em dias melhores, que com amor e felicidade a vida se torna mais suportável.
"Quem consegue, mesmo sofrendo tanta dor, ainda manter um pouco de amor dentro de si, será resgatado para Deus. Quem é consumido pela dor e não consegue enxergar mais nada, vai para o outro caminho, que não é o de Deus e se perde na obscuridade."
Para ambientar a obra ao local onde a trama acontece e para aproximar o leitor dos personagens, a autora utilizou nos diálogos entre os personagens uma linguagem um tanto diferente da que estamos acostumados a encontrar nos livros. É quase um “dialeto” que, a princípio, estranhamos um pouco, mas no decorrer da leitura vamos nos adequando e nos familiarizando. Vamos nos deparar, também, com algumas cenas, digamos, inverossímeis, ou improváveis de acontecer, mas acredito que tenha sido a maneira que a autora encontrou para ratificar junto ao leitor o milagre que o amor e a fé operam nas pessoas de olhares e corações crédulos, puros e justos.
"Brilho do Sol" é um livro pequeno, simples, mas tem um excelente trabalho editorial. A capa é muito bonita e sugestiva. A revisão e diagramação são muito boas, com fonte e espaçamento entre linhas excelentes para uma leitura rápida e confortável. Enfim, “Brilho do Sol” é uma leitura que encanta e regozija nossos corações.
Li, gostei e recomendo
site: https://clubedolivro15.blogspot.com.br/2017/06/resenha-nacional-brilho-do-sol-roseli.html