Marcos Pinto 28/12/2016O melhor da sérieA vida do delegado Dornelas parece estar, enfim, entrando nos eixos. Seu coração está tranquilo; seus filhos estão vindo lhe visitar e a cidade de Palmyra está tranquila. Porém, toda a tranquilidade que sentia se esvai em um único minuto. Pelo visto, essa coisa de felicidade plena é pura utopia.
No momento em que o ônibus que traz seus filhos chega à rodoviária, uma briga de trânsito com troca de tiros estoura. Dornelas é obrigado a intervir na situação. Contudo, o impensável acontece e o delegado se vê em uma situação desesperadora. Suas obrigações como policial nunca foram tão pesadas e ele precisará de muita força para não esmorecer naquele momento.
Para piorar, um corpo é encontrado em uma mansão no Centro Histórico. O crime cometido foi realizado de forma brutal. O coração da vítima foi arrancado e deixado em suas mãos. Claramente, a forma como a assassinato aconteceu mandava uma mensagem, mas qual seria? Aliás, quem será o destinatário? Caberá à equipe de Dornelas descobrir. Grandes revelações parecem vir por aí.
“Deitada sobre o lado direito, a jovem tinha os braços dobrados diante do rosto e as mãos agarradas a um coração. Fios de sangue escorriam por entre os dedos. A posição da cabeça, levemente inclinada, deu ao delegado a impressão de que ela morreu enquanto rezava. A camiseta branca fora reduzida a trapos empapados de sangue que cobriam parcialmente o torso e partes da bermuda bege” (p. 30).
Partindo dessa premissa, Paulo Levy cria um enredo altamente envolvente, ágil e que prende o leitor do começo ao fim. O autor sabe misturar muito bem as passagens inteligentes, suspense e momentos mais emocionais, tornando a obra completa e atrativa para uma gama maior de leitores. Ademais, a sua escrita mais simples, sem perder a qualidade, mostra-se ideal para o tipo de trama proposta.
Outro elemento que faz com que o livro seja mais interessante é o fato do assassinato ter relação com a maçonaria. Isso traz para a obra uma aura de mistério ainda maior. Ademais, faz com que os crimes tenham uma explicação mais interessante, todo um simbolismo por trás, fugindo simplesmente do padrão de crime passional.
Os personagens desenvolvidos na obra também merecem destaque. Dornelas, que já é um velho conhecido de quem já leu os livros anteriores, está ainda melhor. Sua carga psicológica está ainda mais profunda, tornando-o mais verossimilhante. Além disso, os outros personagens que seriam meros coadjuvantes mostram uma construção mais densa, mais trabalhada, fazendo com que o enredo fique mais completo e fugindo de receitas prontas.
“Já do estacionamento, Dornelas pôde notar que a delegacia de Marealto estava cheia. Pela pequena multidão apinhada na recepção, notou que se repetia ali a dinâmica que ele frequentemente via na delegacia de Palmyra: a maioria dos crimes ocorria nos dias próximos ou nos próprios finais de semana. Espantou-se com a relação quase direta entre tempo livre e crime, como se a simples falta do que fazer automaticamente se convertesse num convite ao delito” (p. 75).
Vale destacar, é claro, o bom trabalho que o autor faz com a realidade. Assim como acontece nas obras anteriores, Pedra Bruta também carrega uma boa dose de crítica social; o autor não deixa de soltar, vez ou outra, comentários ácidos sobre algumas instituições e sobre a sociedade. Isso faz com que o livro ganhe uma relevância maior, fugindo do puro entretenimento.
Quanto à parte física, não há o que reclamar. A capa é simples, mas representa perfeitamente o enredo; o mesmo acontece com o nome da obra. A diagramação, por sua vez, é bem básica, mas possui o suficiente para proporcionar uma leitura agradável, pois possui letras em tamanho confortável, um bom espaçamento e ótima revisão.
Pedra Bruta, sem dúvidas, mostra a evolução de Paulo Levy como escritor. Se os livros anteriores eram ótimos, esse consegue ser superior em todos os aspectos. Certamente é uma excelente opção para quem busca um enredo policial bem trabalhado e inteligente.
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http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/12/resenha-pedra-bruta.html