Queria Estar Lendo 22/11/2021
Resenha: O Poço da Ascensão
O segundo volume da trilogia Mistborn é também o motivo do meu colapso. Em O Poço da Ascensão, retornamos ao território sombrio e terrível do império final para confrontar as consequências das ações rebeldes do primeiro título dessa era.
Esta resenha vai conter alguns spoilers do primeiro livro.
O Senhor Supremo caiu e o império ficou instável sem ele. Um ano se passou desde os acontecimentos liderados por Kelsier, o Nascido da Bruma; sua morte não foi em vão em relação a torná-lo um mártir, quase um deus, aos olhos do povo. Mas, sem sua liderança, aqueles que o seguiam se veem tropeçando cada vez mais no peso que é conduzir um governo.
Vin tenta lidar com todo esse caos à sua maneira, patrulhando as brumas e garantindo que seu novo rei - o homem por quem está apaixonada - esteja seguro. Elend, por sua vez, tem o peso da coroa, das expectativas e das tensões margeando o império final sobre seus ombros.
As brumas parecem mais densas, tal qual o cenário político em que se encontram. Libertar o império de um único terror deu certo, mas como farão para garantir que ele não desmorone de vez?
O Poço da Ascensão foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores livros de fantasia e política e reviravoltas que já li. Se O Império Final me surpreendeu na construção da tensão e da sensação impossível que a rebelião passava, esse volume trouxe um dos cenários mais complicados que poucas histórias exploram: o que fazer quando você vence e derrota o supremo soberano do mal? Quais são os acordos políticos necessários? Quais são as ações que vão garantir que nenhum outro inimigo tente tomar o seu poder? É realmente a hora de apelar para a liberdade total ou um pulso mais firme é igualmente necessário para impedir tudo de desmoronar de vez?
O desenvolvimento político dessa história é simplesmente impecável. Todos os diálogos que acontecem entre os personagens daquele grupo rebelde, que agora precisa resistir ao peso da liderança, são impressionantes. Elend, à frente de todo mundo, é um rapaz desesperado por fazer a coisa certa - mas honra e moral não são necessariamente as melhores qualidades quando se lida com uma crise daquele tamanho.
Porque, lá fora, o império final está em colapso. Quando um cerco se forma a cidade de Luthadel, você entende o terror que nasceu com a queda do Senhor Supremo; outros tantos como ele querem tentar pegar o poder que ficou vago. Elend não representa a voz e liderança que tamanho império demanda, e ele vai precisar trabalhar muito para garantir que sua oposição não seja sua derrota.
Ao seu redor, personagens como Clubs, Ham, Breeze, Dockson, companheiros de luta de Kelsier, que vieram das ruas e da rebeldia para a "távola redonda" do poder, são bons contrapontos a toda a honra do personagem. Eles são vozes da razão em alguns momentos, um pouco extremistas em outro; oferecem desafios às colocações de Elend, mas estão sempre ali por ele, como estiveram por Kelsier (alguns mais do que outros). Eu amo o Ham e o Breeze, a razão pura e dura e a sensibilidade um pouco debochada que cada um deles oferece.
"As profecias nunca foram feitas para dizer nada específico, mas falar de um sentimento geral. Uma esperança geral."
E eu amo tanto o Elend. No volume anterior, minha opinião sobre ele era meio a meio, mas mais para positiva por causa do final. Aqui, que salto de personagem ele teve! Do leitor apaixonado, filósofo sonhador, espectador em quase todas as mudanças sem realmente fazer parte delas para um rei que precisa tomar decisões e precisa impor suas ideias e que, mesmo em meio ao caos, ainda ama sua cidade e as pessoas que dependem dele para fazer sacrifícios grandiosos em nome deles.
Ao lado de Elend, Vin protagoniza a história vivendo alguns dilemas solitários, de confusão e de não entender seu lugar naquele mundo. Antes, ela tinha Kelsier para ajudá-la e guiá-la; agora, é uma Nascida da Bruma sozinha e confusa e amedrontada por coisas estranhas que vêm surgindo nas brumas.
Silhuetas e vozes e um tambor incessante que podem significar tudo e nada ao mesmo tempo, especialmente com as mudanças que começam a acontecer fora da cidade.
Eu amo tanto a Vin. Ela está muito mais madura e decidida, mostrando o grau de evolução de personagem da garota assustada que conhecemos nas ruas de Luthadel quando a rebelião estava para começar. Seus poderes são impressionantes e dignos do coração grandioso que ela carrega. É uma personagem feminina forte, cheia de nuances e com um arco digno de desespero e tensão por todo o livro.
Também tem toda a questão sobre pertencimento e aquela coisa de "estou sozinha, mesmo?" em relação a seus poderes e a ninguém entender realmente o que se passa em seu coração. O autor trouxe um elemento surpresa para confrontar essas dúvidas da personagem, e eu fiquei "eita!" durante todo o desenrolar desse arco.
Sua relação com Elend é muito explorada, mas sua amizade com Sazed e o estranho relacionamento com OreSeur também são essenciais para a protagonista. Esses personagens são essenciais para tudo que acontece na história.
Sazed, por exemplo. O Terrisman, estudioso responsável por armazenar memórias de todas as religiões que já existiram, está em uma peregrinação quando confronta uma atividade misteriosa e macabra que parece estar vindo diretamente das brumas; elas não estão mais aparecendo apenas durante a noite, e não parecem mais tão inofensivas quanto antes.
Teria alguma coisa a ver com a profecia do Herói das Eras? Ou seria algo ainda pior?
Ele é um personagem tão fantástico, tão bem desenvolvido; muito sensato e calmo mesmo nos momentos mais tensos e desesperadores. Todo o seu arco tem a ver com entender o que está rolando no império final em questão fantástica e medonha, conectando com o arco da Vin de maneira inesperada para antecipar algo grandioso - e talvez terrível - que está por vir.
"Caos e instabilidade, a bruma era os dois. Sobre a terra havia um império, dentro daquele império havia uma dúzia de reinos fragmentados, dentro desses reinos ficavam cidades, vilas, vilarejos, fazendas. E, acima de todos eles, dentro deles, ao redor deles, estava a bruma."
Minha nossa, como esse livro tem reviravoltas. Quando eu achava estar preparada para uma coisa, ele puxava meu tapete. Quando acreditava ter decifrado um enigma, ele dava uma cambalhota e me surpreendia de outra maneira. Do começo ao fim, O Poço da Ascensão é digno daquela sensação de crescente tensão que permeou o primeiro volume. Aqui, nós vemos essa tensão se multiplicar dez vezes, para todos os lados.
Ação não falta, assim como uma abertura para falar sobre o tamanho desse império e a diversidade de coisas que existem nele. Monstros, sociedades desconhecidas, criaturas com códigos morais capazes de te surpreender com revelações pra lá de bombásticas.
E o final! Que final!
É um pontapé para um terceiro livro carregado em mistério e em horror e eu não sei se estou psicologicamente preparada para essa leitura, mas estarei lendo assim que der uma respirada da jornada que foi O Poço da Ascensão.
De novo: se você ama fantasia, Mistborn é uma obrigação. Eu me arrependo de ter demorado tanto para ler essa história, mas jamais me arrependerei de ter mergulhado fundo na grandiosidade que é essa trilogia - e esse universo - criado por Brandon Sanderson.
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