wesley.moreiradeandrade 04/01/2018
Na Estante 82: Um gato chamado Borges (Vilto Reis)
Um gato chamado Borges é um livro estranho e entendam isso como um elogio. É essa estranheza que vai da linguagem utilizada pelo narrador e do enredo que mescla drama, mistério e uma pitada de humor que prende a nossa atenção, em alguns momentos com maior grau e outros nem tanto assim. Vilto Reis conduz o leitor ao litoral catarinense para onde um locutor de rádio chamado João Meireles vai trabalhar na cidade de São Brandão abalada por uma série de suicídios, e ele decide fazer uma investigação por conta própria sobre o que realmente está acontecendo, mas esbarra na desconfiança e na resistência dos moradores locais que se incomodam com a presença bisbilhoteira do locutor. Em alguns momentos a trama lembra Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera, que tem uma premissa parecida. Vilto Reis mistura uma linguagem mais coloquial e objetiva em sua narração, além de alternar diversos pontos de vistas. No entanto o forte do jovem escritor, editor do site Homo Literatus, são os diálogos que recuperam a fala característica dos moradores locais de modo que não soam forçados ou destacados do contexto de um texto mais próximo da norma-padrão, como notamos em diversos romances de cunho regionalista, tornando a narrativa mais fluída e interessante, que também possui um enredo intrincado. O final pode deixar alguns leitores ou decepcionados ou coçando a cabeça para compreender o que aconteceu, confesso que não captei totalmente a história, que lança muitas pistas, o que sugere uma nova leitura, e quando um livro nos instiga uma revisitação talvez seja indicador de sua força ficcional.
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