Felipe.Gazire 01/02/2024
Você precisa praticar isso incansavelmente!
Miyamoto Musashi, o lendário samurai. É uma daquelas figuras cuja biografia, por si só, daria um filme.
No início de seu manuscrito, Musashi narra, de forma divertidamebte marqureteira, que venceu 60 duelos antes dos 30. Ao refletir, ele concluiu que suas vitórias talvez não tenham sido necessariamente fruto de seu domínio do Caminho da estratégia e das artes marciais, como também de talento natural ou sorte. A partir daí Musashi embarcou em uma jornada para adquirir a verdadeira neste caminho, bem como exerceu as outras profissões e também ofícios artísticos para aprendê-los e se aperfeiçoar.
Já na fase final da sua vida, aos 60, Musashi se isolou e foi viver como um eremita em uma caverna, onde nos brindou com esta obra prima que perdura e permanece atual até os dias de hoje.
Naturalmente que o intuito original da obra era, basicamente, ensinar ao leitor técnicas de espada e estratégia voltadas para samurais. Entretanto, assim como em A Arte da Guerra, o cidadão minimamente culto consegue extrapolar os conceitos, os princípios e a lógica ali contidos para diversas situações da vida moderna. E, nesse sentido, os ensinamentos de Musashi valem ouro.
Musashi nos ensina, entre outras coisas, que é o treino, o estudo e a reflexão que nos leva à mestria. Que mesmo com as melhores teorias, é necessário estudo e reflexão para internalizar os conceitos. Ele despreza os floreios e movimentos inúteis, e foca naquilo que é eficaz. Nos mostra que sempre devemos encarar as coisas de mente aberta e não com preconceitos. E, claro. A pegar uma espada e dar uma surra no inimigo. Mas, mesmo estas partes nas quais ele discorre sobre as variadas técnicas de luta, é perfeitamente possível entender a lógica que ele quer passar ali, que terá alguma aplicação prática.
São, ao todo, cinco livros ou capítulos. A Terra, onde Musashi traz uma visão geral da estratégia e das artes marciais. A Água, em que ele ensina os princípios de sua própria escola de artes marciais. O Fogo, onde ele discorre sobre as batalhas. O ivro do Vento, onde ele expõe os pontos de outras escolas que considera insatisfatorios. E, por fim, o livro do Vazio, um capítulo extremamente curto em que ele descreve o estado mental do Mestre, que já aprendeu o caminho e age de acordo com a natureza.
Algumas passagens que me marcaram:
"O mestre é a agulha, o discípulo é a linha. É preciso praticar constantemente"
"Se você estudar um Caminho diariamente, e se seu espírito divergir, pode ser que você acredite estar seguindo um bom caminho quando na verdade seu espírito diverge dele. Se você estiver seguindo um bom Caminho e divergir um pouco, é possível que mais tarde surja uma grande divergência"
"Você não deve copiar os outros, é sim utilizar as armas que consegue manejar com propriedade"
"Em geral, desaprovo a rigidez tanto da espada longa quanto das mãos. A rigidez significa que as mãos ficam 'mortas', a flexibilidade dá vida às mãos"
"Estude a estratégia ano após ano e adquira o espírito do guerreiro. Hoje você vencerá quem você foi ontem. Amanhã, você vencerá homens mais habilidosos (...)"
"O mais importante na estratégia é bloquear as ações úteis do inimigo e permitir que ele execute a vontade as ações inúteis"
"Na minha doutrina, rejeito o espírito estreito e preconceituoso."
"Com o espírito tranquilo, acumule experiência dia a dia, hora a hora. Dê polimento à mente e ao coração, e aprofunde o olhar de percepção e visão. Quando seu espírito estiver isento de toda a turbação, quando as nuvens da desordem se dissiparem, você conhecerá o verdadeiro Vazio".
"Quando se atinge o Caminho da Estratégia, não haverá mais nada que não se possa compreender".
É um livro curto, de uma leitura fluida e gostosa. Assim como em A Arte da Guerra, quem ler de maneira literal, não vai conseguir, de fato, aproveitar muita coisa na época atual a não ser que esteja tentando se tornar um samurai. Mas ao cidadão minimamente educado, não precisa de muita cultura para compreender a imensa sabedoria que nós é passada pelo mestre Musashi. Fica impossível não vê-lo com simpatia e não ter um sentimento de gratidão a ele.
É preciso refletir profundamente sobre isso.