Zaila 20/02/2017
Magnífico
Desde as primeiras páginas esse livro me arrancou muitas lágrimas de sofrimento por toda aquela vida de abandono e pobreza em que a família de Saroo passava, ali na cidade de Ganesh Talai, na Índia.
Saroo era o terceiro irmão de quatro filhos. Guddu era o filho mais velho, seguido por Kallu, Saroo e Skekila. Foram abandonados pelo pai, que arrumou outra esposa e foi morar com ela, o que fez piorar, em muito, a crítica situação que sua família se encontrava.
A mãe, muito trabalhadeira, carregava pedras na cabeça em construção civil, se ausentando por dias, até mesmo semanas, de casa e dos filhos pequenos.
Os mais velhos, para ajudar a complementar a "renda" da família, saíam em busca de moedas caídas nas estações do trem ou resto de comidas em lixo, Saroo muitas vezes pedia esmolas, enquanto ficava sozinho com a irmã caçula. Eles aprenderam a se virar, sem pai e nem mãe por perto.
Saroo era o responsável por cuidar da sua pequena irmã Skekila (ele com 5 anos e ela com 2), ele a alimentava, vigiava e lhe higienizava - na medida do possível para uma criança tão pequena. Por vezes, Saroo e Skekila ficavam sozinhos em casa.
Certa noite, por sentir muita falta da presença do seu irmão mais velho, Saroo vai com Guddu para a estação de trem vizinha, na cidade de "Berampur", numa ida divertida entre os dois.
Ao chegarem, Saroo já está cansado e Guddu pede a Saroo que lhe espere na estação para ir até a cidade. Enquanto espera, já arrependido de ter ido, deita nos bancos da estação e dorme. Quando Saroo acorda, a estação está vazia e sem nenhum sinal de Guddu... E é aí que a grande angústia começa (e que angústia, diga-se de passagem).
Saroo foi um exemplo de ingenuidade para mim, foi um guerreiro e muito inteligente, um verdadeiro heroizinho nas rua de Calcutá. Conseguiu superar todas dificuldades, cada provação, medo e fome sem fim, sempre com olhos bem abertos.
A angústia que citei, no momento que Saroo se perde, é tão grande e tão avassaladora que fez meu coração se comprimir no peito, chorei muito e tive que parar a leitura diversas vezes. Me senti desesperada por aquele acontecimento, e muitos outros que vieram. Desejava está presente e ter podido ajudar aquela criança perdida numa cidade tão grande, caótica e suja. Ele diz que se sentiu invisível, que lá era só mais uma criança nas ruas, que ninguém era capaz de enxergar o desespero em seus olhos.
"Uma parte de mim já tinha se aceitado isso. Aquele desespero incrédulo de voltar para casa, que eu sentia logo que me perdi - aquela sensação de que, se o mundo não voltasse aos eixos imediatamente, eu não conseguiria sobreviver, não conseguiria sequer existir -, já desaparecera havia tempo."
Confiou em pessoas que diziam lhe ajudar, e por vezes seus instintos o ajudaram. E, quando uma pessoa verdadeiramente lhe ofereceu ajuda, sentiu que não deveria ir, mas confiou e foi aí que o destino lhe sorriu.. E eu também sorri.
Finalizo este pequeno relato, mais uma vez, com lágrimas nos olhos.
Me tocou profundamente o pequeno Saroo perdido nas ruas de Calcutá, onde descreveu tudo que passou de forma muito clara e emocionante. Foi um aprendizado.
Parabéns Saroo Brierly por nos contar sua história.