Jon O'Brien 06/10/2024
Resenha Quem Era Ela – JP Delaney | LIVRO X SÉRIE
Quem acompanha minhas resenhas sabe que eu geralmente gosto do que leio. Não sou um leitor exigente, e, se o livro me surpreender de alguma forma, ele já ganha pontos comigo. Entretanto, esta leitura não funcionou… muito bem. Não é um livro horrível, mas, dos 22 livros que li até agora neste ano, é o que eu avaliei com a nota mais baixa (3/5 estrelas). Vou contar aqui o que achei, sem spoilers, do livro Quem Era Ela e da minissérie baseada nele.
Imagine pagar um aluguel razoável para morar numa casa espaçosa, tecnológica e ultraminimalista. Agora imagine que, para ser aceito nessa casa, você precise passar por uma série de etapas: um longo questionário com perguntas muito bizarras, etapa em que a maior parte dos inscritos fracassa, e uma entrevista com o arquiteto. Imagine também que, para morar nessa casa, você precise seguir uma série de regras incomuns previstas no contrato.
Quem Era Ela é um thriller psicológico que alterna entre as perspectivas de Jane e Emma, duas mulheres que passaram por todas as etapas e foram aceitas na Folgate Street, nº 1. Jane, que eu diria que é a personagem mais importante de toda a trama, recentemente sofreu uma grande perda e achou que se mudar seria importante para a sua recuperação. Ela procura em Folgate Street, nº 1 a oportunidade de lidar com o que aconteceu, mas descobre, enquanto vive lá, que a última garota que lá morou, morreu dentro da casa.
Jane passa a se interessar muito por Emma, a antiga moradora, criando uma obsessão sobre as circunstâncias de sua morte, que não se sabe se foi acidental, suicídio ou um assassinato. Conforme se embrenha nesses segredos, ela descobre mais sobre a casa e sobre o proprietário e passa a pensar que ela própria pode estar correndo perigo. Um enredo interessantíssimo, não é? Mas não funcionou para mim.
A primeira coisa que me incomodou foi a casa e o seu monte de regras. A existência das regras despertava, sim, uma grande curiosidade, mas ao mesmo tempo fazia o livro parecer inverossímil. Para morar nessa casa ultraminimalista, é preciso ser ultraminimalista também. São proibidos animais e crianças, por exemplo, mas algumas proibições parecem bizarras, como a proibição a livros. As restrições são tantas que eu achei inverossímil que alguém queira morar em Folgate Street, nº 1. Até acho possível que alguém se interesse pelo lugar, que tenha curiosidade sobre como é morar lá, mas não imagino uma pessoa vivendo meses naquela casa, tendo que seguir aquelas regras. Por mais segurança que a casa pudesse oferecer — e foi segurança o que Jane e Emma buscaram —, não parecia valer a pena, sabe?
Outra coisa que me incomodou foi o desenvolvimento das personagens. Achei a caracterização de Jane e Emma muito ruim, com muito pouca profundidade. Eram duas mulheres traumatizadas, que sofreram traumas diferentes mas que se assemelhavam muito (e isso não é um elogio). Por vezes, eu me confundia sobre de quem o capítulo tratava, apesar de o modo não usual de narração de Emma servir para diferenciar a narração dela da de Jane. Essa falta de aprofundamento não melhorou muito com o decorrer do livro, infelizmente.
A terceira coisa que me incomodou foi o final, ou melhor, a condução dos capítulos finais. Como é natural em um suspense, os capítulos finais de Quem Era Ela tinham a intenção de, em um ritmo mais acelerado e frenético, conduzir o leitor para surpresas eletrizantes. Apesar de o final ter reviravoltas, não acho que ele foi conduzido da melhor forma. O autor tinha todos os elementos para construir uma atmosfera de suspense que prendesse o leitor, mas, a meu ver, ele não aproveitou esses elementos e a atmosfera ficou vazia e sem graça. O futuro dos personagens e da trama se tornou desinteressante, e a revelação final pareceu um tanto forçada; não encontrei pistas que indicassem isso ao longo da leitura. Se o final fosse melhor conduzido, contado de outra forma, eu daria uma nota maior para o livro.
A minissérie baseada no livro tem apenas quatro episódios e, por esse motivo, eu imaginei que seria uma adaptação bem interessante de se ver, pois não achava que a história merecia ser contada em mais episódios. Confesso que achei a minissérie melhor do que o livro, o que é algo raro, mas ainda assim ela tem defeitos consideráveis. O ponto de maior destaque é que os episódios são extremamente longos e pouco chamativos, herdando a atmosfera vazia do projeto original. Há apenas uma melhoria na diferenciação entre as personagens Jane e Emma, que se distinguem de maneira mais clara. Jane se mostra também mais forte e mais ativa, o que foi algo de que eu gostei bastante. Gostei de algumas das mudanças feitas, mas não gostei de outras, e a série tem um furo sobre a morte de Emma que eu achei péssimo passar batido.
No fim das contas, a minissérie de quatro episódios pareceu grande demais para a história contada no livro. Talvez este seja um dos raros casos que eu acho que uma adaptação em filme ficaria melhor do que em seriado. E você, leu o livro ou assistiu ao seriado? Partilha da minha opinião? Estou louco para saber.
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