Vitoria.Milliole 31/08/2022
Quem Era Ela é um thriller psicológico que promete "um suspense de tirar o fôlego e um clima de tensão do início ao fim". Bom, eu devorei o livro em algumas horas. O fato dos capítulos serem curtos colaborou, mas não deixa de ser eletrizante. Sobre ser bom ou ruim, a história é mais complicada.
O livro reveza entre duas narrações: a de Emma, no passado; e a de Jane, no presente. Emma, após sofrer um assalto onde morava, sai em busca de um novo aluguel e, junto a Simon, seu namorado, ela se encanta por uma casa tecnológica e inovadora. A casa é bonita e realmente inovadora, mas conta com um contrato bem estranho com 200 regras a serem seguidas, que vão desde ter alguém para inspecionar e verificar se não há nada no chão ou móveis não autorizados até, pasmem, abrir a casa para visitação a cada seis meses. Por algum motivo, Emma se sente fortemente atraída pela casa. Em pouco tempo, também se sente fortemente atraída por Edward, arquiteto e proprietário da casa e um cara extremamente perfeccionista e controlador. Bom, Emma agora está morta e isso não é nenhum spoiler.
Agora, Jane é quem se submete à estranha avaliação proposta para alugar a casa, e parece tão encantada quanto Emma estava. Assim como também se atrai por Edward. Por último, descobre como ela é parecida, fisicamente, não só com Emma, mas também com a esposa falecida de Edward, então começa a investigar sobre o que aconteceu com Emma, penssndo que talvez ela corra os mesmos riscos.
Para começar, o livro não entrega o que a sinopse promete, o que pra mim já não é um bom início. Nas primeiras páginas, me irritou o valor que as duas mulheres davam para uma casa. Me pareceu completamente ilógico alguém aceitar um contrato naquelas condições e, no entanto, a casa é bem concorrida, mas Edward tem critérios suspeitos para aprovar seus inquilinos.
O suspense começa a se mostrar envolvente e perturbador no mesmo nível. Emma se mostra tão desprezível quanto Edward, uma mentirosa compulsiva que conta uma mentira para acobertar a outra e enrola não só a própria vida, mas de todos os envolvidos. Ao chegar ao final, percebi que não há um personagem que não seja desprezível. Nem mesmo Jane fica de fora. E eu acho que foi essa a cereja do bolo, a única coisa que me prendeu realmente na história: a crueza dos personagens.
Jane, pouco antes de morar na casa, deu à luz um bebê natimorto, fato que eu não entendi a relevância na história ao ponto de rolar investigação sobre negligência médica. Só serviu pra tirar o foco da trama principal, já que não se entrelaçou em nenhum momento com ela.
O final me surpreendeu, não sei se positiva ou negativamente. Eu não esperava que fosse ele (e não vou citar nomes) o assassino de Emma, mas achei uma revelação tão repentina que pareceu ter como único objetivo chocar. A personalidade do personagem mudou de uma página pra outra. Mas, talvez, se o livro tivesse acabado por aí não estaria tão ruim. Os poucos e curtos capítulos seguintes são só ladeira abaixo. Em um parágrafo, é jogada por água abaixo uma teoria criada desde o início do livro, como se não fosse nada, revelando inútil tanta volta e investigação acerca disso. Edward quase chega a parecer uma pessoa normal. Quase.
Além disso, lógica é o mínimo que eu espero mesmo nas histórias mais fantasiosas possíveis. Uma lógica dentro do possível, é claro. Me incomodou demais os personagens agirem como se a casa fosse mal assombrada (a casa queria isso, a casa fez aquilo) quando a casa é controlada por alguém e todo mundo sabe disso. A história não é sobre uma casa mal assombrada e as personagens também sabiam disso. Inclusive, talvez seria mais interessante se fosse.
Eu gostei da leitura, mas também detestei. Sabe aquele livro que te prende a cada frase, mas te frustra a cada capítulo? Foi exatamente isso. Achei que ele tem uma vibe meio Verity, mas, em qualidade, não chega aos pés.