Nu e As 1001 Nuccias 19/12/2017Resenha do blog As 1001 NucciasSomos todos cultural e historicamente condicionados a evitar pessoas com deficiência. Não olhar muito, não encarar, não perguntar nada, ignorar a presença, fingir que não há desconforto, fingir que não há uma pessoa ali.
Vítima da Sociedade começa com nossa personagem principal em um julgamento. Seu advogado tenta convencer o júri do seu pretenso vitimismo. A personagem faz questão de dizer que de vítima não tem nada.
"Ao contrário do júri, das testemunhas, do magistrado e da plateia, aquele bando de hipócritas, eu sei exatamente o que fiz. E porque fiz."
E, então, decide narrar sua história de vida para esclarecer, corroborar parte da argumentação do advogado e refutar todo o resto. Ela começa contando como começou sua deficiência na infância, passa pela escola, por episódios de bullying, da mãe tentando ampara-lo. E daí segue até a fase adulta.
Narra algumas das explanações do advogado, que além da deficiência enfoca a pobreza da personagem como mais um motivo para ser vítima e não a acusada no processo.
Não vou entrar em detalhes para não sair metralhando spoiler na galera. Basta saber que a personagem tem deficiência
"O que nem os mais pessimistas imaginariam é que, de vez em quando, alguma coisa sai errado com esses produtos. Algum idiota economiza uns trocados aqui, uma refrigeração ineficiente acolá, e voilá! Alguém se transforma em estatística."
O conto é curto, mas muito bem fomentado. Gostei da narrativa em primeira pessoa, da voz que a personagem tem durante toda a explicação. Ela passa aquela força, aquele "tchans" que nos deixa bem claro que a questão de "vítima" é só estratégia mesmo.
Gostei muito do final! Foi de certa forma inesperado. Veja, nossa personagem tem deficiência e se mete numa enrascada de propósito junto com uns amigos. E ela já começa a narrativa no meio do processo, portanto sabemos que a enrascada deu ruim.
"Se a palavra deficiente o incomoda, tente não lembrar da parte do pobre."
O interessante é que o rim acabou sendo bom para a personagem. Ela vê que a justiça foi feita, mas não pelo sistema jurídico ou pelo seguro ou qualquer sistema social. Ela crê que a justiça foi feita por si mesma. E que agora poderá desfrutar calmamente de tudo que o sistema carcerário oferece a presos com deficiência.
Eu já li outros contos do autor e este foi o melhor deles. Os outros não são ruins! Eita!! São ótimos, mas esse tem aquela identificação, sabe? E o final, com esse feeling, me ganhou fácil.
Nem vi erros de revisão. A leitura foi ótima! A capa ficou muito legal, combina com o conteúdo perfeitamente. Aos leitores que curtem histórias curtas, mais do que recomendado! É uma boa para conhecer a escrita do Dan também!
"Os deficientes podem não ter direitos nesse país, mas os detentos têm..."
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