Os Maias

Os Maias Eça de Queiroz




Resenhas - Os Maias


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Lucas 09/09/2019

Ficção rasa, contextualização inteligente: Quando o contexto da narrativa supera a sua ficção
José Maria de Eça de Queiroz (1845-1900) foi o grande precursor em Portugal da explosão do realismo europeu, iniciada a partir da década de 1850. Não só em função de idioma, mas principalmente por aspectos políticos e econômicos, toda a obra de Eça é muito popular no Brasil: durante boa parte da sua carreira, o Brasil estava sob o reino de Dom Pedro II, que durou de 1831 a 1889. Não raro é, inclusive, que se confunda, em meios menos eruditos e acadêmicos, a nacionalidade do autor devido a esta influência. Obras como O Crime do Padre Amaro (1875), O Primo Basílio (1878), A Relíquia (1887) e A Cidade e As Serras (póstumo, de 1901) são grandes símbolos disso.

Todavia, nenhuma obra de Eça de Queiroz se destaca mais em terras tupiniquins do que Os Maias (1888), representante máximo desse realismo mencionado, com um viés bem descritivo e com certos contornos romanceados. Em 2001, a obra foi inclusive adaptada pela Rede Globo, em uma minissérie estrelada por Fábio Assunção e Ana Paula Arósio (aliás, uma divagação pontual, mas aquele par de olhos azuis faz falta na mídia). Basicamente, Os Maias conta a história de três gerações de uma família da alta sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX. Afonso da Maia é o patriarca, típico fidalgo com idade avançada, e a história se inicia com os preparativos na casa do Ramalhete, quase que um palácio da família que estava desocupado e que agora Afonso preparava para receber seu neto, Carlos Eduardo, então recém-formado médico.

É Carlos Eduardo quem toma as dores de protagonista da narrativa. Após esse prólogo com os preparativos para sua chegada, a história retrocede cronologicamente para contar a trajetória de Pedro, filho de Afonso e pai de Carlos. Sua jornada indica, logo de cara, a preocupação de Eça em ilustrar o distanciamento que existia entre classes superiores e inferiores da hierarquia social portuguesa. Não só entre classes diferentes, mas até mesmo dentro do que pode ser chamado "nobreza" havia muito preconceito com pessoas "de fora", cuja origem de suas riquezas poderia ser questionada (muito desse preconceito acaba se justificando antes mesmo do suceder dos fatos, todavia). Partindo dessa contextualização, a história se desenrola e, nesse desenrolar, percebem-se alguns fatores que trazem certo peso a leitura.

O peso nesse caso não é em termos explícitos: não há situações dramáticas, socos no estômago ou outras ocasiões perturbadoras, presentes em obras realistas. O que há é um marasmo, que cansa muito em vários momentos. Eça de Queiroz quis, de fato, representar as hipocrisias existentes na dita "alta sociedade" lisboeta e ele o faz, com louvor. Mas são tantos os saraus, festas, encontros entre amigos, entre outras futilidades que fazem com que o leitor menos paciente se questione sobre o que esses personagens principais faziam pra viver. Carlos Eduardo, por exemplo, era um médico, mas o seu ardor de ajudar os pobres e necessitados é bem raso, o que poderia trazer um pouco mais de grandeza a seu personagem. Aliás, é a ele que boa parte das ressalvas da narrativa está relacionada.

Carlos Eduardo da Maia é o protagonista, mas passa longe de ser um personagem vivo, com ideais superiores, que conduza a narrativa por meio de suas ações. Fica a impressão de que ele é um artefato incolor, alguém que mesmo quando exacerba suas paixões o faz com frieza... É raso e promíscuo em vários momentos. João da Ega, seu melhor amigo, é um personagem pintado com cores mais vivas, por exemplo, muito ativo, leal e que desempenha um papel essencial dentro da obra (especialmente em sua conclusão). Por outro lado, também passa essa impressão de "desocupado", mas que por ter essas características mais passionais, traz uma maior identificação ao leitor. É mais próximo de um perfil boêmio e um pouco caricato, ao passo que Carlos não passa a impressão nem de ser "malandro" (no sentido cômico), nem de ser um herói com coisas a ensinar. Maria Eduarda, a protagonista feminina, é desenvolvida de forma similar, como alguém "sem sal". É evidente que não é a quantidade personagens com algum viés bom ou mal que faz um livro ser ótimo, mas os seus componentes precisam ser desenvolvidos de uma forma que cative o leitor, seja criando elementos que ensinam ou até mesmo que causem repugnância a quem lê.

Contudo, nesses momentos de maior nulidade narrativa ocorrem algumas divagações bem pontuais e que precisam ser aqui assinaladas. A crítica, por exemplo, que muitos personagens secundários fazem à monarquia da época, a importância da literatura nesse contexto de "libertação", e, principalmente, a análise de Portugal como povo e país, geram debates interessantes. Considerando-se que a narrativa d'Os Maias se passa aproximadamente na época de sua publicação, onde ainda existia uma influência considerável de Portugal sobre o Brasil (mesmo com a Independência em 1822), torna-se interessante que o leitor brasileiro extraia dessas divagações muitas semelhanças entre o patriotismo português e o aqui existente até hoje, marcado por uma carga de pessimismo e pequenez.

Não só por isso, mas a narrativa traz pontos positivos por outros fatores. Um deles é uma inconstância, que faz com que o leitor pense que o grande cerne do livro é uma coisa no seu primeiro terço; depois (bem depois), surgem revelações que, aparentemente desconstroem o que se imaginava no início; por fim, a catarse da obra se revela em seu último quinto, similar ao que se acreditava lá no primeiro terço (pelo menos foi o que ocorreu ao autor da presente resenha). Estas voltas narrativas trazem uma sensação de expectativa, mas são incapazes de tornar Os Maias facilmente "devorável". Outro aspecto engrandecedor, este o principal, é o olhar narrativo sempre voltado para a hipocrisia, o adultério e as aparências. Nesse ponto, Eça de Queiroz já havia ilustrado sua capacidade de "cutucar" a alta sociedade no excelente O Primo Basílio (1878), que trata das diferenças de tratamento social dadas a um homem e a uma mulher envolvidas em traições. Aqui em Os Maias, a crítica é mais genérica, quando se expõe que adultério e cobiça são elementos normais dentro de uma sociedade que aparenta ser "superior", não somente em aspectos econômicos, como sociais e de formação.

A leitura de Os Maias vale, por isso, mais pelo seu aspecto de crítica, e não pela narrativa em si, que se revela problemática em entreter e cativar o leitor. Obviamente que trata-se de um clássico absoluto, de grande importância para a língua portuguesa e isso não pode ser questionado. Mas o que pode ser alertado é que se o futuro leitor espera um romance proibido, de intrigas da "corte", de escândalos e imprevisíveis reviravoltas, dificilmente ele encontrará isso na obra-prima de Eça de Queiroz. Ficará esse leitor, após a leitura, com a imagem de um livro eficiente em matéria de provocação social, mas com falhas bem latentes no que tange a ser uma opção dinâmica de entretenimento literário.
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bobbie 29/07/2019

Um clássico crítico.
Eça de Queirós buscou, em sua obra, não apenas retratar a sociedade portuguesa do século dezenove, onde nasceu, como também expor as mazelas, incongruências e hipocrisias dessa mesma sociedade de maneira realista. Em O Primo Basílio, por exemplo, vemos a questão do adultério. Aqui, em os Maias, Eça nos mostra as vicissitudes de uma sociedade que se apoia em seu próprio espólio a fim de levar a vida levianamente, numa sequência de jantares de alta sociedade, bebedeiras, encontros e adultérios. Outro assunto polêmico tratado neste romance é o incesto. E aqui abstenho-me de me aprofundar para evitar spoilers. A escrita do romance não foi rápida nem fácil, e isso se reflete na sua leitura, que não flui rapidamente. É necessário diligência e resiliência.
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pagina_liter 04/07/2019

Fora um dia de inverno suave e luminoso, as duas janelas estavam ainda abertas. Sobre o rio, no céu largo, a tarde morria, sem uma aragem, numa paz elísia, com nuvensinhas muito altas, paradas, tocadas de cor-de-rosa; as terras, os longes da outra banda já se iam afogando num vapor aveludado, do tom de violeta; a água jazia lisa e luzidia como uma bela chapa de aço novo; e aqui e além, pelo vasto ancoradouro, grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros (...)
Página 129

Dentre as dezenas de descrições que me deixaram deslumbrada, escolhi essa do Porto de Lisboa, por ser um dos locais descrito no livro que eu conheço.
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A riqueza de detalhes que há nas descrições de Eça nesse livro são insuperáveis. Ao longo da história é bem citada com descrições muito poéticas uma cidade em Portugal conhecida como Sintra, que ao dar uma pesquisada no Google me encantei totalmente, e já está na minha lista de próximos locais a serem visitados
.
A obra de Eça de Queiroz foi capaz de pôr a contrapelo toda a imensa dor que acompanha a existência humana, toda ela mediada por fortes limitações sociais, morais, religiosas e políticas.
Era sobre a humanidade falhada que Eça de Queiroz escrevia, e era um leitor igualmente falho que ele pretendia atingir com a cortante lâmina de seu discurso.
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Gabriela Lisboa 17/05/2019

Extraordinário!
Incrível! Uma das obras de maior qualidade que eu já vi.
É incrível o talento desse Eça de Queiróz. Nunca tinha lido nada dele. Como pode!
Páginas e páginas de conversas (não diálogos ou comentários, mas conversas de verdade!) entre os personagens, todos eles (dezenas) com sua personalidade e características tão delineadas que você até pensa: "isso é tão o Ega!".
Escrito com humor! Nunca li um livro tão divertido.
O autor teve uma paciência tremenda para escrever tudo, a história das gerações que culminaram no romance entre C. e M.
Cada cena era descrita com uma precisão cinematográfica, mas sem ser exagerada.
E o romance que eu li aqui... Que romance! Como esse Carlos Eduardo de apaixona bem! Quase morro de ternura de novo e de novo.
Que mulher, Maria. Que amigo, João da Ega (o meu mais queridinho).
UMA OBRA PRIMA!
Karen 17/05/2019minha estante
Costumo dizer que, fora Jane Austen, o autor que mais admiro é Eça de Queirós, cujos textos provocam, em minha mente, uma sensação de completude indescritível. Embora seja trabalhosa, a leitura de um romance como Os Maias evidencia-se fascinante, pois permite ao leitor saborear toda uma complexidade de elementos dispostos na narrativa, tais quais longas descrições de cenários, muitas críticas sociopolítico-econômicas à sociedade portuguesa do século XIX e algumas instigantes relações amorosas. No caso destas, inclusive, concordo com você, Gabriela, quando destaca, em sua resenha, a história do casal Carlos Eduardo e Maria Eduarda da Maia, que, apesar do romance incestuoso, constitui um par romântico adorável, de forma que o fim de seu caso de amor faz doer a alma daquele que o acompanhou! Só mesmo Eça para devotar um desfecho tão previsível e, ao mesmo tempo, tão chocante ao incesto entre dois irmãos!




Marselle Urman 06/04/2019

Obra prima
Essa é a segunda vez que leio essa grande obra. Pra mim é difícil falar d'Os Maias com um olhar puramente crítico, pois sou apaixonada por esse livro. O texto será longo, desculpo-me.
Enquanto em "O primo Basílio", Eça trata da classe média, aqui o foco é a altíssima burguesia lisboeta. Carlos Eduardo foi o primeiro homem de seu sobrenome a ganhar uma libra com o fruto de seu trabalho (embora não tenha insistido em trabalhar, por motivos óbvios). Afinal, uma pena que um homem de sua estirpe quisesse aplicar emplastros em pobres doentes.
Ainda assim, entre saraus, óperas, festas regadas a jogos e poesia, um dispêndio sem fim de fortunas ilimitadas, sempre se antevê uma ambição de grandes feitos, nunca trazida a cabo. Carlos equipa seu consultório e seu laboratório com o primor da ciência e da decoração, e se cansa em pouco tempo. Ega planeja "o romance do século", do qual escreve poucos capítulos, mais absorvido pela paixão de sua amante casada. Grandes planos, naturezas fugazes, preguiças sem fim. Laborar, mesmo naquele grande projeto de mudar o mundo demanda demasiado energia. A lassidão sempre vence . Tedioso - você pode pensar. Mas não. Temos tanto em comum, brasileiros, com nossa herança portuguesa. De qualquer classe social, amamos o blasé, o chic, o espetaculoso, a tragédia e a fofoca. Prezamos os grandes centros de civilização estrangeiros e desprezamos nossa própria rudeza camponesa.
Menos o Alencar. Capítulo à parte.
Mas devo dizer que o que mais se destacou pra mim nessa releitura foram os retratos fortes de uma sociedade que se pensava moderna e era absolutamente patriarcal. Demonstrado na figura do ilustríssimo, puríssimo, intocável Afonso da Maia. Um estandarte. Mesmo?
Pedro da Maia, tímido, doentio, educado nos costumes religiosos pela mãe - aos dezoito, dezenove, "já tivera seu bastardozinho". Quase uma nota de rodapé, ainda assim esse feito seria fonte de orgulho ao pai. Até morrer de amores por aquela mulher inadmissível, que não serviria nem pra ser sua amante - meramente por ser filha de um escravocrata. Escravidão, essa, que o Ega defende a bandeiras deflagradas num certo capítulo. "Mas o Ega só queria ser um Mefistófeles polêmico, pura ironia", é defensível. Mas quando falo de preconceito racial e machismo absurdo, não falo de um fato isolado. É a vida como ela é, a sociedade como um dia ela foi. Não por isso menos chocante e grotesco.
A ironia e o tom de humor intercalado na obra não amenizam os fatos. A infidelidade de uma certa esposa foi um caso simples, resolvido com uma surra de begaladas. Perfeitamente normal, certo? Quase cômico. Uma outra grande dama, ao se revelar não ser exatamente a esposa intocável que todos a julgavam, se transforma imediatamente quase numa meretriz. Não é casada, é amaziada. Já teve dois homens em sua vida, não importam as tragédias pessoais de sua triste história. Portanto, não serve pra ser esposa, independente de sua educação, espírito e caráter. Uma outra mulher, de classe subalterna e uma excelente empregada, é vista como uma aberração e com asco por um fidalgo que a espiona numa cena de amor tórrido. Ele não é seu empregador, mas quer demiti-la por sua lascívia - independente de ela ser excelente em seu trabalho. Mulheres, afinal, não tem o direito de expressar nem realizar seus desejos sexuais - a não ser como dignas amantes nos braços dos ditos fidalgos. É uma sociedade tão absurdamente hipócrita. Tão parecida com a nossa.
Pra mim, a personagem mais forte é Maria Monforte. Ela me fez pensar na Geni, do zeppelin de Chico Buarque. Seu pai, malgrado seus próprios pecados ( e ninguém sabe a vida que ele teve) fez das tripas coração para dar a melhor educação à sua filha, sua pérola, que esteve fielmente ao seu lado até o momento de sua morte. E ainda assim, ela, moça, belíssima, prendada, educada, rica, foi desde sempre vilipendiada por aquela sociedade das aparências. Maria foi forjada pelo ferro da rejeição. Seu gosto por aventuras, que decerto também morava no coração secreto de diversas outras damas, expressou-se primeiro nos saraus em sua casa , onde ela fumava e jogava bilhar com seus convidados homens. Para preocupação de seu apaixonado marido. Qual mulher respeitável faria isso, quando deveria estar somente a bordar e recolher-se cedo? Uma vadia, afinal, toda a sociedade exclamou após a tragédia. "Taca pedra na Geni". E depois vieram seus anos amargos. Seus anos de miséria e degrego. Pária. Destruidora. Quando tudo o que ela fez foi viver sua fúria e paixão, coisa à qual não tinha direito. Mesmo tendo sido a melhor mãe que as condições e seu temperamento permitiram. Mesmo tendo um bom coração e cuidando do pai até sua morte e de outros doentes, com desapego. Seu pecado foi viver. Uma mulher não tinha direito a isso. Vamos inverter a situação? Se fosse um daqueles homens brancos e ricos, fidalgos, a terem vivido o que Maria viveu? Seria quase herói.
Quanto à Grande Tragédia do enredo. A primeira reação do protagonista é descrença - como isso poderia acontecer com ele, na sociedade de jovens de alta sociedade em que vivia? Aquela era uma situação de novela, para os cortiços, para os deseducados, para os quase bestiais. Ele, ser angélico, dono de privilégios desde o berço, que só conhecera alegrias nessa vida e sempre pôde se dar ao luxo de fazer o que lhe aprouvesse...acima do bem e do mal. Vou forçar a mão na comparação porque aqui na ficção a tragédia foi fortuita e acidental, mas não posso deixar de ver um paralelo com, por exemplo, o filho de um ex milionário que atropelou e matou um rapaz pobre e cuja pena final foi pagar cesta básica. Com um ex-presidente corrupto que passou apenas dois dias na cadeia - detentor de fortuna e poder, e segredos potencialmente nocivos a alguns outros poderosos. E tantos outros exemplos que vejo hoje com facilidade.

Essa foi minha resenha mais longa. Novamente peço perdão - Os Maias merecem tudo isso e muito mais.


Olímpia SP, 06/04/2019
Bia0210 07/04/2019minha estante
O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio são meus livros favoritos, gosto muito de A Relíquia também... mas esse eu não consegui me envolver na história li até a metade e parei. Não sei se criei muita expectativa... vou tentar novamente


Marselle Urman 08/04/2019minha estante
Bia, a leitura aqui é mais lenta, tem muitas discussões políticas, filosóficas, mas eu acho que vale muito a pena.


Bia0210 08/04/2019minha estante
;)




Carous 21/01/2019

Quando estava na faculdade, fui obrigada a ler "Os maias" por causa da disciplina de Literatura portuguesa. E quando não consegui terminar de lê-lo, atribuí à edição que tinha baixado no Domínio Público cujo vocabulário era mais moderno do que quando a obra foi lançada, mas antiquado pra mim. Além do mais, Os maias conta com muitos vocábulos e expressões em francês, idioma que não sei falar, que não foram traduzidos.

Então quando a Zahar lançou a sua edição da obra,eu vi a oportunidade de realizar uma nova tentativa de leitura deste livro. Essa editora costuma insetir notas de rodapé - embora eu trnha descoberto que são mais inúteis do que outra coisa uma vez que quando o autor ou um personagem faz referência a alguma figura, a nota do rodapé só nos dá quem é a pessoa e as datas de nascimento e falecimento. Não explica por que ela foi usada naquele trecho como metáfora.

Mas pelo menos as expressões em francês foram traduzidas.

Os maias não é uma história que me apetece. Abordagem de incesto é algo que me embrulha o estômago, mas eu tinha curiosidade de ler porque tanto se falava da história de Carlos Maia e Maria Eduarda, mas nunca cheguei a saber até onde ia o envolvimento deles. Ficavam juntos depois que o parentesco é revelado? E a reação dos amigos? Como o avô reage? Será que morre de decepção ou guarda mais segredinho sujo de família tal qual a personalidade fraca do filho, o péssimo casamento do herdeiro, a fuga da nora com um viajante e o suicídio do único filho? Não sei. E aparentemente nunca saberei.

Agora que realizei a segunda tentativa, percebo que não me importo mais.

Lembro que anos antes de entrar para a faculdade a Globo exibiu uma minissérie baseada na obra - cuja chamada de elenco eu vejo e revejo até hoje no YouTube rs - por esse período de férias. Eu quis ver, mas minha mãe não deixou porque eu era muito nova (e era mesmo,tava no fundamental II ainda).

Nessa segunda tentativa de releitura eu sei por que abandonei o livro na faculdade e por que abandono agora: ele é chato. Incrivelmente chato. Insuportavelmente chato. E lento. E com tantas informações e metáforas e piadas ultrapassadas.

Eu compreendo agora porque as crianças na escola detestam este livro. Existem clássicos que são maravilhosos, mas existem estes clássicos: que colocam medo na gente de que todos os outros serão enfadonhos assim e não poderemos sequer externar nossa opinião sincera sobre a história.

Então,desculpe ex- professora do estágio que considera esta obra a 8a maravilha do mundo, desculpem-me críticos literários. Foi mal aí,Eça de Queiroz, mas achei parado e cansativo demais e não me envergonho mais de dizer que não gostei.

Lá em 2015 quando pedi aos meus pais o livro -achei que eles tivessem - não entendi a careta que eles fizeram. Papai disse que o livro é enjoado desde o primeiro capítulo e, na verdade, foi a única coisa na obra que me agradou.
Natália Tomazeli 22/01/2019minha estante
Caraca, essa sua resenha me lembrou que quando eu era mais nova, peguei esse livro por engano na biblioteca achando que era uma história sobre a civilização Maia! Levei um susto quando comecei a ler e percebi que fui tapeada hueheuehuehue


Marselle Urman 17/03/2019minha estante
Esse livro foi originalmente concebido para ser publicado em folhetins, assim como o Musashi por exemplo, o que explica um pouco de sua "demora". Sou apaixonada pela história dos Maias. Em todo caso, se quiser dar outra chance ao Eça e ainda não o tiver feito, leia "Basílio". Abraço.




Biblioteca Álvaro Guerra 14/12/2018

Os Maias
"Falar sobre uma grande obra, sobre um consagrado autor pode parecer “chover no molhado”, mas é importante que o tempo de Eça, que os personagens de “Os Maias” sejam lembrados, para que continuem a nos fazer pensar, refletir, que nos façam companhia com seus silêncios em nossos tempos tão sem tempo, tão tecnológicos, para que o contraponto seja feito e, somente nesse momento, Eça possa se instalar com seus cenários e falas, nos mostrando a verdade existente e presente de “Os Maias” em nossos dias."

Link da resenha completa:

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/978-85-378-1685-1
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Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018

Dedo Na Ferida
Com toda propriedade, Eça de Queiroz soube botar o "dedo na ferida" da retrógrada sociedade portuguesa.

Em 1888, quando modernidade assolava a Europa com a Revolução Industrial e Portugal, uma península relegada geograficamente pelo continente, resistia à essas mudanças, o escritor ousou colocar o cenário literário de pernas para o ar ao abordar um tema considerado maldito, o incesto, criando um romance notável.

Realista e naturalista, pois permeia a abordagem científica, quando trata da hereditariedade, a obra apresenta uma crítica irônica contra os costumes assim como um fatalismo intrínseco à alma lusitana.

A história gira em torno de três gerações de uma família, os Maias, centrando-se no amor de Carlos e Maria Eduarda, irmãos que cresceram separados desde a infância.

Decadente e genial, vale ressaltar a série baseada na obra, realizada pela Rede Globo em 2001. Magnífico trabalho de Walmor Chagas como Dom Afondo da Maia e Marília Pêra como Maria Monforte (segunda fase).

Dois excelentes programas: leitura do livro e assistir ao seriado.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018

Edição Recomendada
Publicado em 1888, "Os Maias", romance de Eça de Queirós, é considerado uma obra-prima do realismo português, ao apresentar um incomparável painel da alta burguesia lisboeta oitocentista.

Para tanto, o autor exibe três gerações de uma família e um caso de incesto, chocando os leitores da época, não só por conta do tema preconceituoso, mas, sobretudo, pela identificação com seus tipos mais característicos.

Esse incesto é o resultado de uma perturbadora história de amor entre Carlos e Maria Eduarda que, deixada em aberto, "ganha a eternidade como herança", atingindo em cheio os corações mais românticos...

Com traços naturalistas, inclusive, aborda a hereditariedade, o livro levou dez anos para ser publicado e, a princípio, era para ser apenas uma novela que encerraria uma série intitulada "Cenas da Vida Portuguesa" cujo projeto não foi adiante.

Já possuo "Os Maias" em formato Kindle, mas, mesmo assim, resolvi adquirir essa edição, por conta da qualidade, fato raro num livro de domínio público e especialmente de literatura portuguesa.

Isso pode ser comprovado pelo texto na íntegra, isento de erros, e as notas que auxiliam seu melhor entendimento. A obra também traz a cronologia do escritor, posfácio de Mônica Figueiredo, pós-doutorada em literatura e estudiosa da obra de Eça, afora as ilustrações de Wladimir Alves de Souza com a curiosa história que as cercam.

Enfim, se você privilegia a qualidade, não hesite na compra: vale cada centavo e foi feita sob medida para leitores exigentes.
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Li 10/06/2018

DESAFIO LITERÁRIO CULTURA - MAIO - CLÁSSICO
Esse livro foi um dos que precisei procurar referências enquanto lia para poder entender o contexto. O escritor e meio que um deus, só que em menor escala, se você parar para pensar. Da mesma forma que o ser humano acha que Deus julga, cria, pune e abençoa, assim também e um escritor, que tem a vida de todos os seus personagens nas mãos. Falo isso porque achei, apesar de na maior parte do texto concordar que os personagens eram realmente sem caráter, e mereceram o tratamento que tiveram (apesar de nenhum ter realmente sofrido muito com as isso), que foi cruel da parte de Eça o que ele fez com Maria e Carlos, principalmente com Maria! E com Afonso também. Mas a vida por si só não é justa, e deus não é um pai lá muito bondoso, porque Eça, seria?!
Eu já sabia mais ou menos o enredo por causa do seriado da Globo (que não assisti), e minha leitura foi meio prejudicada pois li em Português de Portugal e muitas das partes em Francês não tinham tradução, mas gosto de autores irônicos e dos grandes clássicos.
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Coruja 01/06/2018

Eça de Queiroz foi um dos indicados deste ano para as leituras do Clube do Livro de Bolso e, não fosse tal indicação, eu talvez tivesse passado a vida sem ler nada do português. Não porque tivesse algum particular preconceito contra Eça, mas porque tem tanta coisa na minha lista de leituras, que ele nunca me chamou suficiente atenção para se tornar prioridade. Assim é que devo um agradecimento especial a turma do clube por ter eleito esse título, porque essa leitura foi um verdadeiro deleite. E ainda encaixou num dos temas do Desafio Corujesco desse ano, o que me deixou feita na vida...

Não sei bem o que esperava quando comecei a ler Os Maias. Conhecia o enredo, claro, sabia como tudo terminaria. Tinha até mesmo uma vaga lembrança de ter assistido à série inspirada nessa história, produzida em 2001 - embora tenha sido sua trilha sonora o que mais me tocou à época. Acho que imaginei algo como Machado de Assis com sotaque do Saramago... mas logo decidi que Eça me fazia lembrar de Austen, inclusive pela escolha do discurso indireto livre.

Os Maias começa com uma tragédia, isso é bem certo: o romance entre Pedro da Maia e Maria Monforte, a traição da mulher, a fuga, o suicídio de Pedro… mas depois disso, por boa parte do romance, há personagens e situações ridículas, humor fino, ferino, que vai da situação política e social da época até os janotas que entram e saem da mansão do Ramalhete, lar dos Maia em Lisboa. É esse humor que me fez pensar tanto em Austen: o romance em ambos os autores é bem temperado pela crítica social que eles fazem. Ela tem finais felizes, ele, nem tanto, mas no correr da narrativa, é possível enxergar as semelhanças.

Três gerações da família Maia passam pelas páginas do livro. Primeiro, Afonso da Maia, o patriarca, correto, firme, que parte para o exílio de Portugal por suas convicções políticas e encontra na Inglaterra seu modelo de sociedade ideal. Depois, Pedro, que cresce sufocado pelos mimos da mãe, fraco, melancólico. Por fim, há Carlos Eduardo, o neto dileto, criado pelo avô após a fuga da mãe e a morte do pai, inteligente, idealista, forte e pronto para conquistar o mundo.

Carlos se forma médico, e chega a Lisboa com grandes planos: abrir um consultório para clinicar e um laboratório para fazer experiências, escrever um livro, tornar-se um cientista conhecido e respeitado. Contudo, não lhe chegam pacientes em seu luxuoso consultório; o laboratório é deixado de lado, o livro é muito prometido, mas nunca realmente começado. A fortuna da família permite que vá levando as coisas nessa toada, sustentando amigos e parasitas que voam em torno do Ramalhete, sem encontrar real propósito nas coisas. Carlos chega até a se envolver com uma mulher casada, mais por tédio que por real sentimento… até que a figura elegante de Maria Eduarda, ‘a brasileira’ faça-o virar a cabeça, nos sentidos literal e figurativo.

O sentimentalismo de Carlos da Maia contrasta com a moderação do avô, a vulgaridade de Dâmaso e a extravagância de João da Ega; sua paixão por Maria Eduarda (que só vem aparecer perto da metade do romance) caminha ao lado de seu caso com a Gouvarinho. A fortuna faz par com a dissipação; o gênio, com a indolência. Carlos e Ega, que se destacam pela capacidade intelectual, desperdiçam seus projetos, suas carreiras, correndo atrás de amores, de cavalos, da próxima aventura. Tudo isso usando como pano de fundo uma Lisboa em decadência, que passa da monarquia ao liberalismo e à desilusão política.

A prosa de Eça é repleta de detalhes, descrições que dão sabor e que nos carregam pelas mansões, ruas e alamedas em que a história se passa. Acompanhando Carlos, subimos e descemos o Chiado, seguimos a Sintra e Santa Olávia, adentramos alcovas em casarões e hotéis centenários. Desfrutamos dos muitos banquetes, doces, vinho a rodo. E, ao mesmo tempo, mergulhamos numa estrutura clássica de tragédia, nas casualidades que levam ao encontro de Carlos e Maria Eduarda; bem como da revelação de seu parentesco. Algo mais parece pairar sobre esses fatos, a mão do destino a manobrar tantas coincidências.

Deixando de lado o verniz romântico, a realidade é que Os Maias é uma poderosa crítica social, à cultura de aparências, à política, à dita alta sociedade. Discute-se literatura, debate-se o fim do romantismo e a ascensão do naturalismo; fala-se da dívida pública, da educação portuguesa, a falta de civilidade, do atraso social, da imitação ao que é estrangeiro, da falta de conteúdo que revelam os ditos intelectuais do país. Os amores, desilusões e fracassos dos Maia são também os de Portugal, incapaz de deixar os velhos hábitos, escondendo sob a pátina de bons modos sua degeneração moral.

Fiquei encantada com o livro, com a linguagem, com a maestria como Eça conduz seus personagens, com a ironia tão bem aplicada. Vou sair à cata de mais livros do autor...

site: http://owlsroof.blogspot.com/2018/06/desafio-corujesco-2018-uma-historia-de.html
Regina279 01/06/2018minha estante
Jurava que você já conhecia Tio Eça!! Recomendo pra você A Relíquia, A Cidade e as Serras e O Crime do Padre Amaro ?




Santcor 10/03/2018

Bom
Gostei bastante. A trama, os personagens, o texto, tudo muito bem trabalhado. A história é envolvente e a leitura flui bem. Já havia lido "O Primo Basílio", mas este ainda não. Muito bom.
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Sun's daughter 31/01/2018

Leitura arrastada e cansativa mas que vale a pena; sem dúvidas.
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Raio 17/07/2017

Difícil de terminar
O autor é incrível em descrever sensações e lugares, o problema é que enrola demais e o ápice do livro nunca chega. Acabei desistindo. Boa sorte para quem encarar.
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Adriani 03/07/2017

Recomendo...
É um livro muito extenso, a edição que li tem 700 páginas (Saraiva de Bolso), foi o que demorei mais tempo para ler, cerca de um mês. Os Maias, considerado uma das obras primas de Eça de Queirós, é um livro extremamente descritivista (pode ser considerado um ponto positivo se considerar que é graças a isso que pode-se "entrar" na estória e visualizar o ambiente) e massante.
É um livro muito interligado, então é necessário prestar a atenção em alguns detalhes que as vezes parecem insignificantes, mas que no decorrer do livro começam a fazer sentido. Porém, apesar disso, existem muitas coisas que são "insignificantes" e que saem um pouco do tema central.
Achei livro bom, com uma história muito interessante, mas acaba se tornando chato por ser tão descritivo. Li ele para fazer um trabalho escolar, mas quero reler, para conseguir entender melhor a estória, já que agora muitos fatos que ficaram incompreendidos estão mais claros.
Acho que, apesar de tudo, é um livro que vale muito a pena ler. Através dele consegui entender melhor como era a sociedade naquela época e um pouco mais sobre o Realismo.
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