Wellington 03/04/2021
Os Maias: 6,5
Um bom exemplo do quão pessoais são as minhas notas. Os Maias é uma obra excelente sob inúmeros aspectos; é fácil perceber por que é considerada a magnum opus de Eça de Queirós. Ao mesmo tempo, me desagrada.
As edições da coleção bolso de luxo da Zahar são impecáveis; sem erros, belos projetos gráficos, papel de qualidade, etc. Zero falhas e só elogios.
A escrita do romance me pareceu seca e torpe. Demora-se 300, 400 páginas para a trama se desenvolver; até aí, descrições são feitas de lugares e acontecimentos cotidianos: jantares entre amigos, passeios, conversas sobre política... É uma excelente obra naquilo que se propõe a fazer: um retrato da Lisboa dos fins do século 19. Mas é uma Lisboa bastante específica: aristocrática, amarga de não ser tão “chique” (sic) quanto Paris, arrogante, herdeira de fortunas que não são suas – e, claro, com exemplos de saudosismo escravocrata, eurocentrismo descarado, desprezo às colônias, etc. As longas descrições e irrelevantes diálogos são magistrais ao expor tal contexto.
Não é exagero: centenas de páginas são dedicadas a isso, antes que a história propriamente dita se inicie. Eu já estava fatigado e de saco cheio da irrelevância dos personagens. O protagonista me repugnou o livro todo. Apenas Maria Eduarda e Rosa me deram algum prazer na leitura; é por elas que minha nota sobe, foi por elas que insisti no livro até o fim; valeu a pena a leitura só para conhecê-las. À exceção delas, são todos mais ou menos iguais. Todos são homens que se queixam de algo, todos fumam, todos invejam Paris, todos desprezam Portugal; há traições para todos os lados, covardia, escárnio, oportunismo – a mensagem é que essa era a aristocracia lisboeta da época e nisso é uma obra fantástica. Só nisso.
No fim, a imagem não me sai. É a história de um velho galho quebradiço se descrevendo em toda sua secura.