Kennedy 17/09/2011
Leitura arrastada e cansativa mas que vale a pena; sem dúvidas
"Os Maias", romance escrito pelo português Eça de Queirós, é um retrato da burguesia portuguesa do final do século XIX. Em meio a tantas críticas à sociedade e ao clero, os protagonistas da estória são Carlos da Maia e Maria Eduarda, e por que não, João da Ega.
A estória faz muitas críticas à sociedade, sim, mas não apenas disso ela é nutrida. O livro conta a "trágica" estória da família Maia.
Tudo começa quando Pedro da Maia se apaixona por Maria Monforte. Essa, filha de um homem de caráter duvidoso, faz com que Pedro se desentenda com seu pai, Afonso da Maia, e saia de casa. Os dois se casam, em seguida Pedro recebe uma "galhada" da mulher, que foge com um príncipe. Desesperado e inconsolável, faz as pazes com seu pai e volta para o Ramalhete, como é conhecida a mansão da família.
Permanecendo inconsolável desde o dia que descobriu a traição e com uma dor de cabeça terrível, provavelmente ocasionada pela grande "galhada" que levou de sua "amada" (isso é brincadeira, "ok"?), Pedro não aguenta, tem um chilique, e como é uma pessoa muito ajuizada, dá um tiro em sua cabeça. É claro que morre.
Em seguida começa a segunda fase da estória, que é marcada por uma narrativa que acontece alguns anos depois da morte do jovem Pedro. Afonso da Maia, o velho e indestrutível Afonso da Maia, continua vivo e cheio de vida, criando seu neto, fruto do relacionamento de Pedro e Maria. Afonso é uma verdadeira fibra. Águas vêm, águas passam, céus e terras também, e ali está ele, firme e forte. O rapaz se chama Carlos, Carlos da Maia, e recebe uma educação rigorosa, bem no estilo britânico.
Depois de tantos acontecimentos a estória esfria. Fica parada e é exatamente aí que Eça aproveita para criticar a sociedade burguesa não só portuguesa, mas a classe em geral. E quando eu digo que a estória fica totalmente estagnada - em relação à trama principal - é porque fica muitas, mas muitas, muitas páginas sem coisas - vamos dizer - importantes acontecendo.
"Os Maias" é um livro cansativo. Sim, levei quase dois meses para acabá-lo, mas foi devido à pura rabugem e ócio, e, claro, a alguns problemas pessoais, os quais, em conjunto, fizeram com que eu demorasse a finalizar essa maravilhosa obra-prima que Eça de Queirós escreveu.
Quer queira quer não, tem-se que admitir que o livro enrola bastante. Se fosse um livro de Machado de Assis, teria no máximo umas 230 páginas. Aqui não: são 582 páginas (na edição que comprei, da Martin Claret, ótima editora por sinal). Claro que não quero tecer comparações entre esses dois maravilhosos autores, mas bem que podia, já que são de uma época muito próxima, e fazem parte da escola literária denominada Realismo. Porém aqui vai a minha opinião: simplesmente amei a obra de Eça de Queirós e o acho melhor que Machado, não querendo desmerecer o mestre de nossa literatura, claro. Sabe o que é aquela classe refinada de escrita, aquela calma em desenvolver a estória, de você se saborear mas também se irritar com a enrolação? Foi essa a sensação que tive ao ler "Os Maias". Algumas enrolações são necessárias, outras são completamente encheção de linguiça, consequentemente descartáveis.
No início da segunda fase, marcada pela juventude do filho de Pedro, Carlos, como já dito, a estória se estagna. Conhecemos uma centena de personagens chatos e interessantes, desinteressantes também, alguns completamente descartáveis. Somos espectadores de um bilhão de jantares a que nosso protagonista e seu fiel e inseparável amigo ateu, João da Ega, ou simplesmente Ega, vão. Depois de umas 200 páginas a estória volta a ganhar aquele fôlego, como o romance que surge entre Carlos e Maria Eduarda (não, não é a mãe dele, é uma mulher qualquer, uma simples coincidência; cof, cof, cof) mas não tão forte como seu ótimo começo. Então, até a página 430 - que é quando verdadeiramente a estória anda - temos muita enrolação, algumas coisas interessantes e, de novo, muita enrolação. Nas últimas 150 páginas acontecem muito mais coisas que as 250, 300 primeiras páginas.
"Os Maias" é uma leitura pesada e cansativa, que exige muita paciência, mas, que sem dúvidas, vale a pena e é bastante recompensadora.
Recomendado para todos que gostam de clássicos e bons livros de drama.