Jeromix 06/02/2019
Uma bela e marcante melodia literária
Em dezembro de 2018 terminei de ler “Filhos do fim do mundo”, primeiro romance do Barreto, e surpreendido pela qualidade, resolvi ler seus outros quatro escritos que estavam disponíveis pelo Kindle Unlimited.
Começando pelos contos “O céu de Lilly” e “A invasora”, e finalizando com as novelas do universo de Pedraskaen.
“A balada de Bernardo” é a segunda incursão ao dito universo, e sua leitura inclusive torna melhorar a experiência obtida com a anterior “A velha casa na colina”. Bernardo é um personagem apaixonante: é a perfeita mescla entre o flautista de Hamelin com a inocência e as capacidades sobrenaturais de John Coffey, de “A espera de um milagre”. Mas poderia ser de tantos outros personagens presentes em nossa produção cultural, geralmente apresentados como outsiders, seres especiais que nos apresentam a uma outra visão de mundo, mudando nossas vidas.
Com isso, reitero a capacidade que o autor possui de se utilizar de elementos que viraram chavões e clichês, mas apresentando um trabalho longe de oferecer estereótipos vazios, mas sim, muito bem fundamentado em arquétipos – os patrimónios comuns tanto do gênero literário quanto audiovisual.
Assim, mesmo que a obra em si compartilhe elementos associados ao terror e sobrenaturais, se apresenta não como assustadora, mas sim como uma linda história sobre sentimentos e relações humanas, estando repletas de frases marcantes, daquelas que se tornam epígrafes em nossas mentes e corações, para carregarmos durante o resto de nossas vidas – o que reforça meu posicionamento sobre a capacidade do autor em construir frases marcantes.
Esta novela demonstra mais uma vez a qualidade da escrita do autor, com uma narrativa cinematográfica envolta por questionamentos existenciais, permitindo que a obra seja ora frenética, ora intimista.
Pessoalmente, a leitura de “A balada de Bernardo” fez com que a “A velha casa na colina” se tornasse melhor, especialmente após me fazer perceber a importância e protagonismo da localidade de Pedraskaen – o que ousaria dizer, ser uma espécie de “Twin Peaks” do autor.
A bela capa da novela me chamou a atenção – visivelmente percebe-se que o perfil traz a representação de um negro, o que me instigou, e muito me alegrou ao realmente me certificar que o protagonista era negro. Portanto, se no texto temos a presença de um corvo nos moldes do Poe e na capa temos a reconhecida representação de um corvo, nada mais justo que o mesmo ocorrer com o protagonista negro. Detalhe sutil, mas importante.
Lido pelo serviço kindle unlimited, merece a compra permanente – eu adquiriria facilmente um box físico, quem sabe contendo a primeira parte de uma trilogia?
Recomendo!