Lista de Livros 19/07/2022
Introdução ao Fascismo, de Leandro Konder
Introdução ao fascismo (Parte I), de Leandro Konder
“Em sua essência, a ideologia da direita representa sempre a existência (e as exigências) de forças sociais empenhadas em conservar determinados privilégios, isto é, em conservar um determinado sistema socioeconômico que garante o estatuto de propriedade de que tais forças são beneficiárias. Daí o conservadorismo intrínseco da direita.
O conteúdo conservador de uma concepção não implica que ela se exteriorize necessariamente numa política de resistência passiva à mudança. Os conservadores sabem que, para uma política ser eficaz, ela precisa ser levada à prática através de iniciativas concretas, manobras, concessões, acordos, golpes de audácia, formas de arregimentação das forças disponíveis que transcendem da mera atitude doutrinária. A efetiva conservação dos privilégios depende menos de esforços lógicos do que de energia material repressiva: para o responsável pela prisão é mais importante que os guardas sejam de confiança e as portas das celas sejam sólidas do que persuadir os presos da excelência do sistema penal vigente. (...)
O próprio sistema em cuja defesa as classes dominantes se acumpliciam – um sistema que gravita em torno da competição obsessiva pelo lucro privado – impede que as forças sociais em que consiste a direita sejam profundamente solidárias: elas só se unem para os objetivos limitados da luta contra o inimigo comum.”
*
Mais do blog Lista de Livros em:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2022/06/introducao-ao-fascismo-parte-i-de.html
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Parte II:
“O fascismo é uma tendência que surge na fase imperialista do capitalismo, que procura se fortalecer nas condições de implantação do capitalismo monopolista de Estado, exprimindo-se através de uma política favorável à crescente concentração do capital; é um movimento político de conteúdo social conservador, que se disfarça sob uma máscara “modernizadora”, guiado pela ideologia de um pragmatismo radical, servindo-se de mitos irracionalistas e conciliando-os com procedimentos racionalistas-formais de tipo manipulatório. O fascismo é um movimento chauvinista, antiliberal, antidemocrático, antissocialista, antioperário. Seu crescimento num país pressupõe condições históricas especiais, pressupõe uma preparação reacionária que tenha sido capaz de minar as bases das forças potencialmente antifascistas (enfraquecendo-lhes a influência junto às massas); e pressupõe também as condições da chamada sociedade de massas de consumo dirigido, bem como a existência nele de um certo nível de fusão do capital bancário com o capital industrial, isto é, a existência do capital financeiro.”
*
Mais em:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2022/06/introducao-ao-fascismo-parte-ii-de.html
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Parte III:
“A ideia de procurar definir os traços de uma hipotética personalidade fascista pode servir de estímulo a úteis discussões sobre problemas educacionais do sistema capitalista, mas dificilmente nos levará a uma melhor compreensão da natureza do fascismo como movimento político.
O que caracterizaria, afinal, essa personalidade fascista? A íntima insegurança? O espírito aventureiro? O fascínio pela violência? O ódio?
Na realidade, como expressão política de determinadas tendências sociais, o fascismo tem se expressado através da ação de personalidades individuais muito variadas. (...)
Se levarmos demasiadamente a sério o que esses personagens pensavam de si mesmos e procurarmos, a partir do que diziam, concluir algo sobre o sentido específico dos movimentos que cada um deles liderava, estaremos nos servindo de um método inadequado. O fascismo tem se servido de tipos humanos bastante diversos, desde tarados sexuais como Julius Streicher até zelosos funcionários que se limitavam a cumprir disciplinadamente os seus deveres (mesmo quando esses “deveres” consistiam na liquidação de três milhões de pessoas, como se viu no caso de Rudolf Hoess, comandante do campo de concentração de Auschwitz, executado em abril de 1947, que fez questão de deixar bem claro em seu testamento que nunca tinha sido “um homem de mau coração”).
As contradições e a complexidade psicológica dos indivíduos apresentam interesse secundário, quando se trata de avaliar a exata significação da política que punham em prática. Precisamente por ter chegado a se tornar um movimento de massas, o fascismo não pode deixar de ter mobilizado (e não pode deixar de continuar a mobilizar) gente de toda espécie. Fixar unilateralmente a atenção nos indivíduos é um modo de perder de vista o social. Um daqueles casos em que, como dizia Hegel, as árvores impedem de enxergar a floresta.”
*
*
Mais do blog Lista de Livros em:
site: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2022/06/introducao-ao-fascismo-parte-iii-de.html