Vania Nunes 16/03/2017
Conto de Fadas Moderno: A Bela e a Fera
Este é um conto de fadas moderno, que acontece na pequena cidade de Danvers, na Virginia.
1 - Aspirações em comum:
Os dois personagens, que até então não se conheciam, quando mais jovens têm aspirações parecidas: conhecer o mundo.
Savannah, ou Vanna, como é chamada pela irmã mais nova, estudou jornalismo e conseguiu uma vaga no New York Sentinel, com grande aspiração de tornar-se uma repórter investigativa.
Some a isso, sua sorte em ter encontrado um homem por quem se apaixonou terrivelmente e nele confiou implicitamente.
Asher, vindo de uma família tradicional na cidade, os Lee, era o garoto de ouro da escola. Filho único e de família rica, ele brilhava no time de futebol. Mas não foi nisso que ele fez carreira.
Na adolescência, perdeu os pais num acidente aéreo e sua guardiã, Srta. Potts, muito amiga de sua avó, o criou até que ele entrasse na faculdade de Medicina John Hopkins. Mas um acontecimento o impeliu a querer servir a nação e ele se alistou no exército, fazendo carreira.
2 - A decepção e a volta dos filhos pródigos:
Patrick Monroe, o namorado de Savannah, a usou para ajudar a limpar o nome do pai num esquema do qual ele era culpado. Ela escreveu uma matéria no jornal culpando as pessoas erradas.
Quando cartas de ódio começaram a chegar na redação e os acusados injustamente processaram a mesma em três milhões de dólares, era Savannah o lado mais fraco da corda e ela perdeu o emprego, além de sair desmoralizada. O jeito foi voltar mais cedo para casa e usar o casamento da irmã como desculpa para o retorno antes da hora. Entretanto, os pais dela sabiam a verdade.
Sem namorado, sem trabalho e com uma má reputação na área.
Quatro anos depois de ter se alistado, Asher sofre um acidente no Afeganistão quando uma bomba explode perto do acampamento onde ele estava. Um outro soldado foi pulverizado pela explosão, enquanto ele sofreu ferimentos graves.
Ele perdeu metade do braço direito, seu lado direito do rosto ficou deformado, com o olho quase saltando, sua orelha também foi arrancada.
Ao voltar para casa, ele já não tinha os pais para o receberem, apenas sua guardiã, que também fazia o papel de governanta. A cidade de Danvers não soube lidar com um herói desfigurado e Asher se isolou em sua propriedade.
Os anos passaram e ele, solitário, apenas lia...
3 - A oportunidade:
Savannah recebe o telefonema de uma outra repórter que havia conhecido numa conferência em Los Angeles. Esta fica sabendo do que ocorrera com Savannah e decide ajudá-la a conseguir uma nova colocação. Em Phoenix. Não era na área investigativa, mas já seria um recomeço.
Para garantir a vaga, ela deveria escrever uma matéria inédita que abarcasse algo sobre Estilo de Vida. Esta, se aprovada, seria publicada na edição da comemoraçao do 4 de Julho (data da independência americana).
É quando Savannah tem a ideia de escrever sobre a vida do herói ermitão da cidade, Asher Lee.
Asher estava há oito anos convivendo apenas com a Srta Potts e, de vez em quando, com o marceneiro que vinha ampliar sua biblioteca.
Asher era um leitor contumaz, e sua paixão era por livros de romance. Por mais que ele lesse outros gêneros, como não ficção e biografias, ele acabava voltando para um ou outro romance. Isso talvez fosse pelo fato de ele saber que ele próprio nunca viveria nenhuma daquelas histórias, nunca encontraria o seu par romântico. Qual mulher iria querer ter algo com um homem desfigurado?
Srta Potts vivia lhe dizendo que ele precisava voltar a se relacionar com os seres humanos. Mas se isso lhe obrigasse a ter de enfrentar mais cirurgias para restaurar o braço ou o rosto, ele preferia ficar sozinho.
É quando Savannah aparece à sua porta, com um romântico vestido floral e um prato de brownies.
Ok, ela, naquele vestido, foi um bônus, mas definitivamente foram os brownies que lhe conquistaram, e ele decidiu telefonar para ela agendando visitas 3 vezes por semana, durante uma hora, num total de 12 encontros, para contar-lhe sua história.
4 - Os 12 passos:
Com a fusão de duas pessoas que retornaram à cidade para lamber as feridas, Asher e Savannah passam de entrevistador e entrevistado para amigos, e de amigos para algo mais, ainda um tanto indefinido para ambos.
Asher ainda tinha as inseguranças de antes. Ele continuava com o rosto deformado, sem a mão direita e com o cabelo cobrindo a orelha faltante, mas agora ele fazia parte do mundo dos humanos. Por Savannah, ele reuniu coragem para voltar a ir à cidade, ir à casa dela e lidar com pessoas que se assustavam ou faziam cara de nojo ao vê-lo.
Estar com ela, defendê-la, era algo que fazia valer a pena enfrentar seus medos, e parte deles começam a dissipar quando ele percebe que só precisava dar tempo às pessoas de o enxergarem.
Savannah, por sua vez, tinha um objetivo em jogo: dar a volta por cima de seu desastre no jornalismo e provar a todos, e principalmente a Patrick, que ela era uma profissional valiosa.
Conseguir convencer Asher a dar uma entrevista já seria um feito e tanto, mas mais ainda pelo fato de que ela sentia que estava mais do que envolvida.
O medo de achar que estava caindo no mesmo erro que cometera com Patrick era enorme, mas a personalidade de Asher - depois de ter derrubado a barreira de sua rudeza - era cativante. E os beijos tornaram-se mágicos.
Durante os 12 encontros marcados para a entrevista, eles vivenciaram os momentos importantes em qualquer relacionamento, segundo a reportagem de uma revista feminina lida por Scarlet.
Eles passam do silêncio confortável à confirmação de que gostavam da companhia um do outro. Passam da fase de estar sempre arrumado a aquela em que você não se sente constragido por estar nu pela primeira vez na frente do outro. Passam pela noite inteira acordados, apenas conversando, àquela em que têm a primeira grande briga. E assim, eles descobrem estar apaixonados.
Mas será que ele mudaria de ideia e conseguiria se submeter a mais meses de cirurgia e tratamentos de adaptação a novas próteses?
E será que ela abriria mão de seu trabalho em Phoenix para ficar com ele em Danvers, em sua gaiola de ouro?
Sem cliffhanger, a autora traz os dilemas modernos de um casal nada perfeito e com profundas cicatrizes.
Por dois momentos ao longo da história eu senti que a emoção era a tônica da narrativa da autora (eu sei, parece estranho dizer isso porque, afinal de contas, TODA a história é sobre um homem que teve a vida praticamente destruída ao sofrer o tal acidente e ser tratado como um monstro): o primeiro momento é num diálogo entre filha e mãe (Savannah e Judy), quando esta conta à Savannah a razão de seu quadro de medalhas na cozinha, de todos os seus prêmios culinários ganhos ao longo dos anos. O segundo, foi quando uma associação real é citada no livro, a OPERAÇÃO MEND.
Esta associação restaura rostos de veteranos de guerra feridos em combate, e a autora, nos meses de junho e julho, reverte seu lucro de vendas para esta associação.
Sem tornar a leitura carregada, a autora consegue transmitir, em algumas cenas, a dimensão exata do que se passa com um soldado quando ele sofre um ataque dessa proporção e quando ele precisa reaprender a viver sem um membro do corpo ou com uma prótese. Para quem está de fora pode parecer fácil, mas não é. E por essa iniciativa, a leitura do livro já valeu a pena.
Aqui não tem milagres da noite para o dia, Ninguém se transforma num piscar de olhos. Tudo dói, tudo precisa ser pensado, decidido, tratado, seja na cura da pele, quanto da alma.
O romance sexual, na verdade, acaba ficando em segundo plano e eu confesso que mesmo se o livro não tivesse as cenas sexies, ele seria muito bom do mesmo jeito. Mas, para quem prefere-as, elas existem.
O ritmo é muito bom. Os personagens secundários dão o tempero certo, porque com eles também há problemas a serem resolvidos.
Este livro faz parte de uma série chamada Contos de Fadas Modernos. Eles não têm uma ordem de leitura, cada livro trazendo um conto de fadas diferente.
Para quem está na expectativa do lançamento do filme da Disney, este livro aqui é um bom aquecimento.
5 estrelas.