Viajar: Eu Preciso!

Viajar: Eu Preciso! Mayke Moraes




Resenhas -


22 encontrados | exibindo 1 a 16
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Dani 29/01/2021

Viagem e aventuras
Que maravilhoso esse livro, a vontade é de sair por aí viajando mundo à fora, conhecer novas culturas e ter experiências sensacionais. Uma inspiração a vida de Mayke.
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Carla.Parreira 04/09/2024

Viajar: eu preciso! (Mayke Moraes). Melhores trechos: "...A imprevisibilidade da vida sempre me fascinou. Ao contrário de muitos que conheço, nunca tive paz naquilo que era seguro ou certo. Meu espírito clamava por liberdade... Na liberdade não há segurança – há confiança nas próprias decisões. Decisões estas que começaram a ser pautadas por uma bússola interna que me movimentava a experimentar, com mente, corpo e coração, todas as sensações que lugares, pessoas e situações em diferentes países, podiam oferecer. Essa jornada de autoconhecimento e imersão cultural me proporcionou visitar e viver 54 países. Respirei culturas diferentes que me fascinavam à medida que me faziam perceber a riqueza da diversidade. Ao mesmo tempo, lidava com conflitos internos que iam sendo alimentados por convenções sociais... Não há passaporte que possa ter tantos carimbos quanto o nosso coração quando este está aberto a receber tudo aquilo que cada dia pode nos oferecer... Viver é se movimentar. E esse movimento eu escolhi fazer ao redor do planeta. O melhor caminho é aquele em que você está em movimento... No inverno do Alasca, a luz do Sol brilha por apenas cinco horas diárias. O restante é escuridão. No verão, ao contrário, há apenas poucas horas de noite escura e às 4h da madrugada a luz solar já se pronuncia no horizonte... Devidamente agasalhados, saímos do carro com nossas espingardas e escopetas e subimos a montanha a pé, numa caminhada que durou aproximadamente três horas. Cada um de nós levava também um pequeno trenó, para carregarmos os animais que abateríamos. Me sentindo parte de um filme, eu ainda não entendia a necessidade de tanto armamento. Apenas no final do caminho, John me explicou que aquilo era para nos proteger dos lobos que poderiam estar à espreita na mata. Se minha espinha ainda não estava congelada, aquele comentário enfim fez com que ela congelasse imediatamente... Já no ar, não tinha volta: ou saltava ou saltava. A porta se abriu a mais de cinco mil metros do chão, entrou aquele vento gelado no meu rosto e fiquei dividido entre a paralisia total do corpo e a vontade de saltar e gritar a plenos pulmões. Dei uma olhada rápida e vi a cidade abaixo como um mapa aberto na mesa. Meu coração saltou antes de mim e somente depois meu corpo pareceu descer, em queda livre, durante 30 segundos, até que o paraquedas se abrisse. A descarga de adrenalina superou o medo e eu liberei o grito abafado. A sensação era a de fazer parte da vida... Em outra viagem, fomos para o Havaí, onde realizei um grande sonho: um passeio de submarino a quase 80 metros de profundidade. Das alturas do ar às profundezas do mar, ambas as experiências me fizeram perceber quantas coisas existem a ser exploradas quando falamos sobre sensações humanas. E se eu achava que aquelas seriam as mais intensas emoções que passaria ao longo da vida, é porque ainda não tinha a mais vaga ideia do que o destino ainda reservava para mim... Naquele final de semana, além da previsão de auroras boreais, haveria o segundo maior festival de escultura de gelo do mundo. As esculturas, do tamanho de casas e prédios, deixavam todos fascinados... Um dos grandes problemas de quem viaja: é fácil conhecer pessoas. Mas você parte e elas ficam. Você as leva no coração, mas elas sentem aquele vazio que você deixa onde antes havia uma presença... Um dos maiores medos que me assolava era perder alguém querido e não poder estar por perto. Pensava em como é uma escolha difícil a de se cortar o cordão umbilical e seguir para o mundo, com as próprias pernas, tomando as próprias decisões a respeito de tudo... Poderíamos recuperar o dinheiro, mas o tempo nunca é recuperado. Isso acabou nos dando outra grande lição: podemos nos decepcionar com monumentos e lugares turísticos que são vendidos como imperdíveis, mas que na verdade são muitas vezes dispensáveis. Fora isso, tivemos uma excelente jornada em Pequim. Era um lugar em movimento. A impressão que tínhamos era a de que as pessoas de todas as idades praticavam movimentos corporais, artes marciais e danças. Idosos pareciam fazer Kung Fu com a facilidade de crianças. Além disso, era curioso perceber como todos os chineses eram de baixa estatura e pareciam encolher à medida que o tempo passava. Costumávamos brincar que os chineses não morriam, mas encolhiam com a idade até desaparecerem por completo. Na China, viajantes são vistos como homens de dinheiro... Sabíamos que, se escolhêssemos aquilo que parecia ser a pior opção, o restante ficaria mais fácil. Então, começamos em grande estilo: um escorpião gigante, preto, inteiro, que parecia envernizado. Eles pegam o escorpião morto, o colocam no espeto e fritam. Confesso que fiquei com receio de ir adiante. Mas a curiosidade era grande e eu não queria imaginar estar em Pequim, na rua mais famosa do mundo pelas comidas exóticas, e não ter me proporcionado essa experiência fascinante. Compramos duas cervejas para poder engolir aquilo e mordemos a casca crocante que se despedaçou na boca. O sabor, no final, se assemelhava ao de um caranguejo. E entender que, de certa forma, comer caranguejo poderia ser considerado estranho para outras culturas, me dava um certo alívio. De fato, depois do escorpião preto tudo ficou mais fácil. A grata surpresa veio com outro tipo de escorpião, desta vez pequeno e amarelo. Tenso, o coloquei na boca e imediatamente me tranquilizei: talvez fosse aquele o mais gostoso tira-gosto que havia experimentado ao longo de toda a minha vida. O sabor lembrava uma mistura de camarão com pele de frango crocante. Ao pedir a repetição da iguaria, achei divertido perceber que ficaria naquela barraca até o final do dia, comendo escorpião e tomando cerveja. Ainda houve espaço para comer bicho-da-seda (que parecia uma lesma) com os órgãos dentro e de sabor doce, que me deixou enojado, grilo e gafanhoto. Só recusei a tal da barata-d’água, enorme e assustadora... Quando o agente da imigração me perguntou sobre o Carnaval, logo mudei de assunto. Não gosto de retratar uma imagem estereotipada, reforçando ainda mais a crença de que exista só samba e futebol no nosso país. Não culpo as pessoas. Eu mesmo, antes de conhecer um coreano, acreditava que eles comiam carne de cachorro no dia a dia, sem saber que a grande maioria da população condena essa prática... O restaurante era tão limpo e atraente quanto uma boa churrascaria brasileira. E se nós brasileiros achamos normal comer carne de vaca, para eles, matar um cachorro para comer é quase a mesma coisa. Na Coreia há fazendas onde se criam cachorros de uma raça específica para o abate. Como criam-se porcos e galinhas no Brasil para o mesmo fim. E se na Índia é um ato condenável comer carne de vaca, no Brasil seria igualmente criticado ingerir carne de cachorro... É difícil julgar o que é certo ou errado quando se trata de avaliar hábitos de uma cultura local. Eu iria perceber isso com clareza na viagem que faria à Índia, onde a miséria é assoladora e muitas pessoas imploram por comida ou morrem de fome. O curioso é que o número de vacas que circulam pela cidade é quase tão grande quanto o número de pessoas. Então, eu, com minha mente de homem ocidental, pensava: 'Por que essas pessoas não matam as vacas e se alimentam antes de morrerem de fome?'. Mas a lógica deles era outra: como a vaca é um animal sagrado na Índia, eles preferem ver um filho morrer de desnutrição a abater o animal para alimentá-lo... A tourada mantém admiradores ao redor do mundo por seu caráter envolvente. É costume torcer para o toureiro. Mas eu, confesso, torci para o touro em alguns momentos. O curioso da vida não é tentar modificar certas práticas. Nem aceitá-las. É entendê-las, dentro de seus contextos únicos e particulares... Não parecia ser nada muito diferente do que encontrávamos nos restaurantes de frutos do mar do Brasil. Assim, escolhemos um deles e seguimos para a nossa mesa. Só não estávamos preparados para o que aconteceria logo a seguir: o encarregado enfiou a mão no aquário, retirou o polvo e o levou até a mesa. Vivo! Como eu imaginava que um polvo frito seria servido fiquei um pouco surpreso e incomodado. Aquele animal, com olhos saltados e tentáculos longos, estava nos encarando como se fizesse um desafio antes de ser comido... Depois de pedir mais cerveja, consegui arriscar e mastigar o primeiro tentáculo de polvo. O gosto não era ruim, mas a impressão de que ele se mexia dentro da boca me deixava desconfortável. O tentáculo praticamente se agarrava na língua enquanto eu tentava mastigá-lo... Numa viagem é difícil dizer quais serão as condições que você vai enfrentar. Em todos os sentidos. Isso me tornou um ser humano adaptável. A intensidade da vida só é aceita quando nos colocamos nela por inteiro, sem pudores, medos, vergonhas ou características que possam destruir os momentos que podem ser construídos e reinventados. E a minha jornada estava apenas começando. Tudo que eu já aprendera ainda era pouco diante do que eu estava prestes a aprender. Percebia que estava vivendo a vida de uma maneira que eu jamais tinha suposto ser capaz... Ficamos empolgados quando vimos um anúncio de massagem tailandesa. Na Tailândia, existem as massagens sérias, feitas por profissionais experientes e renomadas, e as massagens feitas por mulheres que se prostituem. Nas ruas é comum algumas mulheres dizerem que fazem massagem com happy ending (final feliz). Mas não era esse tipo que procurávamos. Optamos pela tradicional. Mas então compreendi que a tentativa de relaxar com a massagem iria por água abaixo já quando a senhora que começou a tocar em meu corpo deu murros para 'desbloquear a tensão'. O que aconteceu ao final foi justamente o inverso do esperado: em vez de relaxado, acabei saindo dali com o corpo todo ainda mais dolorido, graças às pancadas que levei... Peguei o hashi e percebi que estava um pouco sujo. Sabia que ali eles reutilizavam até o hashi de madeira. Como eu estava morrendo de fome, não liguei e comecei a comer... Os trejeitos e hábitos deles eram curiosos. Tudo que eles comiam eles jogavam no chão. Ossos de frango, restos, papel etc. O chão era repleto de sujeira. Mais tarde eu entenderia por que havia tantos ratos rondando aqueles restaurantes durante a noite... Reflexivo, saí dali conversando com o viajante vietnamita, que me dizia que aquilo era comum. Como todo mundo produzia, muitos não faziam compras. Não havia despesas com água, porque não havia água encanada, e tampouco gastos com luz, porque não tinha eletricidade na maioria dos lugares. Naquele dia eu fiquei mal. Em um dia de trabalho eu conseguia mais do que eles ganhavam em um ano. Era muita desigualdade no mundo. Isso nenhum guia de viagens vai te fazer sentir. Nenhum filme... Assim, chamou um rapaz de uns dezesseis anos, ágil e esperto, que estendeu a cobra e, num só golpe, arrancou seu coração e o jogou num prato. O coração de uma cobra é pequeno, parece o coração de frango que comemos nos churrascos no Brasil. Mas ele batia. Deveria ser consumido daquele jeito, para que ficasse batendo por aproximados quinze minutos dentro do corpo de quem o tinha ingerido. Era bizarro e curioso. O menino arrancou a pele, os órgãos, a carne, a gordura, depois de extrair o sangue num copo e colocar um líquido verde espesso no outro. Aquela era a bile da cobra. E deveríamos tomá-la também. Se eu tinha considerado a experiência de comer um escorpião frito exótica, jamais podia imaginar que faria parte de algo tão diferente assim... Ele adiantou que eu certamente pegaria uma intoxicação, com maior possibilidade de ser na Índia e ou no Nepal. As dicas principais eram para não beber água que não fosse engarrafada e fechar a boca quando tomasse banho para não ingerir nenhuma gota, por causa da falta de saneamento... O cheiro da Índia é de uma massa orgânica em decomposição. Os esgotos a céu aberto causam isso. Eu sempre fui uma pessoa movida pelo olfato... O olfato não é o único sentido impactado quando se chega à Índia. A poluição sonora é de deixar qualquer um louco. Buzinas são disparadas desenfreadamente em um ambiente superpopuloso e desorganizado de maneira suficiente para deixar qualquer um mentalmente confuso. Esse cenário de caos contrapõe-se àquela Índia da qual tanto ouvimos falar – a Índia dos monges, dos espiritualizados, das pessoas que encontram a paz. Eu não imaginava como seria possível encontrar alguma paz, ou qualquer ascensão espiritual ali, dentro da caótica cidade de Mumbai. Um turista despreparado pode sentir nojo suficiente para desejar ir embora o mais rápido possível. Embora sagradas, as vacas circulavam como se fossem cachorros vira-latas... Cada rato no templo é considerado como um deus em especial, daí a reverência com que são tratados... É preciso se lembrar disso quando se entra no Templo dos Ratos. Pois, como em todo templo hindu, é necessário tirar os sapatos na entrada. Pisar no mesmo piso onde mais de vinte mil ratos urinam e defecam todos os dias depois de serem agraciados com oferendas vindas dos indianos que os reverenciam o tempo todo nos pareceu uma imersão cultural aprofundada demais. Decidimos entrar de meias. Duas, para garantir. O cheiro ali era forte demais. Eram muitos ratos doentes e nenhum tinha medo dos humanos. Eles podiam até mesmo subir nas costas de quem oferecesse alimento. Dizem que quem mata um rato ali tem que pagar o peso do rato morto em ouro para deixar o templo. Por isso todos andam com cuidado. Por outro lado, achar um rato albino é sinal de sorte e riqueza para toda a vida. Mas esses não apareceram para nós... Varanasi significa 'a porta do céu'. O rio Ganges, um dos mais famosos do mundo, cortava toda a cidade com sua mistura de água, cinza de cadáveres, pedaços de corpos humanos, lixo e coliformes fecais. Em Varanasi, os corpos são queimados até se tornarem cinzas e serem despejados na margem do rio... Minha missão ali, porém, ainda não estava completa. “Eu queria nadar no Ganges”. Segundo a tradição hinduísta, isso purificaria minha alma. Eu me despi de preconceitos e da camisa e mergulhei. De início, timidamente. Mas depois dei algumas braçadas. Percebi que era aplaudido por locais, enquanto turistas me olhavam curiosos e com certo repúdio. Quando saí dali, eu literalmente, me senti de alma lavada... Ana e eu nos surpreendemos com a Batu Caves, um conjunto de templos hindus localizado dentro de uma caverna 'de outro mundo' – um mundo em que macacos e humanos coabitavam. Essa liberdade concedida aos animais deixava alguns turistas amedrontados. A própria Ana teve sua manteiga de cacau roubada por uma grande macaca que avançou em sua mão assim que ela tirou o objeto da bolsa... Sabia que queria partir dali rumo à África. Queria conhecer países como Nigéria, Congo, Tanzânia, Zimbábue. Só que minha intenção e curiosidade eram opostos ao vento que soprava meu destino para outras latitudes. Existem muitos fatores externos que interferem em nossas decisões. Naquele caso, era um surto letal do vírus Ebola. Era inviável viajar para aquela região naquela época. Devido a isso, reformulei o meu roteiro. Essa é uma das vantagens de não se ter uma rota engessada, ou ainda com passagens compradas com muita antecedência. Com a mochila nas costas e um novo roteiro em mãos desembarquei em Kuala Lumpur, a capital da Malásia, onde me hospedei num albergue cujos quartos eram batizados com nomes de países. Fiquei no que era chamado Holanda. Logo fiz amizade com a Ana, uma jovem russa muito curiosa por tudo que eu contava. Não demorou para começarmos a explorar aquele território juntos e aos poucos fui percebendo que, além da beleza, ela era dotada de um incrível senso de humor, que tornava sua companhia ainda mais agradável. Ela tinha um corpo escultural, pele morena queimada de sol, cabelos cor de cobre e um sorriso que parecia transportado de um filme da Disney. Eu me perguntava se ia resistir por muito tempo ao seu lado, pois era difícil não se apaixonar. E, em partes, me deixei levar pelo clima de amizade descompromissada que foi se construindo entre nós. Deixei rolar. Kuala Lumpur é reconhecida como uma cidade global, a única deste porte da Malásia. A cidade era um mix de atrações interessantes para todos os gostos. Havia boas opções para as noites, assim como lugares incríveis para passarmos boa parte dos dias. E não desperdiçávamos tempo. Ana e eu nos surpreendemos com a Batu Caves, um conjunto de templos hindus localizado dentro de uma caverna 'de outro mundo' – um mundo em que macacos e humanos coabitavam. Essa liberdade concedida aos animais deixava alguns turistas amedrontados. A própria Ana teve sua manteiga de cacau roubada por uma grande macaca que avançou em sua mão assim que ela tirou o objeto da bolsa... O encantamento com as cavernas gerou um clima de cumplicidade entre nós. No metrô, quando voltávamos ao albergue, senti algo diferente em seu olhar. Eu tinha planejado conhecer as ilhas Perhentian sozinho. Mas, quando Ana entrou no meu dormitório e perguntou para onde eu seguiria dali, o planejamento mudou. Não foi difícil tê-la ao lado. As ilhas Perhentian são famosas pelas praias de areia branca e locais de mergulho. Na menor das ilhas, a Perhentian Kecil, respira-se um ambiente jovem e descontraído, propício a viajantes independentes. Na Perhentian Besar, existe tranquilidade e luxo; era um refúgio ideal para famílias de meia-idade em busca de descanso. Minha rotina nas ilhas era acordar cedo, mergulhar com vários tipos de peixes, tubarões e tartarugas, cervejar, explorar a mata, descansar, curtir a baladinha noturna e repetir tudo no dia seguinte. E ainda tinha a Ana. Eu sabia que ela tinha alguém em algum lugar do mundo. Já tinha sacado isso. Então, me habituei em ocupar o posto de amigo. Só que a Ana sabia ser provocante. E, na primeira noite no hotel em que dividiríamos a cama de casal, ela disse que dormiria nua. Resumidamente, os dois dias que se seguiram foram praticamente uma lua de mel entre nós. Naquela ilha paradisíaca, com uma russa de deixar qualquer homem enlouquecido, eu me sentia o mais sortudo dos mortais. Tive a impressão de estar vivendo um sonho... Desde que tínhamos chegado lá, uma dor na sola do pé me perturbava, mas não havia nenhum corte ou machucado. Porém, chegou um momento em que já não conseguia caminhar. Após pesquisar, concluí que aquilo era uma micose decorrente da frequência de banhos descalço em locais públicos. Comprei uma espécie de ácido na farmácia e comecei a passar todos os dias, afim de tirar a pele e sair o pequeno caroço que parecia uma verruga. Miss Coreia tentava me dissuadir de passar o tal produto que, segundo ela, estava formando um buraco no meu pé que iria acabar atingindo o osso. Mas continuei. Depois dos inúmeros passeios por templos, seguimos rumo à cidade de Phonsavam com seus jarros arqueológicos de dois mil anos do tamanho de pessoas... Saí para conhecer o tal Campo da Morte, um campo de concentração onde uma criança havia sido morta sendo segura pelos pés e tendo sua cabeça lançada contra o tronco. Ali ainda podia-se ver marcas de sangue, dentes, cabelo. Fiquei horrorizado com aquilo. De doze mil pessoas, apenas oito tinham sobrevivido. Oito pessoas. Não oito mil... Quando eu vira a notícia, tinha achado que se tratava de um viral. Um daqueles vídeos feitos para a internet que nem sempre sabemos se é verdadeiro ou não. Não conseguia acreditar que pessoas fossem capazes de comer fetos. Mas, segundo ele, esse restaurante existia, e tinha sido fechado depois que a polêmica se espalhara mundo afora. O estabelecimento era famoso e caro. Quem comia acreditava que iria adquir a juventude do bebê que não tinha nascido. Como muitas mulheres abortavam fetos femininos, a facilidade com que o restaurante os adquiria deveria ser extrema... Passamos os quatro dias seguintes dentro do quarto, só saindo para comer. A Adelane talvez tenha sido uma das experiências sexuais mais intensas que já tive na vida. Uma atração tão forte a ponto de me desligar do resto do planeta. No quinto dia ela teria que voltar para a França. A vida seguiu seu rumo. E eu segui meu rumo também... Lembrando que meu ponto de partida foi Dublin (Irlanda), de onde voei direto para Mumbai (Índia) e até agora, incluindo todos os meios de transporte que vão desde o ônibus mais 'fuleiro' aos incríveis vip bus da Malásia e Tailândia, trens e todos os outros voos, mais alimentação, hospedagem, algumas atrações turísticas, vistos e baladinhas, tive um gasto total de: 1.600 euros = 4.853 reais. 4.853,00 reais divididos pelos 106 dias de viagem até agora, resultou em um gasto diário em torno de 45 reais ou 15 euros. Agora eu te pergunto: você acha esse valor absurdamente alto?... Estipule um valor diário que você possa gastar, dentro, é claro, do seu orçamento e trabalhe em cima disso. Tente não ultrapassar esse limite enquanto viaja. Anote cada gasto e no final do dia compare com o seu orçamento e veja se você não extrapolou seu limite. Se isso acontecer, controle-se no próximo dia. Os maiores gastos geralmente estão nos transportes, principalmente voos. Se você conseguir economizar nisso, tudo ficará mais fácil. Existem vários programas de voluntariado que oferecem acomodação e às vezes alimentação gratuitas em troca de algumas horas do seu trabalho, em um leque enorme de possibilidades... Viajar como mochileiro é quase sempre mais barato do que parece. Muitos continuam achando que tenho gastos exorbitantes, ou que sou rico por já ter conhecido 40 países. Esse é um grande erro, pois hoje em dia é mais barato e fácil do que viver em grandes cidades. O importante é termos foco, força de vontade e planejamento... Voltando às bizarrices gastronômicas de minhas viagens pelo mundo, dessa vez resolvi comer uma iguaria local. Chegou a vez de degustar o tão aguardado e temido Balut – que era basicamente um ovo de pato cozido com embriões parcialmente desenvolvidos dentro. A iguaria é popular nas Filipinas pelo seu alto teor de proteína. Primeiro quebra-se o ovo para beber o líquido que se encontra ali dentro. E aí descasca-se o ovo cuidadosamente, colocando sal, e come-se numa só mordida. Tem que comer os ossos e as penas, e eu precisei de um gole de cerveja para engolir tudo aquilo. O cheiro é de ovo podre e as pessoas vendem isso em qualquer lugar. A aparência é muito pior do que o gosto... A primeira coisa que fizemos foi ir a um parque descampado com duas grandes árvores chamadas 'árvores do desejo': na primeira vez que você vê a árvore, tem que mentalizar um desejo e conseguir passar entre elas para ter seu pedido atendido. Mas você é vendado e girado como na cabra-cega. Fui parar quase fora do parque... Na república, eles se banhavam num piso ao lado de uma espécie de tanque onde ficava a água. E eu me refrescava cerca de três vezes ao dia. Eu pegava o balde, enchia no tanque e jogava em meu corpo. Num desses banhos quando o balde caiu dentro do tanque, fui pegá-lo, ainda ensaboado quando percebi que eu iria continuar assim por muito tempo, pois o tanque estava repleto de larvas, nadando pela água que eu tinha tomado banho durante todos aqueles dias. Eu só pensava na cena de eu há poucos minutos jogando aquele balde cheio sobre a cabeça com a boca aberta, engolindo tudo... Ao sentarmos no restaurante, lá estavam eles no cardápio: morcegos inteiros e fritos. Assim que o prato chegou, com aqueles dois monstrinhos parecendo pequenos tiranossauros com os dentes e bocas à mostra sobre o arroz, repensei minha escolha. Desfiei aquela carne cuja textura parecia fígado de galinha e comi. O gosto não era dos piores, e por dentro ele estava molenga, apesar de frito e duro por fora. Só me foi impossível comer a cabeça... A preparação do Kopi Joss começa no estilo javanês, com café moído, açúcar e água quente, em seguida o ingrediente mágico é adicionado: pedaços de carvão flamejantes. O carvão neutraliza a acidez do café, tornando-o mais fácil de ser saboreado, sendo também um remédio natural para aqueles que sofrem de constantes dores de estômago. Suave, não tem o sabor de madeira queimada como eu havia imaginado. Só deixa cinzas do carvão em seus dentes e boca... Assim como nas Filipinas, onde fiquei rodeado por nove tubarões-baleia, nessa minha experiência com as arraias consegui chegar bem próximo de três arraias gigantes, que nadavam em movimentos graciosos como se estivessem em um balé aquático. Permaneceram nas proximidades de onde eu estava por longos 40 minutos e a sensação de chegar perto ao ponto de tocá-las deixava uma mistura de fascínio, alegria e medo. Medo principalmente do arpão afiado que esses morcegos gigantes do mar carregam em sua traseira... O mais difícil foi escolher os dois sapos no aquário que iriam para a panela. A preparação foi feita na nossa frente pelo cozinheiro, que utilizou um forninho acoplado à nossa mesa. Já havia comido pernas de rã na França e no Brasil, mas nunca um sapo inteiro, e quando digo inteiro, incluo cabeça, órgãos e pele. Carne extremamente saborosa, com o gosto clichê de frango. E no final da minha estadia, meu anfitrião Kuniaki me chamou para saborear uma iguaria típica, a sopa de tartarugas. Gosto extremamente forte, tanto a carne, quanto o caldo, sem contar a pele gelatinosa e ao mesmo tempo áspera do animal... Entendi, afinal, a tensão que convive com os moradores daquele local: a três quarteirões do hostel, um atentado terrorista explodiu um carro. A cidade parou. As pessoas se refugiaram em suas casas, temendo possíveis novos ataques, e o caos se instalou de maneira repentina, acabando com a paz que eu desfrutara na noite anterior. Três dias depois, um palestino jogou o carro num ponto de ônibus, vitimando alguns israelenses. Aí que o clima piorou de vez... Jerusalém me fazia pensar. Era curioso ver uma cidade dividida em quatro – um bairro judeu, um cristão, um muçulmano e um armênio. Recebemos o alerta para que não saíssemos às ruas, especialmente na Cidade Velha... Espiritualizada, ela fazia mandalas, usava a energia das pedras. Fez a leitura dos meus lábios como quem tenta decifrar um enigma. Nos beijávamos, e a intensidade com que a noite se prolongou, durou mais dois dias. Tínhamos mais do que uma noite de sexo. Tínhamos afinidades, energias parecidas e uma conexão que, se eu não tivesse passagem comprada para a Turquia, me faria ficar ali, com ela, criando e estreitando laços. Helena era o tipo de pessoa pela qual eu me apaixonaria e teria um relacionamento. Era recíproco o interesse. Tanto que ela pediu folga do trabalho para que pudéssemos passar mais tempo juntos. Na despedida, a emoção aflorou... O encanto pela Capadócia não acabava. As paisagens eram alucinantes e, numa certa manhã, quando saí da caverna, tive uma surpresa: todas aquelas pedras e rochas estavam cobertas de neve. O cenário era sublime. Um espetáculo natural que deixava tudo com um ar ainda mais cinematográfico, com cavalos pastando na neve... Respondi a todas as perguntas. Comecei a me habituar com a vida de 'famoso'. Eram entrevistas para a eptv, r7, g1, entre outros veículos, o que me conferia um status de mochileiro profissional que eu desconhecia até então... A mensagem que eu queria deixar neste livro é a de que as pessoas se dispam de preconceitos, que acordem para a vida, que entendam as coisas simples e boas que podem fazer parte da existência. Que não deixem para refletir sobre a morte quando ela estiver próxima ou diante dos olhos. A vida é um presente – e ela precisa ser vivida em toda sua intensidade. Enquanto você puder, faça o que estiver ao seu alcance para realizar todos os seus sonhos. Porque, num piscar de olhos, podemos perder a oportunidade de estar aqui... Quanto mais nos sentimos vivos, mais tranquilos ficamos em relação à morte. Morrer sem ter vivido é o maior crime que uma pessoa pode cometer. Eu não cometi esse crime. E você?..."
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Paula1735 28/08/2024

Viajar: TODOS PRECISAM
Livro leve, fluido e interessante que conta a história do mochileiro Mayke Moraes e os motivos que o levaram a optar por esse estilo de viagem.
Quem conhece os vídeos do YouTube vai se surpreender com a riqueza de detalhes que Mayke passa ao contar sobre cada experiência vivida nos lugares que visitou. E tudo nos deixa com um gostinho de quero mais... Especialmente, mais viagens. Viajar É preciso. É preciso passar por choques de realidade, ficar sem fôlego com belezas naturais, comparecer-se por menos afortunados para nos lembrarmos do quanto somo ricos!
Enfim, você provavelmente não vai se arrepender dessa leitura, pelo contrário, irá se divertir muito.
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Alexandre 23/03/2022

Como viver a vida de uma maneira foda!
Que história desse Mayke!
Viajei junto com ele nesse livro de leitura tão leve e fluida, e cheia de histórias.Foram 54 países relatados neste livro que ele conheceu de uma maneira mais aprofundada, distante daquela viagem turística e roteirizada que fazemos. Essa determinação dele o levou a fazer uma gama de amizades e a interagir com milhares de pessoas de todos os tipos, mesmo muitas vezes não falando a língua deles, e essa riqueza de interações o levou a aprender bastante as tradições e costumes locais, ter experiências incríveis e conhecer lugares extraordinários, experimentar coisas beeem exóticas, a curtir muitas festas legais, enfim uma bagagem gigantesca de vivências e mostrou que tudo isso tá acessível, basta planejamento, disciplina e uma quebra de crenças e hábitos, levar as coisas de uma maneira mais estoica, minimalista focando no que realmente importa que é viver intensamente cada dia e cada experiência.
Não é fácil fazer o que ele fez, como ele fez e tiro o chapéu pra isso. Porém dentro das limitações de cada um seja ela financeira, familiar ou profissional é possível tirar insights do livro pra por aquele plano engavetado de fazer uma viagem por ano em lugares impensáveis em prática.

Minha avaliação é máxima porque o livro é inspirador demais pra quem gosta disso.
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Carol 08/02/2022

Surpreendente
Gostei muito do livro do Mayke. Envolvente, interessante. Em alguns pontos, no começo, pensei que podia ser quase um livro de autoajuda, mas estava enganada, ele apenas conta como as transformações por causas das viagens aconteceram na via dele.
Um ponto importante, no livro ele relata o estilo de viagem que ele adotou, o de mochileiro, vale lembrar que não precisa se abrir mão de tudo pra poder viajar, existem outros estilos de viagem que também podem ser praticados e embora se demore um tempo maior para se conhecer uma quantidade enorme de países, também é possível conhecer o mundo tendo emprego fixo, casa, família...
Adorei as experiencias gastronômicas dele. Enfim, o livro é muito bom, nos mostra que viajar é possível para todo mundo e não apenas para super rico e ele é um cara tão legal, que no final, quando terminei de ler, foi como se o Mayke fosse um grande amigo! Super recomendo!
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Celeste 28/01/2022

O que achei do livro
Já li duas vezes Viajar: eu preciso.
Gosto muito, é possível conhecer tudo sobre os lugares por onde ele já passou, seja algo bom ou não.
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filipefxavier 10/11/2021

Incrível!
Ao ler sobre cada aventura do autor você se transportar para cada local e consegue desfrutar minimamente de cada experiência vivida pelo mochileiro. Livro perfeito para descobrir novos pontos turísticos, para conhecer novas culturas e para incentivar todos que sonham em viajar.
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Pollyanna.Rigon 10/09/2021

Apaixonada pela história, experiências e culturas.
Não queria terminar o livro.
Ansiosa pelo momento de colocar a mochila nas costas e poder ter essas histórias para contar.
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Michelle Braga 04/09/2021

Viajar é viver
Para quem ama viajar, é um livro que recomendo, um pequeno detalhe você vai ficar mais ávido por viajar ao mundo, de conhecer diversas culturas e pessoas.
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Jeferson.Gomes 20/05/2021

QUE OS BONS VENTOS CONTINUE NOS GUIANDO.
Sabe quando você torce por uma pessoa sem ao menos conhece-la? De uma energia envolvente e carisma único, esse é Mayke Moraes, que através de suas experiências, nos leva a magia e a uma imersão cultural.

De Minas Gerais para o mundo, ele toma uma decisão que mudaria sua vida e sua percepção sobre ela. Sua mãe o guia através dos ventos, e um atlas antigo em seu guarda-roupa, marca seu destino.

Muito mais que um turismo guiado por agências, hotéis luxuosos, e passagens caras, a simplicidade do mochileiro diz que é possível se aventurar, quando o sonho apenas fica na mochila.

Ao ler o livro, você sentirá parte da viagem. Vai sorrir, chorar e se emocionar com as inúmeras possibilidades e diferentes pessoas, próximas e distantes, mas ainda sim, humanas em seu dom de amar o próximo.

Mayke se torna rico em amigos, e sua história um monumento jamais esquecido, por aqueles que sentam-se com ele na beira de uma fogueira ou em um restaurante com uma cerveja e petiscos exóticos.

Seu caminho ganha uma bela trilha sonora e imagens belíssimas de tirar o fôlego em seu canal no You Tube - SOU MOCHILEIRO. Suas reflexões se tornam o mapa de inspiração e coragem para os assim como ele, querem navegar.

Assim como uma viagem ao tempo, você ganha um amigo e permite-se a ser guiado pelos bons ventos.


site: https://www.instagram.com/meuslivros.minhaleitura/
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ThelioFarias 26/03/2017

Vida e viagens! Viagens e vida!
Livro contando aventuras de viagens por mais de 50 países no mundo, iniciando pelo Alaska. O autor viaja como mochileiro, se aventura sem preconceito por culturas e gastronomia, inclusive saboreando cachorros, sapos, grilos, etc. A obra contém dicas de viagem, momentos pitorescos e aventuras que o autor teve nos vários continentes do planeta.
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Jarbas15 15/01/2021

Viajar sem sair de casa
Mayke após viajar pelo mundo e vivenciar dezenas de experiências, deixa esse livro que é muito bem escrito, de forma leve e viciante, faz você se imaginar em todos aqueles lugares passando por todas aquelas aventuras. Um livro não só pra quem pensa em viajar o mundo algum dia, mas também pra quem quer aprender a deixar os preconceitos de lado e perceber que nesse mundo existe dezenas formas de se viver, não apenas a nossa.
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Lua 09/11/2020

Meu primeiro livro do gênero
Conhecer a trajetória de viagens de alguém por meio de um livro foi muito mais impactante que ver vídeos do gênero no youtube, certamente não tenho apenas informações culturais jogadas em minha mente sobre determinada cultura, mas uma prova do gostinho da experiência, saber não só os destinos, mas as convicções, relações, ironias do destino, em primeira pessoa, durante 9h de leitura me trouxe uma visão única, apesar de não achar que o estilo de vida dele seria algo que eu desejaria, sua narrativa deu vida a lugares que desconhecia completamente.
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Renata.Brito 30/07/2020

Ler é conhecer lugares
Esse livro te faz viajar sem sair do lugar. Esse livro te instiga a querer conhecer lugares que você nunca nem pensou em conhecer.
Esse livro te faz vontade de viver, de sair da caixa, de conhecer no mundo.
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