Estrela distante

Estrela distante Roberto Bolaño




Resenhas - Estrela distante


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Arsenio Meira 11/06/2015

Estrela Memória ou o Sentido de se vingar contra ausência

"Estrela Distante" tem como ponto de partida o sumiço de Carlos Wieder ou Alberto Tuiz-Tagle. Bolaño urdiu "Estrela distante" como uma espécie de poema em prosa e construiu um mosaico sobre o ato de desaparecer, com o intuito de compreender a ausência em tempos sombrios.

Para tanto, lançou seu personagem como paradigma de todos aqueles que desapareceram. É certo que Gabriel García Márquez justapôs todos os ditadores da América Latina num só em "O outono do patriarca". "Estrela Distante" agiu como o bálsamo peculiar das prosas envolventes, acrescida com um incessante clima de tensão, um fatalismo inevitável.Tudo isto levou-me a ler este breve e imenso romance de uma sentada.

Bolaños aponta que o passado é sempre conflituoso. A ele se referem, em concorrência, a memória e a história, porque nem sempre a história consegue acreditar na memória, e a memória desconfia de uma reconstituição que não coloque em seu centro os direitos da lembrança: direitos de vida, de justiça,de subjetividade.

Pensar que poderia existir um entendimento fácil entre essas perspectivas sobre o passado é um desejo ou um lugar-comum. E Bolaño não vai na onda do lugar-comum. Nem sequer resvala no clichê, e permanece (distante) de tal arapuca. Para nossa sorte e encanto.
Zé Mario 18/06/2015minha estante
Que bela resenha!


Renata CCS 18/06/2015minha estante
Mais um para a minha lista de futuras aquisições!


Arsenio Meira 18/06/2015minha estante
Minha amiga,
Achei o romance envolvente, anti clichê e há uma poesia latente em todo esse ato de procurar o que - irremediavelmente desaparece - que me deixaram bastante animado a respeito do Bolaño.
Torço pra que gostes!
Abraços


Arsenio Meira 18/06/2015minha estante
Obrigado, Zé Mario! O mérito é do livro, rs!
Abraços




Marcianeysa 10/12/2022

Primeiro contato com o autor e, sinceramente,esperava mais.
A escrita é boa, mas as divagações atrapalham muito a compreensão. Além disso, são citados muitos poetas chilenos, o que pressupõe um conhecimento prévio sobre eles.
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tavim 30/03/2024

Estrela distante, de Roberto Bolaño
Dentro do terror em si há o medo de não acreditarem que seu pesadelo é real, que não passa de uma fantasia. às vezes é até difícil de acreditar em si mesmo, que passou por aquilo justamente pelas feridas mais profundas não estarem visíveis à pele. com quem dividiu verdades e sofrimentos, que seria testemunha de sua própria sanidade, sumiu e jamais foi encontrado. sem-corpo-sem-prova, mesmo quando o plural alcança uma quantidade incontável. então tudo não passa de um conto inventado, historinha pra criança não dormir que, no fim, quem não dorme é a vítima.

poderia apenas ser outra história distante, distante no sentido de ser impensável, coisa de quando a humanidade era pura selvageria (não que suavize para quem foi morto), mas foi pertinho, aos nossos vizinhos, e ainda anda em flertes bem quando a humanidade pensa ser puro avanço.

é o primeiro livro do roberto bolaño que leio, autor que já queria ter lido há muito tempo. porém comecei e comecei muitíssimo bem. o romance ficcional segue arranhando a ditadura chilena que, de tão bem contado, se confunde aos fatos verídicos do país e me leva a crer que tudo ali é possível. a barbárie é o berço do absurdo e, de lá, nasce o pior do ser humano; uma espécie de vácuo emocional que encontra vítimas, sejam quais forem. muitas não têm a chance de saírem vivas pra contar o que, certamente, duvidariam delas.
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Isolda 15/06/2011

Apenas minha experiência com o livro
A leitura deste livro foi sugestão do grande amigo Rodrigo Freire. Não tardou, comprei o livro e logo tratei de mergulhar em sua trama. É bastante peculiar o modo como Bolaño implica personagens inventados e figuras reais, produzindo no leitor a necessidade constante de permanecer ali, preso à leitura e tomado pela "realidade" ficcional.
"O trato com os livros exige certo sedentarismo, certo nível indispensável de aburguesamento". Apesar de Freire não concordar muito, esta é uma frases que grifei em meu exemplar. Recomendo.
Gustavo.Campello 21/02/2015minha estante
To lendo o livro e vi seu comentário e fiquei na dúvida..... é o mesmo Rodrigo Freire que escreveu Como Elefantes ao Mar?




Hannah Monise 19/09/2024

Um poeta revolucionário
Minha segunda leitura de Bolaño e, pelo menos, foi melhor que Amuleto para mim. Me envolvi desde o começo, que foi muito interessante!

Alberto Ruiz-Tagle é um poeta que participa de oficinas literárias de uma universidade no Chile, porém, durante o golpe militar no país, ele some. E então, um poeta aviador começa a aparecer, como Carlos Wieder. Eles são a mesma pessoa!

Gostei muito de como o livro nos envolve com a história e a curiosidade de saber sobre Carlos Wieder. E melhor ainda é no meio disso ter a História do Chile, sobre a ditadura, sempre tão igual em todos os países. Um livro muito bom que dá para ler rapidamente!
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umafacasolamina 14/02/2023

Aparecia e desaparecia como um fantasma em todos os lugares onde havia conflito, em todos os lugares onde os latino-americanos, desesperados, generosos, enlouquecidos, valentes, abomináveis, destruíam e reconstruíam e voltavam a destruir a realidade numa última tentativa fadada ao fracasso.
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Val Alves 22/02/2021

Ótima leitura!
Se uma característica deve ser enaltecida em Bolaño é a capacidade de criar personagens interessantes e beirando ao real, mesmo sem fazer longas e minuciosas descrições físicas ou psicológicas. Ele mistura personagens reais e fictícios e em vários momentos fica difícil saber se aquele personagem de fato existiu. O google rapidamente se mostra um parceiro necessário.
Essa estória é ambientada no Chile dos anos 70 após o golpe militar sobre o governo socialista de Allende. Um cara enigmático participa de uma oficina de poesias e, anos depois,  suspeita-se que ele tenha uma identidade secreta para encobrir seus crimes durante o regime onde várias pessoas desapareceram, inclusive os outros poetas que faziam parte da oficina de poesias.
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Gustavo.Campello 04/03/2015

Estela Complexa
Dos livros do Bolaño que já li este é o mais difícil, o mais entrecortado, com altos e baixos.... na hora que parece engrenar trava e vice versa.

Gostei do final, gostei do personagem Wieder e de várias outras partes, mas o livro é muito atravancado. Recomendo pra qualquer pessoa que curta o Bolaño, como eu, mas não indico pra ser o primeiro livro a ser lido dele.
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Gabriel Zupiroli 15/09/2021

O horror unido e fragmentado
Sou um pouco suspeito para falar de Bolaño, visto que é um de meus autores favoritos e um dos que estudo na universidade, mas "Estrela distante" supera qualquer possibilidade de ser superestimado por meu carinho. Dos 12 livros que já li do autor, é um dos que definitivamente possui um espírito mais marcante - algo do inominável, indescritível e indizível que permeia sempre as obras do autor.

Na verdade, entendo a dificuldade de alguns. É um livro, de certa forma, "fragmentário", na falta de uma palavra melhor para definição, por conta de seus diferentes enfoques, que acabam por extrapolar em muito a figura de Caros Wieder. Mas existe um centro que está sempre presente, e no qual orbitam todas as ramificações da narração. Este centro envolve tanto Wielder, quanto as relações intrínsecas entre a literatura e a violência - tema mais do que batido quando se trata de analisar a obra de Bolaño. A diferença é que neste livro tudo é feito de uma maneira muito sutil, porém estruturada, à diferença de outros romances do autor. Não que "Noturno do Chile", "Amuleto" e outros possuam problemas em sua estruturação, pelo contrário. A questão é que muitas vezes o não-dito do chileno soa muito vago, abrindo uma margem meditativa que pode afastar o leitor. Em "Estrela distante" isso não ocorre porque os "fragmentos", por assim dizer, possuem ao mesmo tempo uma independência e uma continuidade. As reflexões sempre se conectam, por mais que os episódios soem discrepantes. Ou seja, existe uma unidade muito orgânica, uma fluidez magistral tanto na forma de se escrever, como na opção do autor pela forma que organiza as diferentes perspectivas.

É um romance, é claro, com uma história central, entretanto um romance feito de multiplicidades na narrativa - não por parte do narrador, mas por parte dos eventos narrados - que possui uma "desconexão conectada". E isso cria um movimento duplo: as pequenas narrativas dispersas possuem um poder de impacto gigantesco, ao passo que dialogam entre si e nunca deixam de abandonar aquele centro supracitado de Wieder e da "literatura/violência".

Enfim, um dos melhores livros do autor, sem dúvida. A potência que atravessa toda a narração é magistral. Arrisco dizer que, à exceção, claro, de "Os detetives selvagens" e "2666", é o romance que possui as melhores narrações "individuais". Tanto a dos dois professores de oficinas literárias, quanto a dos "Escritores bárbaros" e a caçada final por Wieder são construídas de maneira estupenda, sempre daquela forma genial de ir introduzindo aos poucos um aspecto que vai se tornando um incômodo enorme. Com um crescendo de suspense e horror. E, é claro, é impossível esquecer de destacar o grande ápice da narrativa, que já se encontrava em livro anterior: a exposição à la torture porn das fotografias da ditadura, a obra máxima poética de Wielder. Sem mais palavras.
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Isadora Urbano 30/08/2022

Muito bom. Bolaño, como sempre, muito certeiro na sua meta-ficção historiográfica. Gostei mais de Noturno do Chile, mas Estrela Distante também foi uma leitura que valeu a pena.
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Marc 27/08/2012

Dialética do Esclarecimento
Para mim uma leitura aterradora. Sai do livro com um gosto estranho, como daqueles dias que todos vivemos e que vão terminando de maneira desoladora. Difícil explicar, mas sei que a sensação não é estranha a ninguém. Quando criança, esses dias tinham data e horário para acontecer: domingo, por volta das 10 da noite, quando chegava a hora de dormir para acordar cedo no dia seguinte e eu tinha a plena sensação de que aquele dia tinha mesmo acabado e que não havia nada que se pudesse fazer...

Enfim, creio que essa sensação é a que o narrador do livro deve ter sentido também. Apenas a sensação de que as coisas que se passaram não podiam ser mudadas e que o mesmo iria acontecer muito em breve. E as coisas que haviam se passado eram o nazismo, o fascismo e elas não apenas voltaram a acontecer como poderão acontecer novamente. Claro que minha breve nota pessoal não serve mais como parâmetro para se descrever a intenção do autor, mas ao menos indica a náusea que é o primeiro sintoma das coisas que vemos e que fogem a nosso controle.

Mas o mais aterrador mesmo é a demonstração de que a violência pode andar ao lado, de mãos dadas, com o que consideramos de mais elevado no espírito humano. Quantos de nós já não ouviram a clássica referência à educação como se ela fosse capaz de evitar que uma série de coisas perigosas acontecesse? Solução para um país que vota por um prato de comida, para pessoas que são humilhadas e atiradas ao lixo da falta de conhecimento para mudar suas vidas. E muitos de nós se convencem de que se o governo investisse em educação, o país finalmente iria rumo ao futuro que tanto merece. Ora, mas e as figuras que adoram arte, que se dedicam com afinco a conhecer a música, filosofia, artes plásticas e mesmo assim são capazes de matar e destruir?

E justamente isso faz o livro ser aterrador, porque no fundo percebemos que não há garantia contra tudo que muitas vezes consideramos superável. Não há certeza de que um dia possamos parar de matar em nome do que quer que seja. A mesma civilização capaz de produzir um Goethe, um Van Gogh, um Stravinsky, é capaz de criar máquinas e métodos cada vez mais eficazes de tortura e assassinato. O nazismo, mais uma vez, foi pródigo nisso. O país da civilização nos mostrou que talvez justamente o que nos faz progredir em “espírito” é o mesmo que nos faz progredir em crueldade e violência. É essa “dialética do esclarecimento” que Bolaño explicita aqui, embora usando um exemplo mais próximo a nós latinos.

Certamente, por insistir em deixar muitos espaços sem explicação, como geralmente é a vida, a figura de Carlos Wieder se torna mais concreta. E isso assusta, porque não paramos de pensar que o mesmo sujeito respeitável, exemplo de conduta, uma pessoa inteligente e que nos agrada a companhia, pode muito bem ser um torturador ou qualquer coisa similar a serviço do Estado. Uma pessoa acima de qualquer suspeita, como geralmente são essas pessoas, mas que estão a nosso lado e são nossos amigos. O livro é um grande exemplo de como a violência do Estado pode ser palpável e complexa, atuando calmamente, com uma tranquilidade de predador mirando uma presa que ignora absolutamente seu destino.
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Eloah 31/07/2024

Poesia e violência
O livro começa bem morno, juro que quase abandonei num determinado momento. Ainda bem que não o fiz. A leitura se torna extremamente emocionante e eu li o final numa tacada só. Uma mistura ótima de personagens do meio literário, crise política com a implantação da ditadura e violência. Críticas a tantas coisas escorrendo nas entrelinhas enquanto é construída a figura de um "antagonista" fantástico.
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Diógenes - Estr 01/03/2014

Estrela Distante...
Até que ponto a cultura pode se relacionar com a barbárie? Tema delicado, quando pessoas que cometem atrocidades e posteriormente se deleitam com o mais fino e refinado produto de cultura, sendo produtor ou consumidor. Cometer o mal de forma atroz e se deleitar ao som de As Valkírias, nos parecem no primeiro momento como algo insano e psicótico. Qual a relação da consciência ética e o mundo da cultura? A cultura nos leva a olhar o mundo de forma refinada ao ponto de romper com os padrões éticos?
Essas questões aparecem de forma sutil nas linhas de Estrela Distante do chileno Roberto Bolaño, obra de enredo detetivesco, apresenta personagens envolvidos com o mundo da cultura, principalmente da poesia, que são perseguidos pelo regime de governo do Chile no período posterior a Allende, personagens com falsa identidade, que desaparecem, são assassinados e carregam dúvidas existenciais. O livro carrega a característica do autor presente em outras obras, a saber, o gosto por histórias inconclusas e personagens, no mínimo, muito estranhos.
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Our Brave New Blog 20/06/2016

RESENHA ESTRELA DISTANTE - OUR BRAVE NEW BLOG
That’s the day my friends. Vamos falar sobre o ultimo grande artista do século XX. Chavinho! (Importante que vocês saibam que eu vou chamar o Bolaño de Chaves várias vezes, não tem outro jeito hahaha). O chileno mais fodido da literatura é o novo chamariz da America Latina, obviamente não sem mérito, mas também porque a sua história de vida é a mais louca possível, se enquadrando praticamente na categoria de “ultimo poeta maldito”.

Apesar dele sempre ter achado a sua obra poética melhor que a sua prosa, de poeta ele não tenha nada né, o que nos faz concluir que o homem tinha um péssimo gosto. Mesmo assim, quando as poesias dele saírem aqui podem ter certeza que eu vou comprar. Fora a biografia dele, porque pelamor... Já deu para perceber que eu sou muito fã né? E todo esse hype começou por essa que é considerada a sua melhor novela e uma de suas principais obras. Então vamos à ela.

Alberto Ruiz-Tagle parece ser apenas mais um aluno que participa das oficinas de literatura da Universidade de Concepcion, onde também frequenta o nosso herói Arturo Belano, mas seu jeito frio e esquisito se revela assim que o golpe militar e Pinochet tomam o poder. Nesse momento vários poetas têm que fugir do país enquanto Alberto se revela um Militar Assassino chamado Carlos Wieder que faz apresentações em aviões de fumaça, escrevendo pelos céus da cidade chilena. Acompanhamos duas décadas das histórias desses dois, tentando entender esse misterioso personagem , procurando-o pelo mundo e, principalmente, pela literatura.

Tem um milhão de elementos em Estrela Distante que me faz adorá-lo, mas vou começar pela primeira página mesmo, onde Bolaño fala como foi feito o livro: primeiramente, ele conta que essa obra é baseada no capítulo final de outro trabalho seu, La Literatura Nazi in la America (ainda não lançado no Brasil), faz piadinhas sarcásticas sobre Belano (o melhor tipo de humor, apenas), informa ao leitor que ele mesmo teve pouca participação na construção do livro, basicamente só fez café durante o mês que os dois (ele e Belano, o “verdadeiro” escritor) ficaram isolados escrevendo e discutindo com o fantasma de Pierre Menard sobre a repetição de frases e capítulos, sendo Menard uma referência a um conto de Borges em Ficções: Pierre Mernard, Autor de Dom Quixote.

Ou seja, dai já deu para ver o quão louco o cara é, e a coisa nem começou. Dentro do livro nós encontramos várias reflexões sobre a situação do Chile pós golpe militar. Bolaño para a trama a hora que bem entende para focar em outros personagens, contar um pouco sobre como seus antigos professores fugidos do Chile vão de vida, e com isso vai mostrado panoramas até mesmo mundiais da época, juntando essas várias histórias interessantes num livro fino como esse de modo espetacular.

O personagem em foco, Carlos Wieder, representa algo que parece estar muito presente na literatura de Bolaño: como o mal pode estar entranhado em qualquer lugar. Na política, na literatura, nas pessoas mais bem educadas do mundo, para o Chaves nada disso importa, o mal parece um estado natural do ser humano, e, quanto mais refinada a pessoa é, mais isso é impactante, cruel e elaborado.

CONTINUE LENDO A RESENHA NO BLOG: http://ourbravenewblog.weebly.com/home/estrela-distante-por-roberto-bolano

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Felipe Holloway 11/02/2018

Não li o conto de "La literatura nazi en América" que, a pedido de um certo Arturo Belano, tão já conhecido dos fãs de Bolaño, foi expandido pelo autor chileno para este admirável pequeno romance -- o que talvez tenha contribuído para ampliar sua magnitude. Um mestre na técnica da ramificação narrativa, da profusão caleidoscópica de subtramas que ora desaguam numa imensidão oceânica, ora na aridez de um beco sem saída, vazio e escuro, Bolaño volta aqui aos anos da ditadura de Pinochet, com enfoque nos seus efeitos sobre um grupo de poetas amadores, frequentadores de oficinas literárias da Concepción do início dos anos 70, aspirantes a uma vanguarda artística que a mediocridade (uma mediocridade falsamente autoconsciente, no caso do narrador, cujo relato se dá a partir de um ponto muito avançado no tempo) e sobretudo o Golpe nunca permitem que se concretize -- exceto para Carlos Wieder, outrora Alberto Ruiz-Tagle, o escritor promissor cuja ascensão estética se dá em proporção similar à de sua degradação moral.

Dos motivos de Wieder, sabemos tanto quanto o narrador, o que talvez, como ocorria em alguns dos relatos de "La literatura nazi...", seja uma forma de salientar a inutilidade de se utilizar de psicologismos e de racionalizações para compreender o incompreensível: que a fealdade do mal possa coexistir com um apurado senso de detecção do belo na arte -- que o ímpeto para a aniquilação do outro ou a propensão para aliar-se a um regime que a promove possam ser tão refratários às tentativas de interpretação quanto palavras aleatórias escritas com fumaça no céu.
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