spoiler visualizarAna Farah 13/09/2018
A mulher mais forte que já conheci
Tomei conhecimento de Marina Abramovic há cerca de quatro anos. Fiquei fascinada pelas performances e pela força dessa iugoslava.
Pelas Paredes: Memórias de Marina Abramovic me surpreendeu do início ao fim. Ela cita ocorridos de sua infância que deixam o leitor boquiaberto; a sua convivência com seus pais partisans (militares comunistas chefiados pelo Marechal Tito), e de como sua mãe nunca havia chorado. Quando ela começa a adentrar na sua carreira profissional a leitura deixa de parecer história, e passa para a ação misturada com muito amor.
Marina começa pintando, mas logo se interessa pela arte da performance, com apenas 20 anos. Ao longo do livro, Abramovic relata diversas obras performáticas feitas por ela, muitas acompanhada de Ulay, o primeiro grande amor de sua vida.
Ao descrever seus romances - o primeiro com Ulay e o segundo com Paolo -, Abramovic demonstra uma incrível paixão. Ela narra as histórias com um grande acervo de detalhes.
Marina fala abertamente sobre sexo e nudez praticamente o livro todo. Fala de quando começou a se masturbar, de quando perdeu a virgindade e principalmente, logo no início do livro, ela fala de quantas vezes já abortou - três vezes, todas de Ulay.
Abramovic também aborda sobre sua fascinação por meditação, monges, Austrália e seus aborígenes, sobre suas viagens, sobre a dor e sua conexão com ela, também cita diversas vezes sobre a busca da fé, e por seu amor por seu lar a famosa Binnenkant, 21. A história da conquista da casa, e de sua construção e decoração é uma das passagens mais belas da biografia.
Ao longo do livro há diversas fotos em preto e branco retratando as passagens que Marina cita, e ainda há 36 imagens coloridas nas folhas em papel couchê.
Uma das performances mais conhecidas de Abramovic, "A artista está presente" ganha destaque no livro. Ela explica em detalhes como foi a organização do evento, a elaboração do local, e principalmente, sua preparação mental e física - Marina teve que aprender a se alimentar apenas na noite e a controlar a urina.
Após a leitura ficou claro para mim que Marina Abramovic é a mulher mais forte de que tenho conhecimento. E ela leva com honra o título de "avó da arte performática".