13 Cascaes

13 Cascaes Fábio Brüggemann
Flávio José Cardozo
Salim Miguel
Amilcar Neves




Resenhas - 13 Cascaes


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Eduardo 07/03/2010

14 Cascaes
Adorei o projeto editorial deste livro. Edição muito bem feita, com destaque para os desenhos que ilustram cada conto (fugiu-me o autor agora, mas é catarinense). Quanto aos contos, é interessante observar que a proposta (fazer 13 contos contendo o mesmo personagem, o eterno Franklin Cascaes, artista e estudioso do folclore de Florianópolis) foi muito bem-sucedida. E assim foi pois em cada conto, Cascaes aparece de um ângulo: ora é o protagonista, ora um coadjuvante, que passa por traz da cena, acrescentando pequenos detalhes, mas que mudam muito o curso da narrativa. Ora é passivo, quando sua história é contada; ora é ativo, quando é um personagem em si, com falas expressas. Outro aspecto que aumenta a singularidade de cada conto, é a forma como o personagem é cruzado com os entes místicos que estudava, especialmente as bruxas. Essa relação aparece na maioria dos contos, como não poderia deixar de ser. Enquanto num conto Franklin, que se encontra solteiro por conta da morte de sua esposa Bete, é tentado por uma sensual bruxa; em outro Franklin é chamado para investigar um aparente caso de surgimento bruxólico, como no conto "Minha querida", de Fabio Brüggemann. "Dois bandolins", de Flavio José Cardozo, foi um dos conto de que mais gostei. Pela escolha do tema, e pelo gracioso trabalho com a metalinguagem (o final é demais), gostei muito. Muito bom também é o de Péricles Prade, o conto "talvez a primeira e última carta". Esse exemplo de Prade, é mais um que corrobora aquilo que eu falava lá em cima: a originalidade de cada conto é preservada por seu próprio foco narrativo, além das diferenças de tempo e espaço, bem como, os contos se diferem pelo papel que Cascaes nele desempenha. Essa narrativa de Prade, como sugere seu título, trata-se de uma carta datada um dia antes da morte de Cascaes, assinada por uma mulher que se diz indignada pelo fato de sua pessoa ser associada à figura de uma bruxa, por conta de Francolino (o nome real de Franklin)assim tê-la chamado, em sua obra "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina. Na carta, a mulher tenta tirar de si a fama de bruxa, explicando que a sétima filha mulher nascida em lua cheia (condição para surgir uma bruxa) não fora ela, mas sua irmã gêmea. E Cascaes Acredita? E o leitor acredita? Lembrando que a carta, no qual emerge uma ameaça de morte para que Cascaes corrija seu suposto erro, é datada um dia antes do falecimento dele...
Bem, agora que eu praticamente tirei a graça de um dos contos, resumindo e contando seu final, resta-me tentar ajeitar isso, convidando-os a ler esses 13 cascaes (reparem no número folclórico), sob olhar de 13 autores catarinenses, e mais um 14º, aquele ilustrador, do qual vou ficar devendo o nome. (Começa com T, haha :P) Vale a pena curtir essa bela homenagem ao folclórico Francolino.
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Wyllyan 23/12/2011

13 casqueiros - Os bruxos de Cascaes
“Se qués qués, se num quês diz! OOOO instopor, num lesse o 13 cascaes num é? Num sabex o que tax perdendo ow, arrombax tu. Te jogo uma praga que tu vai ver”

O livro 13 Cascaes é uma obra de arte da literatura Catarinense e é tão grande quanto o seu referido “Franklyn Cascaes”. Não entendo nem vejo o motivo pelo qual alguns repudiam o livro, talvez seja por não entender a cultura do próprio estado ou a nível nacional, por não entender e respeitar a cultura de parte da composição do seu território.

O imaginário, o fantástico, o feérico se juntam em uma obra incrível em homenagem ao polivalente Cascaes. A obra resgata os contos “bruxólicos” em uma narrativa excepcional e compacta, objetiva de forma a gerar apreço aos leitores a cada conto lido. Fantasia que se mistura com a realidade no nível folclórico ali apresentado, regiões da ilha que ainda, com muito esforço, guardam a antiga cultura açoriana.

Esta obra não deveria apenas ser indicada no vestibular, mas sim ser requisito fundamental à educação; pública ou privada do estado de Santa Catarina. Resgatar esta cultura não é apenas necessário, é uma obrigação a se fazer pelos moradores e antropólogos desta região. Os mitos de Santa Catarina em nada perdem para o folclore do restante do país, uma pena que poucos reconhecem isto.


“E digu maix, se tu num lê vou te amarrar em nome di Deux. Porque vou te dizê pra ti nego, oooooo cosa linda o livrinho. Mofas com a pomba na balaia? O que tax fazendo aqui que ainda num cumprasse pra lê ooooo instopor... an an an an vê si pode, vê.... dôte uma sova que vaix veeeer oooo so tanso, vai pro mato pra ver se urubu te pinica vai.”
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SG1 27/08/2013

Treze contos, treze sentimentos, treze partes de Florianópolis
1º Conto: O presépio, de Adolfo Boos Jr.:
Esse conto vem abrindo o livro, em homenagem a Franklin Cascares, com a estória de um presépio que foi modificado, sofrendo, o criador dessa "estética new age", fortes críticas da comunidade onde foi instalado o presépio. Isso fez com que, no final das contas, o moço desfizesse as ditas modificações para então colocar o presépio em sua forma original.
PASSAGEM: "São José foi apeado do camelo e porque Baltazar largou a mão de Maria, deixou de ameaçá-lo com o cajado, tiraram a camisa do Avaí de Gaspar, recolocando a capa nos ombros de Melchior que, por sua vez, desistiu de tourear a vaquinha".

2º Conto: Uma noite de profunda insônia solitária, de Amilcar Neves:
O presente conto se refere a estória vivida por dois vizinhos ocasionais. Eles tiveram experiências com bruxas lindas, sensuais e rápidas no gatilho da Ilha de Santa Catarina. Uma estória tão improvável que poucos acreditariam.
PASSAGEM: "Trata-se de uma bruxa negra, um corpo lindíssimo, de misse para levar para Nova Iorque. Chego a engasgar-me só de vê-la vir requebrando, dengosa, toda nua, untada, untuosa. Ela se aproxima muito pertinho, muito pertinho, muito junto, aparta Franque contra o peito, os seios firmas espetando suas faces, entrando-lhe pelas orelhas. Enquanto ela se enrosca pelo corpo dele, sussurrante, ronronante, os quadris inquietos, as coxas impacientes, ele ainda encontra tempo e, e especial, sangue frio para me aconselhar: – Estou te vendo meio travado, rapaz”.

3º Conto: História praiana, de Eglê Malheiros:
Conto muito bem escrito, porém muito machista. Conta a história de Docelina, casada com Armando. Deu à luz a 12 filhos, porém apenas 5 deles sobreviveram ao longo da vida. Docelina era acostumada com o trabalho pesado e com a falta de respeito do marido. O machismo era evidente naquela vila. Como dizia Armando ao darem ideia à Docelina para ir se consultar em um médico, “não quero essas modernices, Deus sabe o que faz!”. Até que uma candidata a vereadora abriu os abriu os olhos das mulheres da vila, mostrando a elas que tinham o direito de serem respeitadas pelos maridos.
PASSAGEM: “Armando tornou a exclamar, ainda mais enfático: – Bruxas! Aquela Esmeralda, tão calada, tão medrosa, que apanhava sem reclamar desde noiva, aquela, ela mesma, arrumou as trouxas e foi morar com a filha; e o podre do Pedro Mula, com havia de se haver, fazer comida, arrumar a casa, lavar a roupa;”.

4º Conto: O “Minha Querida”, de Fábio Brüggemann:
Tal conto retrata o apega do narrador por sua conoa chamada “Minha Querida”. Com medo de perdê-la para as assombrações do cemitério existente na rua. Assustado, pediu ajuda a seu Francolino, um homem estudado. Ele explicou ao rapaz que não havia o que temer, pois no cemitério não havia assombração alguma, apenas uma árvore que arranhava o muro produzindo sons macabros e sua sombra era de arrepiar. Depois disso, o rapza sempre visitava o túmulo de Amália Rodrigues da Silva, que nascera em 1921, o número que o narrado ganhou na loteria.
PASSAGEM: “Todos os dias, sem faltar nem sábado, domingo, dia santo, o rapaz embarcava no “Minha Querida”, entrava no cemitério e depositava flores no tumula de Amália, que nunca andou no barco novo e nasceu, para sorte daquele rapaz, em 1921. E por este motivo, parece que o rapaz continuará fazendo as mesmas coisinhas de sempre”.

5º Conto: Dois bandolins, de Flávio José Cardozo:
É a história da morte de Dona Beth e o sofrimento do professor Franklin Cascaes por sua perda. Já fazia 4 anos, mas o professor sentia a presença de Elizabeth tão viva dentro dele. Em especial, era seu bandolim. Suas melodias eram muito prazerosas de serem ouvidas. Uma noite, a bruxa Irinéia apareceu tocando o bandolim muito parecido como dona Beth tocava. Assim, tentou “seduzir” o professor. Mas, ao invés disso, fez com que uma aparição de dona Beth tornasse a noite do professor inesquecível, podendo ouvir, outra vez, as melodias de Elizabeth e seu bandolim.

6º Conto: Brando assim da cor da lua, de Jair Francisco Hamms:
Este conto é sobre a vida e a morte de Orlando, um menino pobre que nasceu albino e cheio de problemas de saúde. Ele era filho de negros. Vivia sendo alvo de chacotas na escola, por isso era infeliz. Nos recreios, ao invés de brincar, refugiava-se na sala de aula e se pusera a desenhar. Até que um dia, o professor de desenho, Franklin Cascaes, descobriu os belos desenhos do garoto. Deu-lhe sapatos e meias de lã. Deu-lhe também o primeiro sorriso de sua vida. A chance de ser feliz. Toda essa felicidade, no entanto, estava com os dias contados. Três meses depois, Orlando faleceu, vítima de insuficiência respiratória.
PASSAGEM: “Cheguei à sala e vi, deita num caixãozinho azul com as extremidades apoiadas em duas cadeiras, vi o Orlandinho de olhos fechados, mãozinhas cruzadas sobre o peito, as meias de lã, o parzinho de sapatos com as solas novinhas, novinhas”.

7º Conto: O abençoado, de Júlio de Queiroz:
História do “porquê” do nascimento de Franklin Cascaes. Certa vez, numa reunião das bruxas, viu-se que os dias de maldades delas estavam contados. As pessoas estavam deixando de crer em bruxas. As farmácias e os remédios estavam substituindo os curandeiros e benzedeiras. Certo dia, a bruxa Pestina escutou três fadas conversando sobre o nascimento de nove meses de um menino que escrevia todos os contos e crenças populares, fezndo com que a cultura não morresse com o passar do tempo. E, nisso, incluíam-se os contos das bruxas. Assim, as bruxas ficaram aliviadas em saber que iria nascer um menino que iria fazer com que elas nãodesaparecessem da mente das pessoas.

8º Conto: Ao entardecer, de Maria de Lourdes Krieger:
Um curto conto que mostra a vida dos pescadores da Ilha de Santa Catarina. Vivendo apenas do pescado, os moradores da região tinham que viver com a pobreza e da renda que vinha do turismo no verão. Os pescadores reclamavam que estavam acabando com os manguezais, onde os peixes desovavam. E, Franklin, sempre anotando tudo, desde o pensar dos pescadores até o dia-a-dia o povo da Ilha.
PASSAGEM: “O pessoal pedindo, regateando, as crianças brincando. O vento juntando-se à chuva. Então retornam os veranistas, apressados, a suas casas. Ficam os pescadores, agora dividindo o lucro, as sobras, ajeitando os pertences”.

9º Conto: O diário da viagem desaparecida, de Olsen Jr.:
História do mistério da moça que havia desaparecido. Por coincidência (ou não), um gringo também desapareceu no mesmo dia. Depois de o narrador ter acesso ao diário da moça, tudo se resolveu. Ela engravidara do gringo, os dois fugiram para Curitiba, com a promessa de que iriam voltar depois que o filho nascesse. O desgosto dos pais foi tão grande, que tentaram achar explicações místicas para o acontecido. Preferiram deixar o paradeiro da filha em sigilo coma polícia, sem anunciar aos jornais.
PASSAGEM: “Ele foi carinhoso e não forçou a barra. Quando dei por mim, estava nua ao lado dele em sua pequena cama... depois do ato em si ele continuou me acariciando com uma ternura que eu nunca sentira. Fiquei sem graça com a pequena mancha de sangue no lençol e ele pediu para não me preocupar”.

10º Conto: Talvez a primeira e última carta, de Péricles Prade:
O conto que tem por objetivo contar a morte de Franklin Cascaes, graças à ameaça de Benta, gêmea de Santa. Ela foi confundida com uma bruxa por causa de um conto de Franklin chamado “Bruxas Gêmeas”. Ela escreve em forma de carta um pedido ao professor para que ele corrigisse o mal entendido, dando um prazo, se não cumprisse, morreria. A carta foi escrita em 14 de março de 1983 e Franklin Cascaes morreu em 15 de março de 1983.
PASSAGEM: “Não sou bruxa, mas, mesmo na condição de oitava filha, pelo menos tenho o poder de fazer uma ameaça. Se até amanhã, dia 15, eu não for atendida, mudando o que deve ser mudado, morrerá para jamais voltar a cometer equívocos dessa natureza. E para aprender que não só as bruxas fazem mal”.

11º Conto: Noites de encantamento, de Paul Caldas Filho:
Neste conto, Natascha, antropóloga e jornalista, queria realizar um trabalho sobre Cascaes, com a ajuda de Ricardo, um repórter que já havia entrevistado o professor. O conto foi escrito depois da morte do professor. Bem, como Natascha não acreditava em bruxas, quase desistiu de seu trabalho. Mas Ricardo a levou para conversar com Sinhá Vitelina, uma sábia da Ilha. Ela explicou que as bruxas eram todas as maldades do mundo. Todos os que querem a desgraças dos outros. Saindo da casa da velha, Natascha seduz Ricardo e confessa a ele ser a sétima filha, portanto era bruxa!
PASSAGEM: “Natascha pediu para Ricardo estacionar. Então fitaram-se por alguns minutos e, como numa avalanche, todas as barreiras e desavenças que os separavam ruíram de uma só vez, as mãos começando a estender-se em mútuos afagos. Em seguida, foram os lábios que se encontraram, as coxas que se abriram para acariciantes dedos e o conhecimento tátil de seios e sexos, enquanto uma tépida lufada de vento invadia o automóvel”.

12º Conto: Mistério do Miramar, de Salim Miguel:
Conta-se a história do menino Ernani, que encontrou o corpo de Franklin Cascaes no mar. Foi um alvoroço para a identificação do corpo, morto a três dias. Em todos os jornais se encontrava a manchete: “Mistério no Miramar”. Graças a alguns desenhos, o corpo de Franklin foi reconhecido.
PASSAGEM: “Ernani sacudiu a cabeça várias vezes, enquanto ressoavam nítidas as palavras do professor Franklin, ditas quando o encontrava a primeira vez: “Neste mundo absconso, como disse o Poeta, há mais coisas entre i céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.

13º Conto: O folheto, de Silveira de Souza:
Maurício e o narrador da história decidiram fazer um folheto com dezesseis páginas com os contos de bruxas de Franklin. O rapaz conseguiu, do próprio Franklin, cópias de três contos e a informação de que havia um tal de Zeferina que havia tido contato com bruxas. O folheto jamais foi publicado, mas o rapaz, após ouvir as histórias de Zeferino e sua família, jura ter visto três bruxas horrendas na praia.
PASSAGEM: “– Mas o senhor, professor Franklin, acredita em bruxas? – Eu acredito na mente das pessoas, que cria o que elas acreditam. Se alguém, como o Zeferino, um descendente de açorianos pobre e desempregado, acredita em bruxa ou em Nossa Senhora ou no Demônio, então, para ele, na sua mente, essas entidades existem. O meu trabalho é o de apenas anotar as histórias que esse povo conta. Há várias causas que influenciam as mentes, mas não teríamos tempo agora para falar sobre isso. E eu nem sei se conheço todas elas”.
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