livrosepixels 21/08/2017O melhor universo de todosDesde pequeno sou entusiasta da ideia de vida alienígena no universo. Não sei dizer quando ou porque comecei a acreditar, mas sempre fiquei maravilhado com filmes, desenhos, histórias e até mesmo relatos de seres de outro mundo entre nós. Talvez seja um desejo profundo de, junto com o resto da humanidade, não me sentir tão só perante um universo tão imenso. Não é preciso dizer então que Univeso Alien fez meus olhos brilharem com aquela emoção de poder ter mais contato com o assunto.
Esse não é o primeiro livro de não-ficção que leio sobre alienígenas. Alguns meses atrás, eu li uma edição nacional chamada Extraterrestres: onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los, do jornalista e pesquisador Salvador Nogueira. Apesar de ambos tratarem de um mesmo tema, Universo Alien serviu bem de complemento. Isso porque no outro, os conceitos científicos são explorados com mais afinco, desde a mudança da teoria geocêntrica para a heliocêntrica, por Copérnico, até os dias atuais, com os envios de sondas à Marte e outros planetas do Sistema Solar, e também decodificação do Genoma Humano. Já em Universo Alien, ainda que tenhamos a discussão científica sobre vida alienígena, o autor deu maior foco àquilo que realmente era do meu interesse no momento: casos de abdução, avistamentos de óvnis, dados do governo e nossa fixação por aliens em filmes, livros e séries.
“Então é possível que estajamos, neste exato momento, na iminência da maior notícia do século XX: o primeiro contato com extraterrestres vivos ou mortos. Se tal fato for verdadeiro, no mínimo seria comparável ao encontro de Colombo com os nativos perplexos em sua visita ao Novo Mundo. Só que, neste caso, os nativos perplexos seríamos nós mesmos.”
No que refere à Ficção Científica, os alienígenas já conquistaram o planeta. Todos os relatos de abdução, avistamento de óvnis, contatos e personagens de filmes e livros caracterizam os alienígenas, conforme distingue o autor. Esses seres foram surgindo na cultura popular há muito tempo, porém, foram sendo moldados e transformados aos poucos, até serem o que são hoje. Houve muita fraude acerca do assunto, mas há entre os boatos aqueles que podem ser levados com maior credibilidade. O fenômeno UFO, por exemplo, surgiu com relatos de avistamentos incomuns de bolas luminosas que acompanhavam os aviões na Segunda Guerra Mundial. Ainda que de origem desconhecida, os pilotos diziam que elas possuíam vida própria, voando em qualquer direção, e todos os governos negaram se tratar de uma nova arma bélica. Na época foram chamadas de Foo Fighters, mas hoje é classicamente uma descrição de Ovni (Objeto Voador Não Identificado).
Nos primeiros capítulos, Don Lincoln nos traz as origens do tema extraterrestre, que data desde os períodos onde os seres humanos começaram a apontar para o céu e a descobrir objetos lá fora. Giovanni Schiaparelli, por exemplo, observou Marte e mapeou linhas sobre a superfície, as quais chamou de canais. Isso foi em 1877, e com a pouca tecnologia da época, não demorou para muitos dizerem que era uma civilização quem construíra os canais. Hoje sabe-se que se tratam de formações geológicas, possivelmente cursos de rios antigos que haviam pelo planeta. Porém, naquela época, a ideia de que havia vida no planeta vizinho era bem plausível. Outra grande responsável pela imaginação popular dos alienígenas se deve a revista The Sun, que divulgou uma série de artigos onde afirmava terem sido encontradas raças inteligentes vivendo na Lua. Algum tempo depois, as afirmações foram desmascaradas, mas o “estrago” já estava feito e a crença em alienígenas só tenderia a aumentar.
“Questões como a existência da vida ou de inteligência extraterrestre são empíricas, e não há meios de uma discussão teológica ou filosófica resolver de forma definitiva o debate.”
Casos marcantes e mais recentes também moldaram a visão que temos sobre os extraterrestes. O clássico relato de abdução alienígena – com perda de memória, implantes, etc – foi concebido a partir dos depoimentos do casal Hill, que em 1961 afirmou ter feito contato com os seres, que tinham descrição similar ao que hoje se chama de Greys. Apesar de na época eles não terem procurado fama com o relato, e exames psicológicos e hipnóticos isolados terem apresentados os mesmos detalhes, ainda hoje acredita-se que o casal tenha formulado o depoimento por influência de filmes e séries que já estavam explorando o lado comercial dos Alienígenas. Outro caso marcante que também até hoje é objeto de mistério é o caso Roswell, talvez o mais famoso da história ufológica americana. Moradores locais afirmam que foi um disco voador que caíra por lá, enquanto o governo afirma ter sido um projeto ultra-secreto conhecido como Mogul. Verdade ou não, a questão é que há muita controvérsia sobre o caso, de ambos os lados.
Gostei bastante dessa primeira parte do livro pois traz várias novidades que eu não sabia, como por exemplo, do relato de abdução do casal Hill ou mesmo sobre o projeto Mogul (ainda que eu soubesse muita coisa sobre o caso de Roswell). Para completar, fiquei ainda mais satisfeito com os dois capítulos finais dessa primeira parte, pois traz um resumo dos principais livros e filmes que tratam do assunto, como por exemplo, o clássico Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, que foi o primeiro livro a dar aos alienígenas uma personalidade terrorista e maléfica. Também cita outro clássico, Uma Princesa de Marte, que originou o filme John Carter: Entre dois mundos. Alien: o oitavo passageiro, 2001: Uma Odisséia no Espaço, Transformers, além dos icônicos O Dia em que a Terra Parou, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Arquivo X, Doctor Who, Star Trek, Star Gate e Star Wars estão todos presentes. O bacana é que nessa relação pude perceber a evolução dos extraterrestres, de seres do mal à seres benevolentes (como os da recente produção A Chegada).
“Sem sombra de dúvida, os fãs de Jornada nas Estrelas formam o fandom mais bem conhecido de toda a história da ficção científica.”
Nos três capítulos finais, entretanto, Don muda o tom da escrita e procura trazer a visão científica sobre o assunto. Seria possível haver vida alienígena similar a imaginada pelo público? Será que um Alienígena seria parecido com os seres humanos? Para responder a essas e outras questões, o autor começa apresentando uma lista de opções que podem ser mensuradas e/ou descartadas. No fim, com as poucas opções que sobram, começamos uma verdadeira jornada científica desde a pré-história terrestre até os dias atuais. A antiguidade da Terra foi muito esquisita, e haviam seres tão estranhos que hoje dariam bons alienígenas para livros e filmes. Entretanto, estudar o nosso próprio passado nos ajudará a determinar o futuro. Se queremos encontrar vida em outro planeta, primeiro precisamos saber como ela se originou por aqui, quais elementos que a formaram, em quais condições surgiu. Biologia, química, física e geologia se juntam para tentar solucionar o enigma da vida.
Após expor todas as possibilidades científicas, o autor concentra o último capítulo para explorar e questionar porque ainda não encontramos vida alienígena. Para isso, são apresentadas algumas equações matemáticas que explicam – ou tentam – as razões de a vida ser tão complicada de se identificar. Entre as equações mostradas, a mais famosa, creio eu, é a Equação Drake. Essa equação leva em consideração vários fatores, como por exemplo, quantidade de estrelas na galáxia, quantidade de planetas com zona habitável, quantidade de planetas com água líquida, etc. Essa probabilidade matemática, inclusive, derivou de um famoso paradoxo, chamado de Paradoxo de Fermi. Segundo esse paradoxo, a Terra é um planeta típico no universo, logo, outros similares devem existir. Se for assim, a vida também deve existir nesses planetas. Mas se os dados indicam algo comum, a vida alienígena já deveria ter sido encontrada. Mas até agora… só encontramos a nós mesmos.
Ou estamos realmente sós no universo, ou estamos pesquisando de forma incorreta. O autor finaliza o livro ainda trazendo uma lista de leituras sugestivas sobre o assunto, desde ficções científicas (como Guerra dos Mundos, de H. G. Wells), quanto livros não-ficcionais (como The Demon-Haunted World, de Carl Sagan).
“Se em algum momento decidirmos sair do Sistema Solar e viajar para as estrelas próximas, o que encontraremos? Estamos sozinhos no universo ou um dia nos juntaremos a uma galáxia cosmopolita, como apenas mais uma espécie entre muitas?”
Eu gostei muito desse livro e recomendo a leitura, principalmente se você gosta da temática. Para mim, o livro agregou bastante coisa nova e trouxe curiosidades interessantes sobre a nossa percepção dos aliens e sobre sua evolução nos últimos anos. Além disso, com os dados científicos apresentados, fica mais claro a distinção entre ficção e realidade. Ainda que o tema alienígena seja empolgante, há muita fraude e se as informações não forem filtradas com rigor, podemos cometer equívocos perigosos. Mesmo assim, a ciência continua confiante de que em pouco tempo poderemos de fato responder a questão de se estamos sós ou não no universo. Mas, enquanto isso não acontece, cabe à ficção científica realizar o nosso sonho e nos confortar com a companhia de nossos amigos (ou inimigos) estelares.
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