Paulo 05/06/2021
Esse quarto volume é o último da história principal da série. Os outros dois são contos com os cientistas. E dá para perceber que este é o último porque de certa forma eu senti um certo cansaço na hora de fechar o enredo. Os dois primeiros volumes são sensacionais e o terceiro tem umas ideias de virar a nossa cabeça. Esse quarto achei bem fraco se comparado aos primeiros. Hickman parecia estar arrastando o enredo e até apresenta um capítulo sensacional no meio de tudo, mas mesmo assim não me encantou. Precisei até reler para pegar algumas ideias dispersas.
Cuidado!!! Tem spoilers!!!
Esse quarto volume é bastante focado em dois personagens: Einstein e Oppenheimer. E eles representam dois sentimentos distintos vindos da ciência que são o poder absoluto e a curiosidade. Algo bastante curioso na série como um todo é que Hickman não estabelece uma divisão maniqueísta sobre quem é bom ou quem é ruim. Digamos que até certo ponto todos os cientistas são bem ruins na medida possível. Eles não se arrogam fazer algo maligno para cumprirem sua agenda. As disputas de poder estão mais em que direção o Projeto Manhattan vai se colocar no futuro. Oppenheimer procurou vender o programa para uma nação soberana que o permitisse fazer o que quisesse. Já Einstein tem uma curiosidade mórbida pela grande ciência. Não quer se atrelar tanto ao que as nações desejam e se concentrar naquilo que sua mente deseja ir atrás. Quem pensa que essas são noções contraditórias se engana porque em determinado momento Einstein faz uma ação que coloca todos em xeque e demonstra que essas são posições que podem facilmente trabalhar juntas.
Feynman e Einstein são apresentados como uma espécie de dupla dinâmica por todo o volume. Indo atrás de espécies alienígenas as mais diversas em busca de partes que possam ajudá-los a pesquisar uma maneira de evoluir o ser humano. Algumas das aventuras vividas por eles são bizarras. Esses são os momentos em que a arte de Pitarra descamba para aquela noção de azul e vermelho. Os cenários são completamente coloridos tendo essas duas cores como base. Quando estas cores tratavam de Oppenheimer demonstravam as diversas facetas de sua personalidade (já vamos discutir isso). No caso aqui, existe um mistério sobre a própria figura de Einstein que só vamos entender nos últimos capítulos. O cientista fica ainda mais maluco nesses capítulos e vemos algumas cenas onde eles colocam a própria vida em segundo plano. Algumas tiradas do Feynman são sensacionais. Uma pena que o Hickman não explorou mais a relação dos dois. Podia dar algumas aventuras bem interessantes ainda mais porque o Einstein não está nem aí para um senso de moral.
A ideia do Einstein de fantasia foi estranha, para dizer o mínimo. Como elemento de roteiro para provocar uma mudança no que estava acontecendo ao grupo que se encontrava nas mãos de Oppenheimer, achei forçado demais. De um nível de deus ex machina que beira o insano. Não gostei e acho que nem o próprio Hickman deve ter curtido. Mas, ele embarcou na viagem de ácido e nos coloca um Einstein agindo em um mundo onde as noções de magia e ciência são trocadas. Para poder fugir daquele lugar, Einstein vai precisar aprender... feitiços. A cena dele invocando uma bola de fogo me levou às gargalhadas, mas me incomodou. Porque a premissa da série é o de ciência levada para o mal e temos até momentos de conspiração baseados em um contexto e Guerra Fria. E todo esse desenvolvimento caberia em uma série de comédia que não se levasse tão a sério. Quebrou a minha expectativa total. Achei divertido, brincou com a contradição magia/ciência, mas me pareceu forçado.
Mas, vamos falar do elemento de enredo que achei sensacional que foi a mente fraturada de Oppenheimer. No volume anterior, Hickman revelou que Oppenheimer na verdade é a sua mentalidade Jonathan mesclada com a de seu gêmeo que não sobreviveu ao parto. O contato com a física estranha desenvolvida no projeto fez com que a mentalidade adormecida de seu irmão despertasse e buscasse ganhar espaço em seu cérebro. Enquanto o Oppenheimer original ia ficando cada vez mais insano, o seu irmão fornecia o equilíbrio. Mas, chegou um momento em que a mente pendia cada vez mais para a insanidade. O capítulo 19, com o título sugestivo de Oppenheimers Finitos, lida com uma guerra que acontece no inconsciente do personagem entre as duas facções buscando a dominância. Capítulo extremamente divertido e repleto de simbolismos que o leitor vai querer pescar. Por exemplo, o lado do Oppenheimer original é inteiramente voltado para a exploração do ego como algo grandioso e gigante, portanto sua representação é um Oppenheimer kaiju. Do outro, o irmão Jonathan busca reunir os esforços de vários exércitos para deter o seu irmão. O capítulo vai ficando cada vez mais maluco até a decisão final.
O final da série é tão abrupto que fiquei sem entender. Hickman não dá exatamente uma noção de desfecho tendo apenas finalizado determinadas situações específicas deste volume em particular. Fiquei sem saber acerca de várias situações que vinham acumuladas do volume anterior como o omnipresidente, os alienígenas presos dentro das instalações e até mesmo o futuro do grupo. Ou seja, Hickman opta por algo mais aberto deixando a imaginação do leitor. Por isso que fiquei frustrado quando descobri que o volume 5 parte de outras histórias e essa aqui realmente é o desfecho. Continuo sendo um fã do trabalho do roteirista, mas nas vezes em que ele erra, ele erra de forma espetacular.
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