Ladyce 06/07/2018
É um projeto ambicioso O Caminho de Casa de Yaa Gyasi, com tradução de Waldéa Barcellos, no Brasil. Mas ficou aquém das minhas expectativas dado o volume de aplausos aqui e no exterior à obra. O livro permanece em voga, não por sua qualidade literária, mas pelo fôlego requerido ao abordar o tema: a história de africanos nos últimos quase 300 anos. Yaa Gyasi contrasta aqueles que permaneceram na África, no século XVIII, com os que, escravizados, chegaram ao Novo Mundo. Retratadas estão as gerações dos descendentes das meias irmãs Effia e Esi: uma permaneceu na África, outra veio para o Novo Mundo como escrava. Linhagens separadas que se espelham nos dois lados do Atlântico. “E na minha aldeia nós temos um ditado sobre irmãs separadas. Elas são como uma mulher e a imagem do seu reflexo, condenadas a ficar cada uma de um lado do lago.” [65]
A maior objeção que tenho é o formato. Ele dá a sensação de uma trama picadinha. Porque cada capítulo é uma história completa e pertence a um personagem descendente das meias irmãs. Portanto, não há seguimento. Trata-se, de fato, uma coleção de pequenos retratos, perfis de vidas sofridas, cá e lá, que não dão continuidade, não formam uma história coesa. Este formato leva o leitor a repetidamente consultar as árvores genealógicas dos retratados para se situar na leitura. Além disso, o romance que se propõe a ser histórico sofre de pesquisa limitada, de descrição superficial dos diferentes costumes, hábitos e até acontecimentos históricos mundiais que ajudariam o leitor a se localizar na narrativa e enriquecer a visão de época. Preocupada em contar a história dos que não têm voz, “ ...quando se estuda História, é preciso sempre fazer perguntas. Que história não está sendo contada? De quem é a voz que foi reprimida para que essa voz pudesse se fazer ouvir?” [337] Yaa Gyasi pecou por não posicionar melhor no tempo,, nos hábitos e costumes de cada era e de cada terra, o que acontecia, para enraizar a trama no conteúdo geral da história.
A coleção de contos, não permite que tenhamos simpatia por qualquer personagem, por mais do que algumas dezenas de páginas; no entanto é rica em acontecimentos, repleta do padecer típicos séculos XIX e XX, e recheada de lágrimas e sofrimento pessoais para cada um dos diversos personagens. Se você aprecia um drama sequencial, se gosta de contos variados, que partem o coração, talvez este seja um livro de que goste. Mas não é a obra prima que se descreve no momento.