GSikora 08/08/2017
Que a sua travessia seja agridoce
Um dia na sala da minha casa em um encontro de amigos, um deles disse: “Estou escrevendo um livro”.
Aquela frase foi dita assim em meio a uma conversa sobre as obras de Tolkien, de HP Lovecraft e Bernard Cornwell. Na época eu estava relendo o Silmarillion pela 4ª vez (pretendo ler uma 5ª e não descarto ainda mais) e queria iniciar as crônicas saxônicas. Conversa vai, conversa vem, este amigo solta uma pitada do que estava previsto em sua obra: “Um grupo de pessoas acorda em um local desconhecido e sem nenhuma memória de quem são, onde estão e seguem em busca de sobrevivência e respostas. Tudo envolto em mistério, violência, batalhas, sangue, canibalismo, fantasia e um mundo caótico”.
A próxima pergunta foi: “Quando você lança a obra?!”
Compartilhando gostos em comum com o amigo e autor Adams, aquela fumaça do que continha seu livro já me deixou ansioso. Desde então a cada encontro a pergunta sempre era repetida: “Ei cara, e o livro?”.
Confesso que havia uma expectativa de em algum momento ele liberar as páginas para uma leitura em primeira mão tamanha a ansiedade para ler, pois o que ele soltava sobre a trama me deixava muito curioso e certo de que iria gostar.
Eis que chegou o anúncio de que iria lançar o projeto no Catarse e com o anúncio começaram a aparecer imagens, detalhes das recompensas de apoio, textos de apoio ao universo do JDF... enfim, a expectativa foi aumentando, o projeto saiu, apoiei de imediato e semanalmente acompanhava o avanço. Compartilhava minha ansiedade com o Adams que devia ter sua carga de própria. O principal é que deu certo! O projeto foi um sucesso. Os apoiadores receberam a versão digital por e-mail e algumas semanas depois houve o lançamento/noite de autógrafo na Leitura do RioMar com a entrega da versão física + brindes.
No mesmo dia eu li o prólogo, mas eu tinha uma dívida de leitura com a chefe (@hannahdiniz) e eu já estava engajado no ‘Cem anos de solidão’ depois de ter devorado em sequência as crônicas saxônicas. O JDF teve que esperar um pouco, pelo menos até eu jogar a toalha na leitura em espanhol do outro título (vou retomar agora em pt-br, o livro é muito bom também).
Eis então que retomei a leitura e adentrei o Jardim. Lá habitei por cerca de 3 semanas. De início em doses homeopáticas por falta de tempo para dedicar à leitura, mas na última semana eu assumi minha carranca de traça e devorei mais da metade da obra para finalizar este volume. Digo desde já: quero o próximo!
Vamos então ao Jardim de fato:
Aquela “pitada” do que é/tem o Jardim que o próprio autor me disse no início é a melhor síntese que se pode dar sem causar spoliers: “Um grupo de pessoas acorda em um local desconhecido e sem nenhuma memória de quem são, onde estão e seguem em busca de sobrevivência e respostas. Tudo envolto em mistério, violência, batalhas, sangue, canibalismo, fantasia e um mundo caótico”.
A escrita se mostra viva e intensa desde o prólogo. Imersiva. Detalhista no ponto certo. Você vê, você escuta, você sente. As cores, o aspecto, as formas e os sons. Você acordou e está no Jardim, naquele mundo, no caos interno e no caos a sua volta.
Sabe aquele filme que a primeira frase importa para o restante da obra? Assim ocorre no Jardim dos Famintos! É interessante como tudo vai se encaixando onde no princípio havia apenas incertezas e mistérios. Desde o começo a narrativa faz você ficar pensando nos motivos e o porquê das coisas serem como são, sem no entanto desapontar quando mais e mais capítulos vão chegando.
O livro tem muito sucesso em colocar diversos personagens principais e não fazer com que um ofusque o outro. Todos são fundamentais, todos se completam juntamente com os demais personagens e o ambiente. Há doses de fantasia, de realismo, de suspense, de terror, de violência e sentimentos que montam um todo coeso, mas que não são entregues de mãos beijadas. O leitor vai construindo suas hipóteses e sendo agraciado com novas descobertas, gerando apreço por alguns e ódio por outros. Ao longo do texto há altos e baixos de tensão e os sentimentos vão oscilando. A troca de capítulos favorece isso, destacando acontecimentos aqui e acolá como se fosse uma prensa, um buraco negro tragando os cacos para um clímax.
O prólogo te deixa com vontade de avançar.
Os primeiros capítulos de deixam com dúvidas do que raios está acontecendo.
Os intermediários vão colocando as coisas no lugar.
Nos finais você já está embarcado no trem e as folhas passam em busca dos próximos acontecimentos e explicações.
No epílogo você pede pelo próximo volume, pelo manual do mestre e o livro dos jogadores, você quer entrar nesse universo, você quer fazer parte!
Influências:
Não acho que haja cópia de estilo de outros autores, mas sim influência em alguns aspectos.
HP Lovecraft aparenta estar presente na forma de entidades de terror, criaturas e um certo ar místico de algumas coisas.
Cornwell ensinou o autor na forma de escrever batalhas e combates que você consegue de forma fácil enxergar a ação.
Fui tomado por um ar de lembranças à Caverna do Dragão e Stargate em alguns momentos, mas como disse, não há cópias. É a minha experiência frente à obra que me remete à estes outros universos.
Nota: 5/5
Leria novamente: Sim
Recomenda a leitura: Sim