Queria Estar Lendo 24/08/2017
Resenha: Amor e Gelato
Aquela dor no coração de ter esperado muito tempo por um livro e se deparar com uma decepção: teve aqui. Amor e Gelato estava na minha listinha de PRECISO LER fazia um tempo, mas acabou que eu poderia ter passado sem ele.
Lina se muda para a Itália depois da morte da mãe; tudo o que ela sabe é que a mãe queria que ela fosse para lá, para conhecer o país que foi tão importante em sua vida, e que vai passar esse verão na companhia de Howard - melhor amigo de sua mãe e coincidentemente, seu pai. Ou será mesmo? Lina descobre alguns diários antigos da mãe onde ela contava suas aventuras ali em Florença, e o diário dá a entender que existe um mistério sobre quem é de fato o pai de Lina.
"Se parecer bom demais para ser verdade, provavelmente é mentira."
Quem diria que uma quote diria muito sobre minha experiência de leitura. O resumo fez parecer um mistério legal? Se fez, acredite, não foi.
Eu estava louca para ler esse livro porque tem Itália, promessa de um romance fofo e o que parecia ser a premissa de um young adult descompromissado, do tipo que a gente lê para ficar feliz - estilo Anna e o Beijo Francês. Não teve absolutamente nada disso.
Para começar, a Lina é insuportável. Acho que desde O Garoto do Cachecol Vermelho eu não me irritava tanto com uma protagonista. Ela é desrespeitosa, mesquinha e bastante egoísta. Lina chega em Florença cheia dos julgamentos, olhando e achando tudo bizarro demais para a vida dela. Como assim o Howard mora em um cemitério criado para os soldados da Segunda Guerra Mundial? Isso é horrível. Como assim ele sabe falar italiano mesmo morando na Itália há 28957239 anos? Que estranho. Como ele e a minha mãe se conheceram? Não sei, vou ler um diário durante o livro todo em vez de perguntar para ele.
Juro. Que. Isso. Acontece.
A Lina tem todas as informações à mão e prefere desenvolver as próprias teorias a respeito do passado da mãe. Foi a trama de mistério mais insossa e previsível que já li na vida; em vez de a autora usar esse espaço para contar logo a verdade e desenvolver o emocional dos personagens e seus relacionamentos, ela prefere manter tudo dentro da cabeça da Lina, com suposições toscas e inconcebíveis e relações bobas. O Howard foi o melhor personagem dessa birosca e a Lina tinha tudo contra se aproximar dele, porque queria entendê-lo através dos diários da mãe primeiro.
QUÊ? Sim, eu entendo o luto dela, mas em momento algum isso me convenceu como o motivo para todo esse drama desnecessário. Lina foi absurda, tratando o Howard com "mesquinhez" quando podia ter sido madura, sentado e falado com ele sobre todas as dúvidas que tinha a respeito daquela história. Inclusive podia ter mostrado o diário para entender quem era a mãe ali na Itália.
Sem esse mistério, seria outro livro. Um mais suportável, com certeza. Porque isso se arrastou pelas 320 páginas de uma maneira argh. Não teve aprofundamento das emoções da Lina. Ela era um robô narrando seus sentimentos e dúvidas. E, de novo, que protagonista mais rude. Além do fato de ela ter saído de um buraco de minhoca, porque pra nunca ter ouvido falar de gelato, só assim (sério, gente, tem isso na minha cidade. Minha cidade tem 12 mil habitantes), ela tinha todas as opiniões certas sobre tudo. Porque "claro que ela era italiana, com aquela aparência" ou "claro que essa garota é mesquinha e idiota porque é esbelta e está namorando o carinha fofo pelo qual eu tenho interesse".
E ah, sim, teve rivalidade feminina. Eu não aguento mais.
A garota aparece na frente da Lina e a Lina já tem toda uma opinião sobre como ela deve ser fria e se achar superior porque é alta, loira e esguia. E claro que o livro contribui pra isso, transformando a personagem da Mimi naquele típico esteriótipo que a Carina Rissi adora usar em seus livros: a rival que está namorando o mocinho. A rival que vai bater de frente com a protagonista porque "como assim você sorriu para o meu namorado?". Me mata e me poupa dessa papagaiada insuportável, por favor.
O resto da história foi bem automático. Não gostei de quase nada, exceto a Itália. Eu tentei, juro que tentei, mas os personagens coadjuvantes - exceto o Howard - foram ok? Ren, o amigo simpático que a Lina conhece logo no início do livro, foi o tipo de esteriótipo mecânico que não cola. Simpático e fofo, mas não o suficiente. Thomas nem deixou sensação alguma. Ele era o interesse amoroso bonitinho de um primeiro momento, mas se apagou tão rápido quanto apareceu. Os outros amigos de Ren foram só suporte superficial para o personagem e para a estadia da Lina ali, não senti conexão com nenhum deles.
E a melhor amiga da Lina, Addie, lá dos Estados Unidos, era tão mesquinha e desnecessária quanto a protagonista. Deus do céu, onde estão as personalidades com as quais a gente se identifica em livros do gênero?
Howard foi o único personagem interessante, e ele teve tão pouca participação que deu dó. Afinal de contas, de novo, culpa da Lina. Que preferiu dar as costas para ele e toda a história dele com a mãe e entender sozinha - e bem errado - tudo o que tinha acontecido no passado. Howard foi bem simpático e intuitivo, o tipo de pessoa que sabe respeitar o espaço das outras, que entende a necessidade de um momento a sós.
A edição da Intrínseca está impecável, é um livro adorável e pequeno, uma leitura bem rápida. Uma pena, infelizmente, que a leitura tenha sido enfadonha desse tipo. Não recomendo esse livro, mas, se você tem curiosidade, sempre vale a pena tentar. O que não funcionou para mim talvez funcione para outra pessoa.
No mais, aqui, só fiquei com a sensação de que todo o mistério foi um grande stronzo e que a Lina deveria va fa napoli.
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