Ricardo Santos 08/02/2018Assustador e instiganteA novela de Tade Thompson tem uma premissa que pode parecer interessante ou muito boba. Toda vez que Molly Southbourne, a protagonista, sangra, outra molly nasce em questão de horas, pronta para matá-la. O autor mostra que, em literatura, o que importa mesmo é a execução. Ele entrega ao leitor uma assustadora e instigante história sobre identidade e pertencimento. Primeiro, o livro funciona por ser curto. A intensidade dos eventos é que faz a gente se engajar nessa leitura compulsiva. Já que não existe exatamente uma trama. Acompanhamos a trajetória de Molly, da infância à vida adulta, sempre enfrentando outras mollys. Outro acerto do autor está na construção da personalidade da protagonista. Molly é uma garota complexa. Viciada em livros e treinada pelos pais em táticas de sobrevivência, ela tem um humor peculiar e um comportamento ora franco demais, ora reservado demais. O cansaço emocional e físico de sua condição, ao longo dos anos, com quedas e cortes, doenças, menstruação, perda da virgindade etc., tendo sempre que ficar alerta, enfrentar, quase morrer e matar seus clones a torna uma pessoa altamente questionadora, com uma visão de mundo desencantada. A violência do livro não é gratuita, tem uma razão de ser, mas é desconcertante. Mesmo sendo um texto curto, há bastante informação sobre diversos tópicos, como medicina, anatomia e técnicas de caça, que tornam a jornada de Molly mais vívida e detalhada. Ao final, questões importantes sobre quem Molly realmente é são respondidas, mas coisas ficam faltando, são deixadas pelo caminho, ou são resolvidas de maneira abrupta. Esta história merece uma continuação que traga mais respostas, expanda esse universo e apresente novas possibilidades.